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Seus olhos eram tão intensos quanto a voz. Avaliavam cada centímetro meu como se estivessem procurando falhas em um produto novo. Meu coração bateu mais rápido, e senti uma pontada de nervosismo subir pelo meu peito.

 

— Alana, certo? — perguntou, a voz baixa e objetiva.

— Sim, senhor.

— Regina disse que você foi indicada pela agência e tem boas referências. Não gosto de trocas frequentes. As últimas não duraram muito.

— Pode ficar tranquilo. Sou muito responsável. Tenho experiência e gosto de crianças.

 

O olhar dele permanecia impassível, quase mecânico, mas ao mencionar a filha, vi algo humano atravessar aquela frieza, um lampejo de preocupação ou dor. Rápido, mas intenso.

 

— Ela é tudo pra mim. A pessoa mais importante da minha vida.

 

Engoli em seco, tentando absorver o peso daquela responsabilidade.

 

— Seu trabalho é garantir que ela esteja segura, feliz, e com uma rotina equilibrada. Regina cuida do resto, mas tudo que envolver a minha filha, você trata diretamente comigo.

— Entendido.

— Nada de sumir com o celular, vídeos infantis por horas ou ignorar quando ela fala. Ela é esperta e percebe tudo.

 

Assenti, sentindo a pressão aumentar. Era mais do que apenas uma babá; era ser responsável pelo mundo de uma criança que claramente tinha o chefe como universo.

 

— Não gosto de surpresas, se acha que não dá conta prefiro que digo logo do que me decepcionar depois. — Falou direto com um tom que me fez engolir seco. — Alguma pergunta?

 

Por um instante, pensei em perguntar se ele já tinha sorrido alguma vez na vida. Mas me contentei em balançar a cabeça negativamente.

 

— Preciso que assine isso. — Ele colocou um papel e uma caneta à minha frente. — É um contrato de confidencialidade. Você não pode expor minha filha, nem ninguém dessa casa. Se alguém da imprensa te procurar, não dê declarações. A não ser quando for instruída sobre algo específico, mas, nesse caso, falaremos com você antes.

— Certo — respondi, ainda lendo o documento com atenção.

Assim que terminei a leitura, assinei onde ele indicou. Levantei os olhos e, novamente, aquele olhar frio me atravessou, provocando um arrepio que subiu até meu pescoço.

— Pode ir. Regina vai te levar até a Livia e te passar o cronograma da casa.

 

Ele voltou a digitar, e ficou claro que a reunião tinha acabado.

 

Levantei devagar, com a sensação de quem acabou de fazer uma prova e tirou nota cinco. Não foi um desastre, mas também não dava pra comemorar. E eu tinha certeza de que Regina ia me lançar aquele olhar de reprovação de quem esperava um desempenho melhor.

 

Ela estava, aliás, plantada na porta como uma estátua de vigilância. Sem dizer nada, apenas virou e começou a caminhar pelo corredor. Fui atrás, subimos até o segundo andar e paramos em frente a um dos quartos, exatamente ao lado do meu.

 

— Oi, Livia — Regina chamou com uma doçura surpreendente e entrou no quarto. A menina sorriu pra ela, mas ficou séria quando me olhou.

— Essa é a Alana. Ela vai ser sua babá agora.

— Cadê a tia Isa?

— A tia Isa não pôde vir mais, por isso o papai chamou a Alana pra cuidar de você, tá bem?

Livia me observou por alguns segundos, depois voltou a brincar com suas Barbies. Sorri e me abaixei para ficar na altura dela.

— Oi, Livia. A gente vai se divertir bastante juntas.

 

Ela me analisou por alguns segundos e, sem dizer uma palavra, voltou a brincar com as Barbies que estavam no seu colo.

 

Regina, então, apontou para a cômoda ao lado.

 

— Aqui tem tudo o que você precisa saber — disse, mostrando uma pilha de papéis. — Qualquer dúvida, pergunte pra mim.

— Sim, senhora.

— Se atente aos compromissos dela. Não pode haver atrasos.

— Ok.

 

Regina saiu sem dizer mais nada.

 

Sentei-me na cama e comecei a ler os papéis, respirando fundo. A rotina da Livia era intensa: aulas de inglês, espanhol, natação, música e dança, horários exatos para acordar, dormir, comer, brincar — até passear com o cachorro tinha hora marcada. Espera... cachorro?

 

— Espero que ele seja amigável. E pequeno — murmurei, lembrando-me de perguntar sobre o cachorro mais tarde.

— Vamos nos arrumar pra aula de natação? — falei, tentando soar animada e não tive nenhuma resposta — Lívia querida, vamos nos arrumar?

 

Ela se levantou sem me olhar e foi em direção ao banheiro. Respirei fundo e a segui, ajudei-a a se preparar, organizei minha própria mochila e, ao fazer isso, observei o quarto digno de uma princesa. Paredes lavanda, papel de parede com pequenas coroas douradas, cama com dossel, estante cheia de livros e bonecas, penteadeira iluminada e um tapete felpudo em forma de coração. Fiquei boquiaberta. Tudo tão pensado, tão... encantado.

 

Descemos as escadas e encontramos o motorista esperando. Livia caminhava com passos decididos, carregando sua mochilinha como uma mini adulta. Respirei fundo. Meu primeiro dia na mansão tinha oficialmente começado.

 

A aula de natação correu bem. Precisei entrar na água para ajudá-la, mas felizmente sei nadar. No orfanato, havia uma piscina doada por uma empresa, um dos poucos luxos que tivemos.

 

Depois, dei banho nela e tomei um rápido. Silvio nos esperava na porta do clube, conversando de forma leve. Diferente do chefe e da governanta, ele parecia humano, tranquilo, amigo.

 

Chegando à mansão, levei Livia direto ao quarto dela, guardei suas coisas e peguei a sacola com a roupa molhada para a lavanderia. Descendo as escadas, notei uma mulher sentada com Regina na sala.

A mulher sorriu ao ver Lívia e se levantou rapidamente indo até a menina.

 

— Querida! Que saudades da minha princesa! — abraçou a menina, que ficou séria, mas retribuiu o abraço.

— Como foi a viagem, Verônica? — Regina perguntou, com voz mais animada do que o normal.

— Maravilhosa! Voltei renovada e trouxe presentes, viu? — respondeu, sorrindo ao me notar — E essa é a babá?

— Sim. Alana. — Regina respondeu com um leve aceno.

— Muito prazer, senhora. — Estendi a mão com um sorriso educado.

Ela me avaliou de cima a baixo antes de apertar minha mão.

 

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