EnricoEnrico saiu de dentro do quarto, deixando Giulia completamente relaxada sobre a cama. Ainda a madrugada escurecia o dia, mas ele não podia mais adiar as coisas, a sensação de ansiedade apertava seu peito, mas ele gostava, já tinha sentido isso antes...Foi para o seu escritório Enrico discou no telefone criptografado. O toque soou apenas uma vez antes de ser atendido.— Fala. — A voz de Guilhermo veio firme, ainda que baixa. Sempre alerta, mesmo no meio da madrugada.— Prepare tudo. O casamento vai acontecer. Ainda este mês.Um silêncio carregado caiu do outro lado da linha. Quando Guilhermo respondeu, sua voz trazia algo entre preocupação e lealdade.— Você tem certeza disso?— Tenho. — Enrico apoiou o cotovelo no braço da poltrona, encarando a escuridão além da janela. — Não é mais sobre o velho, ou sobre orgulho. É sobre ela. Quero Giulia perto. Por inteiro. Quero que todos saibam que ela me pertence... e que eu pertenço a ela.— E você acha que isso vai protegê-la ou coloc
A casa de Francesco era o retrato perfeito de um homem que tentava parecer maior do que era. As paredes carregadas de quadros genéricos, as taças de cristal exibidas numa estante imponente e os tapetes vermelhos pareciam clamar por respeito, mas não enganavam ninguém. A máfia dos Estados Unidos já havia virado as costas para ele há anos. Era um nome irrelevante que sobreviveu por favores, não por mérito. Um fantoche. Um oportunista.Victorio empurrou os portões com força, entrando sem ser anunciado. O caminho pelo jardim escuro foi percorrido em passos furiosos, como se cada passo fosse a contagem regressiva para uma explosão.A porta já estava entreaberta. Francesco o aguardava, como um rato que sabia que seria encurralado, mas ainda tentava parecer no controle.— Que visita inesperada... — disse ele, do sofá, sem levantar. Usava um robe exagerado e segurava uma taça de vinho, como se encenasse um papel que ninguém mais acreditava.— Você é um verme — disse Victorio, entrando com os
O nome Donovan Callahan ainda era um sussurro de respeito entre os corredores úmidos dos pubs de South Boston. Um homem que jamais precisou erguer a voz para ser temido. O consigliere irlandês era a ponte entre os códigos antigos e os negócios modernos da Irish Mob — um conselheiro leal, impiedoso com os inimigos e devotado à família. Até o fim. Mas o fim não veio pelas mãos de um rival digno. Donovan foi morto nas sombras, por ordens externas, longe do campo de batalha. Uma traição suja, encomendada por alguém que o via como obstáculo. Alguém covarde o bastante para não encarar um Callahan de frente. Na manhã em que a notícia chegou, sua esposa Maureen ainda dormia com os filhos nos braços. Conor e Caelan, gêmeos idênticos de olhos verdes e cabelos negros como o pai, tinham dois anos e meio. Maureen soube no mesmo instante que a ausência de Donovan seria permanente. Não precisou de explicações. A Irish Mob, por respeito à memória do consigliere, jurou proteção à viúva e aos menino
ValerieValerie nunca imaginara que um dia cruzaria as portas de um lugar como aquele. A mansão dos Bianchi era a materialização de tudo o que ela havia ouvido falar sobre a família — sombria, imponente, e de uma riqueza que cortava como uma lâmina. Cada passo dado dentro daquela casa parecia reverberar não só em silêncio, mas também em poder. As paredes de pedra, escuras e forradas com tapeçarias antigas, pareciam observar sua presença enquanto ela percorria os corredores largos, onde candelabros de cristal pendiam como estrelas de um céu que ela nunca imaginou alcançar.Ela estava ali apenas por sua filha, Giulia, que, para sua surpresa, estava agora inserida nesse mundo. Valerie sentiu o peso da mudança, o dilema entre proteger sua filha e aceitar esse destino que parecia se impor sobre ela. Porém, mais do que isso, ela sentia o desconforto de estar em um lugar onde não se encaixava. A mansão era de Enrico Bianchi, o Don sombrio e reservado, com quem sua filha se envolvera de manei
