Capítulo 4

Sábado. Meus olhos abriram com dificuldade após o barulho insistente do despertador.

Fiz o de sempre que devo fazer pela manhã e depois retornei para o meu quarto, pegando no sono como se não tivesse levantado. Próximo da hora do almoço acordei de novo, isso porque meu celular tocava de forma insistente.

— Alô? — Proferi sonolenta.

— Alice! Está em casa? — Era Amanda.

— Sim, estou. Estava dormindo até agora. — Sorri ao dizer.

— Então desperte, porque estou chegando e levando uma lasanha para nós. Richard está no futebol com os amigos e eu não quero ficar em casa sozinha, pensando besteiras. — Avisou. Sorri e meu estômago roncou com a notícia da lasanha.

— Te aguardo. Vou pedir um vinho por delivery. — Eu disse. Precisava de uma bebida alcóolica. Eu ainda teria que ir até a boate de novo e não sabia se resistiria ao toque do Mark, caso eu o visse.

Levantei, tomei banho e saí do quarto. Diana estava sentada no sofá da sala, assistindo uma programação na TV. Um desses shows de calouros modernos. Me sentei ao seu lado e dei-lhe um beijo no rosto. Ela logo me abraçou.

— Está cansada, querida! — Afirmou.

— Me acostumando aos novos hábitos. Nunca fui muito noturna. — Explico.

— Não era mesmo. Seu pai sempre se preocupou com isso. Ele dizia que você negligenciava sua juventude. Sempre discordei. — Ela sorri, um riso nostálgico e sem vigor. Ela amava o papai.

— A Amanda está vindo para cá e trazendo uma lasanha. Vou pedir um vinho para nós. Você quer um suco de uva integral? — Perguntei. Diana não podia tomar nada alcóolico devido o tratamento de saúde.

— Ah, eu aceito sim. Vou esperar ela chegar para ouvir sobre a noite de ontem. Não me parece tão abatida, então presumo que tenha sido legal, na medida do possível. Talvez o tal Mark tenha algo a ver nessa história. — Ela movimentou as sobrancelhas e sorri, concordando.

— E a Vanessa, será que está em casa? — Perguntou.

— Não. Ela me disse ontem que hoje cedo viajaria para ver a mãe. — Conto, concluindo o pedido das bebidas pelo aplicativo.

Poucos minutos depois, Amanda toca a campainha. Abri e a recebi com nosso cordial abraço. Tomei a travessa de vidro de suas mãos e a levei direto para a mesa.

— O vinho já deve estar chegando. Isso está cheirando bem. — Elogio.

— Espero que esteja boa. Passei a manhã me dedicando a ela. Quando o vinho chegar, colocamos no forno. Pode ser? — Ela sugere, olhando para Diana, que assente com gestos.

Amanda passa algum tempo contando sobre sua insegurança e insatisfação com o futebol ‘sagrado’ do Richard, seu namorado. Ele não renunciava a seu esporte favorito com os amigos aos sábados. Ao contrário dela, acho que isso é normal e saudável, mas ela implica e não posso julgar. Cada um tem seus motivos para tais atitudes. Se a incomoda, creio que deveriam conversar sobre as razões para isso, o que ele não aceita nem mesmo argumentar.

— Mas vamos falar sobre coisas mais interessantes. Preciso afastar o Richard dos meus pensamentos e nada melhor do que ouvir sobre o submundo da Annie. — Ela diz. Nós três sorrimos. As bebidas chegam bem na hora e Diana as recebe para mim.

Nos servimos em taças e me sento na poltrona que era do papai. As duas ouvintes estão no sofá, de frente.

— O Mark apareceu ontem. Ele disse novamente sobre querer ser meu primeiro. Me propôs irmos aos poucos, devagar, ganhando intimidade. Ai, gente, eu fiquei muito vulnerável ontem. O homem é sedutor, ele fala com sinceridade e é direto. Sexy como o inferno. — Revelo.

— Estou enganada, ou você já está decidida quanto a ele? — Diana pergunta, observadora.

— Você acertou. Eu disse que sim. Ele será o meu primeiro, mas quando acontecerá, será decisão minha. — Revelo.

— Mas, Alice, e o Ethan? Ele não teria uma chance? — Amanda perguntou. Eu sorri.

— Para com isso, amiga. Sabe que nossa relação é profissional. Não acontecerá nada entre mim e ele. — Argumento, mesmo que meu coração palpite com a ideia do contrário.

