Capítulo 3

Capítulo 3

Henrique Lancaster

Quando saí pra despedida de solteiro que meus amigos arrumaram, eu não tinha expectativa alguma. Na real, nem vontade eu tinha. Eu já estou no fundo do poço, sem luz, sem saída, sem sequer uma brecha pra respirar.

Amanhã eu me caso com uma mulher que não amo. Uma mulher que eu nunca desejei ao meu lado. Mas, por uma brincadeira cruel do destino, ou talvez pela minha própria estupidez. Engravidei Débora Lummertz depois de uma bebedeira e da insistência quase sufocante dela. E aí tudo que nossos pais sempre sonharam aconteceu: união perfeita entre duas famílias tradicionais. E a gravidez foi o estopim que faltava pra amarrarem meu pescoço de vez.

Débora… a patricinha mais mimada que eu já conheci. Minha futura esposa. E não existe absolutamente nada que eu possa fazer pra sair disso.

Cheguei na Glam com os caras. A casa estava lotada, como sempre. Luzes fortes, música vibrando nas paredes, gente demais, barulho demais… mas minha cabeça não estava ali. Na verdade, ela não estava em lugar nenhum. Eu não conseguia respirar pensando nesse maldito casamento.

Fomos direto pra área VIP, Robert, meu amigo de infância, é o dono da casa. Tudo liberado, como sempre. Whisky na mesa, risadas, comentários idiotas… e eu só me afundando mais na própria vida que nem fui eu que escolhi.

Eu já não sentia mais nada quando algumas garotas se aproximaram. Robert, claro, tinha chamado. O típico dele: contratar mulheres para distrair todo mundo numa despedida de solteiro. Ainda mais na minha, segundo ele, “o certinho da turma”. Eu não queria nada disso. Mas, dessa vez, resolvi me permitir. Pelo menos uma vez na vida.

E então elas apareceram.

Uma negra de olhos verdes tão marcantes que hipnotizavam. Uma loira dos cabelos longos e cacheados, com um sorriso provocante. Mas foi ela… a ruiva… quem destruiu meu eixo.

Cabelos longos, laranja como fogo recém-aceso. Olhos azuis tão intensos que, por um segundo, parei de respirar. Ela parecia mais tímida, mais recuada, e isso só a tornava ainda mais atraente. Me aproximei. O perfume dela… Deus. Aquilo entrou nos meus sentidos como uma droga. Me fez esquecer tudo. Me deixou vivo por alguns minutos.

Levei ela até o hotel da minha família, ali perto da Glam. Nem sei direito como chegamos. Só sei que, desde o elevador, meu corpo já reconhecia o dela como se fosse algo que eu buscava há anos.

Seu toque. Seu sabor. Seu jeito tão entregue e ao mesmo tempo tão misterioso… tudo nela exalava algo que eu não conseguia nomear. Talvez eu estivesse bêbado demais. Talvez fosse loucura. Ou talvez fosse simplesmente o que meu corpo e minha alma estavam implorando há meses.

Já fiquei com outras mulheres. Não muitas. Mas o suficiente pra saber que nenhuma, nenhuma mesmo, sequer arranhou o que aquela ruiva despertou em mim. Era como se o mundo inteiro tivesse sido trocado por ela.

Nossa noite foi intensa. Insana. Uma mistura de desejo, pele, gemidos, calor… e algo que eu não deveria sentir, mas senti.

Quando ela adormeceu, fiquei observando por um tempo. Eu deveria levantar. Deveria ir embora. Mas minhas pernas não obedeciam. Meu peito doía como se algo estivesse sendo arrancado de mim.

Juro… se Débora não estivesse grávida, eu cancelaria tudo naquela noite. Cancelaria casamento, festa, lua de mel. Cancelaria o mundo. Só para entender o que diabos aquela mulher tinha despertado em mim.

Mas eu não posso. Meu nome, minha família, a dela… tudo está em jogo. E eu não posso me dar ao luxo de desejar algo que nunca terei.

Assinei um cheque. Fiz a única coisa que um idiota faria. Afinal, no fim, tudo se baseava em dinheiro, né? Ou é isso que eu venho repetindo pra mim até hoje.

Saí. Pedi descrição na recepção. E deixei o hotel como se estivesse fugindo do próprio coração.