Victorio— Está demorando demais, Victorio. Essa criança vai nascer antes que possamos fazer qualquer coisa — disse Donatela, sentada na varanda de sua velha vila italiana, com um cigarro entre os dedos e o olhar perdido nas colinas cobertas de vinhedos.Do outro lado da linha, Victorio soltou um suspiro. Os ruídos da cidade americana formavam um pano de fundo constante — buzinas, passos apressados, o eco de uma realidade que contrastava com a quietude impregnada de rancor da Itália.— Eu não sou onipotente, Donatela. As coisas aqui seguem um ritmo próprio. Preciso manter a aparência, movimentar papéis, visitar galerias, lidar com colecionadores. — Sua pausa foi breve. — Ninguém desconfia de um homem que negocia arte.— Ninguém desconfia porque todos lhe devem favores. — Ela tragou lentamente, expirando a fumaça com desdém. — Você transita entre continentes como se estivesse num jogo de tabuleiro. Enquanto isso, eu permaneço aqui. Esquecida. Como sempre fui.Victorio soltou uma risada
Giulia e EnricoGiulia estava sentada à beira da piscina, as águas azuis refletindo o céu nublado. Giacomo brincava perto dela, seus risos suaves como música. Enrico, como sempre, aparecia nas horas mais inesperadas, trazendo consigo sua aura de poder. Desde o jantar que a marcou como sua noiva diante da máfia, Giulia sentira-se em um limbo. A gravidez, embora ainda nas fases iniciais, alterava seu corpo e sua percepção. Ela sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. E, talvez, parte de sua mente se rebelasse contra essa nova realidade. Mas quando Enrico entrava em cena, toda a sua resistência desvanecia. Era inevitável.Ela olhou para ele, seus olhos encontrando os dele por um breve momento, antes que ele, com seu habitual passo firme, se aproximasse."Giulia," sua voz suave, mas autoritária, fez com que ela levantasse automaticamente. A gravidade de suas palavras pairava no ar, densa. "É hora de começarmos a agir de acordo com o que somos. Não estamos mais apenas esperando pelo be
Continuação...O mundo parecia girar em câmera lenta enquanto Valerie corria até o corpo caído de Giulia no asfalto. Seus gritos cortavam o ar frio da manhã, ecoando como punhais invisíveis na alma dos que testemunhavam a cena."Giulia! Não, minha filha, por favor!"Valerie se ajoelhou ao lado dela, as mãos trêmulas tentando tocá-la sem machucá-la ainda mais, lágrimas correndo descontroladamente por seu rosto. A multidão começava a se aglomerar, mas ninguém ousava se aproximar. Era como se o desespero de Valerie criasse uma barreira invisível.Seguranças surgiram quase imediatamente, reconhecíveis pelos olhares atentos e a postura ameaçadora. Eles tentaram, com todo o cuidado, afastar Valerie, mas a mulher se agarrava a Giulia como se pudesse trazê-la de volta à vida apenas com seu amor de mãe."Senhora, senhora, calma, já avisamos o Don... Ele está a caminho!" disse um dos homens, tentando conter o próprio nervosismo. Sabiam que, quando Enrico soubesse, o inferno se abriria sob seus
Gêmeos Calahan Caelan e Connor Calahan cresceram com uma única certeza: seu pai, Donovan Calahan, fora morto por Francesco Moretti, um homem de sangue italiano, mas nascido e criado em solo americano. Durante anos, essa verdade ficou soterrada pela autoridade de Maurrien, sua mãe, que, mesmo devastada, nunca permitira que os filhos buscassem vingança. Mas agora, a verdade finalmente viera à tona — Victorio, como uma serpente, sussurrara em seus ouvidos. E o que começaram como investigações discretas, rapidamente se tornaram um redemoinho de revelações. Nos arquivos escondidos da velha rede mafiosa de Boston, descobriram documentos antigos, relatos abafados... não apenas Francesco assassinara seu pai, mas a história toda era ainda mais suja. Donovan, anos atrás, tivera um caso com Valerie — a mãe de Giulia. Quando Maurreen descobriu a traição, não explodiu em fúria. Não. Ela arquitetou sua vingança. Ao invés de confrontá-lo, deixou-se envolver "aparentemente" por Francesco, a