Cheguei à porta da cozinha e dei de cara com um par de olhos castanhos, grandes e assustados. A nova babá estava sentada à mesa, as mãos envoltas numa xícara, como se o calor do chá fosse a única coisa mantendo-a no lugar.
— Boa noite, senhor — disse baixo, quase como se temesse quebrar o silêncio.
— Boa noite — respondi, firme, indo direto ao armário em busca de um copo.
A cozinha estava mergulhada num silêncio denso, quebrado apenas pela respiração dela e pelo leve tilintar da colher na xícara. Um saquinho de chá aberto repousava ao lado, denunciando o que ela bebia.
— Costuma ficar acordada até tarde? — perguntei, enquanto enchia o copo no filtro.
— Não conseguia dormir — respondeu, pousando a xícara com um suspiro. — Primeira noite fora do orfanato.
Assenti, sem tirar os olhos dela.
— Imagino — falei, seco.
Ela baixou o olhar, como se tentasse se esconder de um julgamento, e talvez fosse exatamente isso que eu estava fazendo.
— Logo se adapita — falei, apoiando o copo na pia.
— É