Leonardo estava certo, e naquele momento Clara também entendia.Só que, por causa do seu gênio forte, era muito difícil para ela baixar a cabeça e admitir que estava errada.Quando Leonardo foi tomar água, ela simplesmente arrancou o copo da mão dele.Leonardo olhou para ela, sem saber o que dizer.Clara ergueu o queixo e falou:— Se ele gosta ou não de mim, se ele se importa ou não, isso não é você quem decide.Leonardo ficou sem palavras.Ele quase soltou um: "Será que ela está com a cabeça cheia de vento?"— Tá bom, tá bom, pense o que quiser. — Ele disse, meio sem paciência. — Nem sou seu irmão, não tenho nada a ver com a sua vida.Ele falou sem pensar, mas do lado, Isabela abaixou os olhos, em silêncio.— Meu irmão está fora do país, tentando superar um coração partido. — Clara comentou, suspirando — Nem tempo tem para cuidar da minha vida.Ela ainda disse, meio desabafando:— A gente não sabe se nossa família é abençoada demais com dinheiro e acabou gastando toda a sorte em outra
— Mana, você realmente decidiu pegar esse caso? — Leonardo insistiu, andando atrás dela.Isabela respondeu com outra pergunta:— Por que não deveria pegar?— Esse tipo de caso, que pode ser espalhado pela internet, você vai acabar enfrentando a pressão pública. Tenho medo de você ser atacada na rede, porque muita gente hoje em dia não pensa e só entra na onda da galera.Isabela suspirou e respondeu calmamente:— Eu sou advogada. A minha obrigação é ser responsável e fazer bem o meu trabalho. Se eu ficar avaliando os prós e contras de pegar um caso... — Ela olhou para Leonardo com um ar de desafio. — Então qual é o sentido da minha profissão?Leonardo ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras dela:— Tá bom, você tem razão. Pode ficar tranquila, eu vou estar sempre ao seu lado.Isabela não teve paciência e o cortou rapidamente:— Eu não preciso de você me acompanhando, é hora de você se virar sozinho.— Eu não quero! — Leonardo respondeu, sem querer perder o ritmo d
Leonardo chegou à casa de Isabela exatamente às sete e dez da manhã.Ele segurava uma marmita e apertou a campainha.Isabela, que acabou de acordar naquele momento, ainda usava o pijama."Quem seria a essa hora?", ela pensou consigo mesmo.Às vezes, quando ela não ia de carro, Leonardo vinha buscar ela, mas sempre chegava por volta das sete e cinquenta, nunca tão cedo assim.Ela abriu a porta e viu Leonardo parado na entrada.Ele usava um terno casual, calças sociais e tênis brancos. Antes, ele sempre se vestia de forma mais despojada, com calças casuais e um moletom, ou uma jaqueta de couro, um estilo mais descolado.Como ele acompanhava Isabela em algumas audiências e eventos no tribunal, onde a formalidade era exigida, ele teve que mudar um pouco seu estilo.Embora ainda não estivesse completamente acostumado a usar terno, ele estava bem mais sério do que antes, comparado ao seu estilo de vida mais rebelde.Isabela o olhou, surpresa, avaliando ele de cima a baixo.— Veio tão cedo?—
Isabela não conseguiu segurar uma risada com o que ele disse.— Está parecendo um gatinho abandonado.Ainda por cima, ela não podia nem se livrar dele.— Pode me considerar seu gatinho então. — Leonardo riu.Isabela olhou o relógio.— Que foi? Tem um encontro? — Leonardo perguntou.— Marquei com uma testemunha. — Ela assentiu.— Vamos direto para lá ou passamos no escritório primeiro? — Ele quis saber.Isabela respondeu que precisavam passar primeiro no escritório.— Tenho umas coisas para pegar.Leonardo apenas acenou com a cabeça.Eles passaram no escritório, pegaram o que precisavam e só depois foram encontrar a testemunha.O caso era complicado, não seria resolvido em pouco tempo e ainda envolvia muita gente. Além disso, Isabela estava lidando com outro processo ao mesmo tempo. Depois de um mês, conseguiu encerrar um deles.O outro também já estava na reta final, no momento mais decisivo. Ela estava atolada de trabalho.Lara ligou, dizendo que estava com saudades e pedindo para ela
