Meu pai atravessou a sala, e eu só conseguia pensar no quanto tudo aquilo parecia loucura. Eu nunca pedi para ser filha do chefe da máfia Mikazia e por causa disso, eu teria que me submeter a uma tarefa onde qualquer passo, poderia colocar tudo a perder. Teria que ajudar a sequestrar uma criança, filha de Matteo, chefe da máfia rival de papai. Tudo isso por conta de interesses maiores, tudo para proteger a família... O telefone soou, e eu me despertei dos meus pensamentos. Olhei para papai e ele atendeu o telefone rapidamente. — Fico feliz que tenha dado tudo certo Gabriel, amanhã ela estará lá.— papai disse suavemente ao telefone. Gabriel era o irmão de Matteo, chega a ser engraçado que o próprio irmão estivesse planejando o assassinato, pois tudo isso não passava disso, sequestrar a filha de Matteo, para ele vir até nós regatá-la, e assim nós o matarmos. Tudo para Gabriel assumir a família e as duas famílias se beneficiarem. Negócios... Isso não passa de negócios.
Leer más— Ela está aqui, daqui a pouco nós vamos embora, estejam preparados.— disse ao telefone.
Vi uma garota dos cabelos castanhos vindo correndo em minha direção, e logo reconheci Milena. — Professora! Você viu aquela obra de arte?— a menina disse, apontando para uma escultura ao ar livre. Eu havia criado um carinho por Milena, antes de colocar o plano da minha família em ação, dei aula para ela por um mês. Mas como o planejado, o dia do passeio havia chegado, e hoje, Milena seria sequestrada. — Linda, né?!— perguntei para a garotinha que sorriu imediatamente. Olhei para meus alunos, e os chamei. — Espero que tenham se divertido no passeio de hoje, mas já está na hora de ir embora. Vão ao banheiro e se dirijam para o ônibus.— disse para a turma, que me obedeceu imediatamente. Milena acompanhou a turma, mas logo a chamei, era o momento perfeito, o momento para sequestrar a filha de Matteo, chefe da máfia Adsa. — Minha princesa, tem como você correr lá no ônibus e avisar o motorista que já estamos indo?— perguntei para Milena. — Claro professora, estou indo. Milena correu e a vi sumir ao entrar no estacionamento, infelizmente senti um pouco de remorso, eu realmente havia criado um carinho por Milena. Os alunos começaram a voltar, e eu os conduzi para o ônibus. Quando cheguei até o motorista, perguntei por Milena. — Cadê Milena? Ela veio te avisar que estávamos vindo. Onde ela está?— perguntei. Eu sabia muito bem que Milena nem havia chegado no ônibus, algum capanga do meu pai já havia sequestrado ela. — Milena? Ela não chegou aqui senhorita Yhelena.— o motorista disse aparentemente preocupado. Olhei para a minha turma que cochichava, e mandei todos entrarem no ônibus. — Entrem no ônibus, eu vou atrás de Milena. Não saiam daqui!— disse seriamente para os meus alunos, que me obedeceram rapidamente.— Por favor, fique de olho neles? Vou procurar Milena.— disse para o motorista e fui atrás da garota. Fui procurar Milena para não levantar suspeitas, mas como o esperado não a encontrei. Fui até a recepção e falei com a recepcionista. — Uma aluna minha sumiu, preciso de ajuda para procurar ela.— disse desesperada. A recepcionista me olhou e logo chamou um dos gerentes do museu, que pediu para os seguranças procurarem Milena. — Já entrou em contato com os pais e a escola da menina?— o gerente me perguntou. — Não...— disse forçando o choro. A recepcionista mexeu no computador e logo achou o número da escola. Ela discou rapidamente e ligou para a escola. De repente o chefe dos seguranças chegou no gerente e cochichou no seu ouvido. Ele me olhou e seriamente perguntou. — Como ela sumiu? — Pedi para ela avisar o motorista que já estávamos indo para o ônibus, mas ao chegar no ônibus o motorista disse que ela não chegou lá. Por favor, me ajudem a encontrá-la! — implorei. — Certo, vamos analisar as câmeras de segurança do estacionamento.— o gerente disse, e o segurança foi averiguar. Meu pai não era um amador, provavelmente havia desabilitado as câmeras. — Alô?— ouvi a recepcionista, e me virei rapidamente, ela estava conversando com a escola.