Cap. XXIII - A Melancolia Sob a Chuva
Era uma manhã chuvosa — a primeira em muitos dias. A água caía como um véu sobre o mundo, apagando as cores do dia e encobrindo a terra. Cada gota no telhado parecia marcar o tempo suspenso dentro daquele quarto, onde tudo era silêncio e calor humano.
Lia acordou primeiro, mas o desejo de permanecer na cama era inegável. O som das gotas no telhado era suave, constante — e calmante. Aconchegou-se ao lado de Noah, tão confortável que mal se lembrava da última vez em que se sentira assim. Ainda assim, em seus pensamentos, ela não acreditava merecer aquilo. Um pressentimento estranho a atravessou segundos antes de Noah assustá-la.
— Parece bastante pensativa.
Lia estava distraída, olhando a chuva pela janela.
— Eu estou apenas pensando que não vai dar pra treinar hoje.
— A gente treina aqui dentro.
— Você está falando sério?
— Claro que não é como ontem.
— Ah sim… Aliás, me ensina como faz aquilo que me disse ontem, meus antebraços ainda doem.
— Aquilo? Bom, tem que focar dentro