— Ethan é o cara de quem passou horas contando sobre ser diferente do Mário? Sobre ser bonito etc. e tal? — Diana questionou.

— Bonito? Ah, a Alice é modesta. O cara é um tremendo gostoso. Lindo! Perfeito! Deus, ele só precisava me olhar para molhar minha calcinha, o que ele não faz, não é mesmo? Passa o dia sem sair da sala dele, só admirando a minha amiga. Sortuda! Diana, você tinha que ver como ele a olha. A Alice está muito ferrada. Eles namoram por olhares quase todo o tempo. — Ela conta para Diana, me fazendo corar e ficar meio dividida na decisão que tomei ontem à noite.

— Pois bem. O Ethan é perfeito mesmo. Mas, preciso ser realista, além de termos uma relação profissional, vocês sabem que no momento preciso de dinheiro. Foi por isso que comecei a trabalhar nessa boate. Não posso cogitar viver um romance impossível e esquecer desta dívida. Falta pouco para aquele Brenner bater na porta em busca da grana. — Concluo. Amanda abaixa as vistas, compreendendo a gravidade da situação. Diana respira fundo, piedosa.

— Então, conta mais do Mark. — Diana pede. Eu passo um tempo detalhando como tudo aconteceu, tudo que ele disse, os toques, sua voz em meu ouvido. As duas davam gritinhos e faziam expressões engraçadas enquanto eu narrava as cenas.

Estávamos terminando o almoço quando meu celular soa um bip. Abri a tela e fui direto para a mensagem de número desconhecido que recebi.

Alice, é o Ethan. Espero não estar incomodando com essa mensagem há essa hora de um sábado. É que estou no escritório, analisando uma papelada pendente. Preciso de sua ajuda para abrir alguns arquivos que estão com senha de segurança. É sobre a campanha do novo xampu. Você me auxilia?”

Era uma mensagem de cunho profissional, mas não deixo de me sentir feliz com ela.

— Uma mensagem do Ethan. — Digo para as duas ouvirem.

— O que diz? Eu sabia... ele está caidinho. — Amanda diz me fazendo sorrir.

— Nada demais. Ele só quer a senha dos arquivos criptografados da campanha do novo xampu. — Revelo.

— Inocência ou descrença, Alice? Isso lá é assunto para tratar com você? Eu sou a secretária da equipe de marketing e a mãe dele é a chefe do setor. — Diz, o que me deixa pensativa, pois ela tem razão. Parece uma desculpa para falar comigo. Meneio a cabeça e respondo a mensagem.

Claro que sim. Boa tarde!” Envio a mensagem junto com a senha de acesso.

Você faz falta aqui!” Recebo logo em seguida. Me pego sorrindo ao ler e mordo o lábio. Amanda e Diana sorriem com isso. Sabem, com toda certeza, que recebi uma confirmação do que minha colega disse.

Fico feliz por saber. Sempre que precisar, pode chamar!” — Respondo.

Não me diga isso. Ou, você passará a trabalhar os sete dias da semana.” — Ele responde. Não consigo parar.

Precisa tanto assim de mim? Não acredito! Você me parece tão autossuficiente. Além de ter uma equipe muito competente.” — Prossigo na conversa. Quero saber onde podemos ir com isso.

Muito mais do que você imagina. Estou cercado de bons profissionais, eu sei. Mas nem toda necessidade é trabalho. Às vezes, tudo que preciso é uma boa companhia/parceria de trabalho”. — Ele responde.

Medito no que responder. É claro que estou ciente de que a mensagem foge do assunto de trabalho e que estamos flertando. Até porque é isso que fica claro com nossa troca de olhares durante toda semana.

Ficarei feliz em ajudar.” — Respondo.

“Me lembrarei disto!”, “Obrigado!” — São as últimas mensagens que recebo dele.

Amanda e Diana aguardam eu concluir a troca de mensagens. Estão muito curiosas pelo simples fato de que não paro de sorrir.

— Então? Eu estava certa, não foi? — Amanda inquire.

— Sim! — Respondo e levo as mãos aos olhos, escondendo-os. — Ele disse que está sentindo a minha falta e que precisa de mim muito mais do que imagino. Também disse que às vezes só precisava de uma boa companhia. — Fiz um gesto de aspas ao proferir as duas últimas palavras.

— Ah, Alice... Isso é tão bonitinho. Mas como fica sua situação com ele, se você está com essa vida na boate? — Diana pergunta. Ela se sente muito culpada por eu estar me prostituindo.