Voltei pro meu apartamento e desabei. Dormi. Talvez minhas últimas horas de paz.

Às três da tarde acordei com uma dor de cabeça infernal. Tomei analgésicos, me barbeei, e encarei o espelho. Atrás de mim, pendurado como uma sentença, o terno do casamento. A prova de que eu não tinha mais volta.

Me vesti. E logo a campainha tocou.

Robert e Gustavo.

— E aí, irmão, pronto pra se enforcar? — Robert disse rindo.

— Não. Mas é o que temos pra hoje…

— Aliás, vi você saindo com a ruiva ontem. Foram pra onde?

— Cala a boca, Robert. Você sabe bem. Você que as contratou.

Robert franziu a testa.

— O quê? De onde tirou isso? Tá maluco? Você disse que não queria nada disso, e eu respeitei. Elas são apenas frequentadoras da casa. Nada além.

Meu coração congelou.

Puta merda.

Puta que pariu.

O que ela deve ter pensado quando viu aquele cheque?

— Que merda… que merda! — esfreguei o rosto, andando de um lado pro outro.

— O que houve? — Gustavo perguntou.

— Eu tive a melhor noite da minha vida… e saí deixando um cheque.

Robert soltou um assobio.

— Aí fudeu. Mas… mano, pensa. Mesmo que ela ficasse encantada contigo, não teria futuro. A não ser que você quisesse uma amante.

Ele tinha razão. Mas não importava. Alguma coisa nela me importava. Me afetava. E eu nem sabia seu nome.

Eles continuaram falando das outras garotas, Beatrice e Carolaine. Eu nem isso sabia sobre a ruiva. Nada.

O casamento aconteceu exatamente ao pôr do sol. Débora estava linda. Irritantemente linda. Mas nada ali era meu. Nada era o que eu queria. Eu só aceitei.

A lua de mel foi longa. 15 dias nas Maldivas. Ela estava radiante, cheia de energia, fogo puro. Mas, toda maldita noite, para conseguir ir até o fim… eu imaginava a ruiva. Aquela ruiva. Era o único jeito.

E depois eu me sentia o pior dos homens.

Quando voltamos, minha mãe e a dela já tinham organizado toda a casa. Cada detalhe. Nem isso pude escolher.

— Bem-vindos, meus amores — minha mãe disse.

Eu agradeci, mas minha cabeça só gritava: quero sair daqui.

— Bom… acho melhor vocês ficarem com ela. Eu preciso ir trabalhar.

— Amor, você ainda tem folga…

— Não. Tenho coisas acumuladas.

Saí sem olhar pra trás.

No caminho para o escritório, passando pelo hospital central, algo mexeu comigo. Uma fagulha. Um estalo.

Uma moça ruiva entrou correndo pelas portas de vidro.

Ruiva.

Cabelos presos.

O mesmo jeito.

O mesmo andar.

A mesma energia que me tirou o fôlego naquela noite.

Meu corpo reagiu antes da minha mente.

FREIEI.

Bruscamente.

Quase bati no carro da frente.

Meu coração disparou tão forte que parecia querer sair do peito.

— Não… não pode ser… — sussurrei.

Mas era.

Eu sabia, eu sentia.

Sem pensar, estacionei o carro do jeito que deu e desci praticamente correndo. O hospital estava cheio, pessoas passando, enfermeiros indo e vindo, vozes ecoando pelos corredores. Mas nada disso importava.

Eu precisava ver seu rosto. Precisava confirmar que ela era real. Que não era coisa da minha cabeça.

Entrei pelas portas de vidro.

O cheiro forte de desinfetante me atingiu. A claridade branca quase me cegou. Mas continuei andando. Procurando. O coração batendo no pescoço.

E então…

Vi um rastro de cabelo ruivo dobrando no final do corredor.

Meu estômago virou.

Minha respiração travou.

— É ela… — murmurei.

Meu corpo inteiro reagiu, como se reconhecesse um pedaço que havia perdido.

Sem pensar, avancei pelo corredor, determinado, tomado por algo que eu não entendia, mas que jamais conseguiria ignorar.

Porque a ruiva estava ali.

A mulher que marcou minha vida em uma noite.

E eu… estava prestes a encontrá-la de novo.

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