Lara não percebeu a intenção nas palavras do Caio e disse:— Ganhar dinheiro não é fácil para nossa filha, por que viajar agora? Quando foi que você começou a curtir tanto a vida assim?— Eu... — Caio estava prestes a explicar, mas Isabela deixou os talheres de lado e olhou sério para Lara.— Mãe, eu quero gastar meu dinheiro com vocês. Se vocês estiverem felizes, eu fico feliz também. Esse é o motivo de eu trabalhar, sabe? Se ganhar dinheiro e não gastar, só deixar no banco, qual seria o sentido de ganhar? Se o papai quer ir, você vai com ele. Vocês trabalharam a vida inteira, é hora de aproveitar. Não se preocupe com o dinheiro, agora eu também estou ganhando bem. — Ela pegou um cartão de crédito da bolsa. — Aqui tem cem mil.— Tanto assim? — Lara arregalou os olhos.— Agora eu sou uma advogada de verdade, recebo comissão pelo meu trabalho. Fique tranquila, eu consigo me manter, aproveitem e gastem à vontade. Curtam a vida, não se segurem. — Isabela respondeu.Lara, com o cartão na m
Ela assentiu com a cabeça.— Não vou embora.— Vou arrumar o seu quarto. — Lara sorriu de orelha a orelha.Ela já estava mais animada, até cada célula do seu corpo parecia saltitar, mostrando o quanto estava de bom humor.Caio olhou para a silhueta da esposa, seus olhos cheios de amor e carinho.— Olha como ela está feliz.Isabela percebeu o que estava nos olhos do pai.Ela ficou tocada com o amor que ele sentia pela mãe.Naquela época, muitos homens não aceitavam bem não ter um filho.Mas o pai dela nunca foi de valorizar mais os filhos do que as filhas.Ele realmente amava a mãe dela, não tinha dúvida daquilo.— Minha carreira está em ascensão. Daqui a dois anos, quando meu trabalho estiver mais estabilizado, vou pegar menos casos e passar mais tempo com vocês.— Certo. — Caio disse.Isabela passou a noite assistindo televisão com os pais, conversando com eles. Às vezes, Lara fazia algumas piadas sobre os parentes e Isabela apenas ouvia.Era como se, por causa da presença da filha em
Aquele elogio de forma tão direta deixou Isabela um pouco sem graça. Ela sorriu, meio envergonhada, e respondeu com humildade:— Foi só sorte mesmo.— Sorte nada. Todo mundo no meio sabe da sua competência e do quanto você se dedica. — Ele deu um tapinha no ombro de Isabela. — Continue assim. Qualquer coisa que precisar, é só me procurar.— Muito obrigada. — Isabela sentiu um enorme aperto de gratidão no peito.— Ver onde você chegou me deixa muito feliz... — Dario então olhou para a sua filha. — Ah, se a Viviane fosse como você, eu já estaria mais tranquilo.— Pai, fala sério... Não me coloca no meio. — Viviane se encolheu num canto, com medo de ser comparada de novo com os outros pela família.Ela sabia que até era meio inútil, não tinha seguido os passos da família.Mas também não precisava ser diminuída o tempo inteiro.Já estava até calejada de tanto escutar as mesmas coisas.Mesmo que não tivesse seguido o caminho do Direito, estava se dando muito bem no mercado financeiro. Por q
Naquele dia, quando Isabela Lopes foi levada ao tribunal pelo próprio marido, Sandro Marques, uma nevasca intensa tomava conta da cidade.Ela ainda se lembrava de como acreditava em seu amor. Durante sete anos, desde que se apaixonaram até o casamento, sempre teve certeza de que ele amava ela e que viviam um casamento feliz.Tudo mudou, porém, quando ele entregou ela às autoridades, sem hesitar, por causa de uma palavra dita por Milena.O juiz começou a leitura do caso de Isabela, acusada de porte de substâncias proibidas.— No dia 23 deste mês, durante uma blitz na Rua Oeste, agentes encontraram substâncias ilícitas no veículo conduzido pela Sra. Isabela. — Declarou o juiz. — Esta audiência é para examinar os detalhes da acusação. Solicito que o autor leia suas alegações.Sandro se levantou, o corpo alto e imponente vestido com um terno preto impecável, que só aumentava seu ar sério e afiado. Seus olhos, que um dia transbordavam de amor por sua esposa, agora mostravam apenas desaponta