— Houve um problema, uma das alunas da sua escola, desapareceu no passeio. A recepcionista escutou a outra pessoa do outro lado do telefone, e logo me olhou. — Qual o seu nome, e da aluna desaparecida? — Meu nome é Yhelena, e o da aluna é Milena.— respondi rapidamente. — O nome da aluna é Milena, ela estava acompanhada da professora Yhelena.— a recepcionista disse rapidamente, e depois de alguns minutos desligou o telefone. Olhei para a recepcionista esperando respostas. — A escola irá avisar aos pais da menina e ele virá para cá imediatamente.— a recepcionista disse calmamente. De repente o segurança chegou aparentemente preocupado e olhou para o gerente. — As câmeras... Não estavam funcionando, eu não sei como, mas não estão funcionando!— o segurança disse. — Como as câmeras não estavam funcionando?— o gerente perguntou aparentemente furioso. — Por favor, acionem a polícia!— disse em prantos. Era óbvio que os seguranças não haviam encontrado a menina, e claramente não tinha muitos seguranças no estacionamento onde Milena foi sequestrada. A recepcionista me olhou e logo discou para a polícia, enquanto o gerente tentava me acalmar. — Por favor, se acalme.— ele dizia. Alguns minutos depois, uma viatura da polícia e o pai da menina chegaram juntamente com a diretora da escola. Matteo, pai de Milena correu até a recepção preocupado. — Acharam ela?— ele perguntou para mim. Olhei para ele e o encarei com os olhos vermelhos. — Não... Matteo era imponente, tinha cabelos castanhos, eles eram lisos e seus olhos eram em um tom verde vivo. Seu maxilar estava tenso, visivelmente preocupado, mas mesmo assim não deixava de ser charmoso. Matteo tinha barba, que fazia contraste com sua pele morena, bronzeada pelo Sol. Ele estava muito elegante, usava uma blusa social preta, que combinava com seu blazer preto, que compunha seu visual. O blazer estava justo, tão justo que destacavam seus músculos e a cor de sua pele. — Mas como ela sumiu? Você tinha que estar vigiando ela, era a sua responsabilidade.— Matteo gritou, batendo o pulso no balcão da recepção. — Por favor... Se acalme.— a diretora interveio. — Me acalmar? Milena está desaparecida!— Matteo disse com um tom firme e forte, mas ainda sim, desesperado. — Desculpa senhor Matteo, ela foi avisar o motorista que já estávamos indo para o ônibus, mas ela nunca chegou até o ônibus e as câmeras não estão funcionando!— exclamei, demostrando minha preocupação. Matteo levou as mãos ao rosto e respirou fundo. — Que desgraça!— ele disse e se afastou. Em seguida os policiais chegaram e conversaram comigo e com alguns funcionários do museu. Depois de alguns minutos, eles disseram para Matteo comparecer na delegacia e foram embora. — Acho melhor levarmos as crianças de volta para a escola, não vamos conseguir chegar a lugar nenhum se ficarmos aqui.— a diretora disse seriamente. Matteo encarou a diretora e todos os funcionários do local. — Irei na delegacia prestar queixa, e aviso qualquer novidade.— Matteo disse enquanto me encarava nos olhos, como se quisesse ler minha alma. — Obrigada senhor Matteo, estaremos a disposição...— a diretora disse, e fomos de volta para o ônibus, enquanto eu falsamente chorava. Quando chegamos na escola, os pais já estavam a espera, ninguém sabia sobre o ocorrido com Milena, mas provavelmente os filhos iriam contar. Assim que a última criança foi embora a diretora da escola me chamou. — Você sabe que esse desaparecimento vai causar grandes problemas para a escola, não sabe?— ela perguntou. Balancei a cabeça que sim, e ela continuou. — Amanhã, se apresente bem cedo na minha sala.— a diretora disse e se retirou furiosa. Eu podia entender a fúria dela, afinal era uma das melhores escolas de toda Itália, e se a reputação fosse comprometida, as mensalidades da escola também seriam. Peguei minhas coisas e fui para a minha casa alugada que ficava no fim da rua, papai havia pensado em tudo, e como nossa casa ficava na Sicília, ele alugou uma casa para mim perto da escola. Andei pela rua deserta pensando em Milena, ela provavelmente estaria desesperada. De repente um carro preto apareceu na rua em uma velocidade muito alta, tão alta que fazia contrito com o chão causando rangidos. Ele acelerou e eu tentei correr, mas logo me alcançou e vi Matteo sair do carro com mais dois homens. Os dois homens sacaram a arma e apontaram para mim. — Entra no carro agora.