Mundo ficciónIniciar sesiónSophie Bailey
Depois de ter acordado na cama de um estranho, a ressaca física é insignificante perto da ressaca moral que me atinge. Nunca fiz algo assim na vida. Eu, a responsável, a organizada, a que não bebe e jamais dorme com um estranho, tinha me transformado em outra pessoa na noite passada. — Merda! Droga, Sophie! — a caminho de casa, repreendo a mim mesma novamente, massageando as têmporas. No caminho, ligo para Anne, que me ligou várias vezes e ela atende no primeiro toque. — Amiga, onde você está? Eu te liguei a noite toda! Você sumiu! — Estou na rua, Anne. Estou indo para casa. Não posso falar, estou quase em cima da hora para a entrevista. Não me pergunta nada sobre a noite passada, ok? — minha voz sai fria, e desligo antes que ela possa protestar. A culpa é de Anne por me forçar a beber, mas a decisão final foi minha. Chego em casa. Graças a Deus, Vó Eliza está dormindo e Mia está na cozinha. Corro para o banheiro. Enquanto escovo os dentes e tento lavar a vergonha e o cheiro do perfume dele do meu corpo, as imagens da noite anterior voltam: a urgência dele, a rendição, a forma como ele fez meu mundo parar de girar. Foco no espelho. O que eu estava fazendo? Eu tinha uma vida para salvar! Faço minha higiene rapidamente e corro para o quarto. Visto a roupa que separei e faço uma maquiagem básica, sem exageros. Eu pareço uma secretária impecável, mas por dentro sou um monte de nervos em colapso. Corro de volta para a rua, chamo outro táxi e rezo para que o trânsito esteja a meu favor. Finalmente chego ao prédio espelhado da Mason Corp. A magnitude do lugar me intimida. O mármore brilhante, o silêncio respeitoso. Meu Deus, eu não pertenço a este lugar. Chego ao balcão da recepção, ofegante. — Bom dia, tenho uma entrevista marcada para hoje. — Sophie, não é? — a recepcionista, impecável e sorridente, pergunta. — Sim. — A Harper está te esperando. — assinto com um leve menear de cabeça, e ela levanta, fazendo menção para que eu a acompanhe. Eu a sigo, e paramos em frente a uma porta imponente. Ela dá dois toques com os nós dos dedos, ouvindo um “Entre” em seguida. A recepcionista abre a porta, colocando somente a cabeça para dentro, e eu fico atrás dela. Consigo ouvir uma voz feminina e outra masculina, bem grave, que me causa um arrepio na espinha. Um arrepio estranhamente familiar. Provavelmente, esse deve ser o chefe, e senti isso por nervosismo. Nervosismo, repito para mim mesma, tentando ignorar a sensação estranha de déjà vu. Uma mulher sai da sala, fechando a porta atrás de si, e a recepcionista volta à sua função. — Muito prazer, senhorita Bailey. Sou a Harper. — Damos um aperto de mãos, e percebo o quanto ela parece ser gentil, além de muito bonita e elegante. Ela tem a serenidade que eu adoraria ter. — O prazer é meu. — retribuo o gesto. — Você deve estar ansiosa, vamos para minha sala. — ela percebe minha tensão e me guia até uma sala separada e mais privada. Durante a entrevista, Harper me faz perguntas sobre meu currículo, sobre minha formação em TI e, claro, sobre minha falta de experiência corporativa. Eu tento ser honesta, mas confiante. Falo sobre minha capacidade de aprender rápido e a paixão por tecnologia. Mas, em minha mente, eu só conseguia pensar em Mason. Ele está aqui? Eu o verei? Ele me reconhecerá? Ele vai rir de mim? A culpa da noite anterior me fazia querer cavar um buraco. — Gostei muito de você e da sua história, senhorita Bailey. Especialmente sua nota na universidade. Espero mesmo que você seja a escolhida do senhor Carter. — fico contente em ouvir isso. Harper é a primeira pessoa em meses a demonstrar real interesse. — Obrigada, espero que ele goste do meu currículo tanto quanto a senhorita. — Corrijo-me rapidamente. Fico sem graça, e ela ri, relaxando o clima. — Você é uma figura — ela comenta em meio à risada. — Não se preocupe, entraremos em contato em breve. A decisão final cabe ao senhor Carter, claro. — Eu entendo. Levanto para ir embora. Saio da sala de Harper, fecho a porta e, quando giro nos calcanhares, sou impedida de andar. Esbarro em uma parede de músculos. Sinto o cheiro inconfundível. O mesmo perfume amadeirado, luxuoso e inebriante que me consumiu na noite passada. O calor do corpo. A força da presença. — Me desculpe... — peço constrangida, sem levantar a cabeça. O pânico me atinge. Não pode ser ele. Por favor, não seja ele. Em seguida, levanto a cabeça, e a realidade me golpeia. Eu não acredito no que estou vendo bem na minha frente! Meus lábios se abrem em um perfeito "O", e meus olhos ficam arregalados, refletindo o espanto. O homem que me fodeu na noite passada, o mesmo que me fez fugir da cama antes de acordar, o mesmo que eu jurei nunca mais ver, está aqui, de terno perfeitamente alinhado. E ele me encara com a mesma intensidade que tinha na noite anterior. O chefe para quem eu acabei de me candidatar!