— Não vou passar a minha vida toda na boate. Assim que eu conseguir pagar toda a dívida, eu saio de lá. Enquanto isso, não vou me envolver com o meu chefe. — Asseguro.

— Claro que você vai. Ele nunca vai saber de sua vida dupla. Você pode dar uma enrolada para oficializarem o romance quando estiver livre. Não pare sua vida por isso, promete? — Diana ressalta, surpreendendo-me.

Oficializar romance, jura? É só um flerte bobo. Não creio que alguém como Ethan Johnson se envolveria com a secretária. Pelo menos, não em algo sério. — Digo.

Diana acaba indo dormir após o almoço e eu e Amanda ficamos em meu quarto jogando conversa fora. Ela vai embora por volta das 19H, horário em que inicio minha arrumação para seguir para a boate. Estou nervosa, pensativa. Às vezes, é como se eu estivesse traindo alguém ao ir para lá. Me sinto clandestina, vulgar, sem valor.

Vanessa aparece em nenhum momento para me pegar. Ele me conta sobre seu envolvimento com Pfeiffer, ou que me deixou sem palavras e alerta. Contei a ela sobre os acontecimentos de ontem e minha decisão. Bem como, sobre meu chefe.

Van pensa o mesmo que Amanda, agora que devo aproveitar as oportunidades com uma pessoa legal, na minha vida real. Esta vida na pompa não será eterna e a discrição que eles dão nos beneficia.

Reflito em silêncio até chegarmos em outro assunto.

Uma casa noturna voltou a ser cheia. Hoje, a roupa era vermelha. Um vestido de renda totalmente transparente. More usei um bikini por baixo.

Passei quase a noite toda dançando e nada do Mark. Já eram mais de meia noite quando ele apareceu. Eu estava no bar, conversando com uma mulher que me disse que era a primeira vez que vinha ao local, quando surgiu. Alisou as minhas costas e virou-se para a calçada para que eu ficasse na frente dele.

- Aceno! - Dizer. Sentei em outro banco e sorri quando me vi sorrindo. Fiquei tímido, nervoso e frenético.

- Ouvi! Eu acho que no viesse aqui hoje. — confessei.

— Eu não ia vir. Mais preciso de distração. — Ele responde de cabeça baixa.

— Hum, sábado? Seria um coração partido querer mostrar uma mulher que ainda ama? — Arrisquei.

— Você chegou bem perto. O que é assim! - Ele sorriu, despreocupado. Mas a verdade é que me sinto tão desconfortável quanto estou, ou que não deveria.

— Como posso ser útil? - Eu pergunto. Afinal, foi para isso que servi lá. Ele os viu procurando por alívio. Sexo. Sou uma prostituta que vai pagar caro para 'comer' e fazê-lo esquecer por alguns minutos alguém que é muito especial.

— De muitas maneiras, Annie. Eu adoro ou desafio o que você me propõe, se isso te faz decidir ou quando você se entrega a mim. — Ele alisa minha mão, depois desliza com o cabelo do meu braço. Fico num misto de excitação e recusa. Ou ego um tanto ferido. É difícil para mim encarar os fatos.

— Diga-me de que maneira poderia ser útil agora? — Estou encarando meu papel.

Ele abaixa a cabeça.

— Por que você está dessa maneira? Não parece você. Fez algo errado? Estou sendo sincero também? Rápido também? — Ele pergunta, visualmente confuso.

— Não, nada disso. Desculpe, estou um pouco nervoso. Preciso enfrentar as minhas escolhas. - Contar.

"Por que você está aqui, Aninha? Eu não vou jogar com você, eu só quero saber. É claro que eu não vi isso por ser uma garota de programa. Vida fácil ou algo semelhante. - Pergunta.

— Tenho uma dívida muito alta para pagar, um familiar que precisa de cuidados médicos e uma agiota me ameaçando. Foi a maneira mais óbvia que consegui pensar para criar Grana. — eu revelei. Ele se aproximou de mim e beijou meu rosto por cima do tecido que ele recuperou.

— Presumo que não foi uma decisão muito fácil de tomar. - Ele discute. Eu confirmo com um cabeçalho. — Mais um motivo para você não permitir que acabe nas mãos de uns brutamontes estúpidos, babaca.

— Fico feliz com isso. - Eu respondo. Ele sorriu abaixando a cabeça, balançando de um lado para o outro como se estivesse dizendo algo ou estivesse chorando por alguma coisa. Ele b**e minha mão outra vez e leva ele à boca, beijando-a. - Dance Comigo? - Convidamos.

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