— Arrumem as malas, partiremos esta noite. — Matteo disse ao entrar em casa.Seus empregados começaram a se movimentar ao ouvir as ordens, enquanto Matteo, comigo em seus braços, subia as escadas. Ele me levou até meu quarto e me colocou na cama, caminhando em seguida até a porta.— Matteo? — o chamei.Matteo parou e se virou para me olhar. Ele estava aflito, sua testa franzida e os punhos levemente cerrados.— Sim, Yhelena?Suspirei. Toda aquela informação havia apertado meu coração. E se algo acontecesse a Matteo? Ou até mesmo a Milena? Agora eles estavam em perigo por minha causa, especialmente Ângelo...— Me desculpa. — disse quase em um sussurro.Matteo ficou parado, me olhando, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.— Isso tudo é minha culpa. Eu não devia ter aceitado as ordens do meu pai, não devia ter ajudado a sequestrar sua filha e... não devia ter me apaixonado. — Fiz uma pausa, sentindo as lágri
Dias se passaram, e o médico me visitava todos os dias. Após a primeira semana, ele retirou a contenção do meu pescoço. Meu corpo ainda doía, e o ferimento da bala estava quase cicatrizado. Ângelo não apareceu desde o incidente com nossa família, o que me deixava preocupada. Matteo, no entanto, vinha ao meu quarto uma vez por dia. Ele parava na porta e me observava em silêncio, como se nossas almas conversassem sem precisar de palavras.— Yhelena? — alguém chamou.Olhei para frente e vi o meu médico.— Sim?— Você está pálida. Faz dias que não sai do quarto... — ele disse enquanto media minha pressão. — Precisa de sol.Olhei para as janelas que deixavam os raios da manhã entrarem no quarto.— Eu levo ela.Virei-me e vi Matteo na porta, de mãos dadas com Milena. Ela sorriu docemente e correu até mim.— Professora! — ela exclamou, me abraçando.Olhei para Matteo e retribuí o abraço da garotinha.
— Eu não acredito que você pôde viajar e deixar ela sozinha aqui, mesmo sabendo de tudo o que estava acontecendo com a nossa família! — Uma voz irrompeu, cortando o silêncio. — Eu não a deixei sozinha, ela estava cercada pelos meus homens — uma outra voz, mais intensa, ressoou no ar, fazendo meu corpo estremecer. — Então você precisa treinar mais os seus homens, porque eles estão se espelhando no homem covarde que é o chefe deles. Acordei de um pesadelo, olhando em volta. Matteo e Ângelo se encaravam, o olhar de Matteo carregado de sombras, enquanto Ângelo mantinha os punhos cerrados, como se estivesse prestes a explodir. O impulso de me levantar e ficar sentada na cama me dominou. Ao me ver, Ângelo correu até mim, seguido por Matteo, que soltou um suspiro aliviado. — Como você está, Yhelena? — Ângelo perguntou, a preocupação evidente em seu tom. Foi então que percebi o colar de
No dia seguinte, Matteo e Milena saíram cedo, e eu fiquei sozinha na enorme mansão, protegida pelos funcionários e capangas de Matteo. Admito que foi essencial para minha recuperação, embora eu tenha tido crises de pânico quase todas as vezes que me lembrei de papai.Dias se passaram desde que eles viajaram. Ângelo tinha me visitado algumas vezes, apenas o necessário para garantir que eu estava bem. Eu sabia que ele queria ficar comigo, mas estava tentando descobrir mais sobre as investigações do meu paradeiro. Para não levantar suspeitas, ele vinha poucas vezes. Matteo havia mandado um recado, dizendo que as coisas em Paris haviam se complicado e que ele precisaria ficar lá por mais tempo. Isso já fazia três semanas. Em geral, eu estava bem, apenas estranhamente enjoada e com dores de cabeça. O médico disse que era por causa do tiro que levei. Enquanto isso, eu esperava ansiosamente pela volta de Matteo.Caminhei pelo quarto e me sentei na cama. De repente, a port
NARRADO POR YHELENAAcordei um pouco atordoada. Olhei para a janela, cujas cortinas abertas deixavam o Sol entrar e me dar bom dia.Olhei para o lado e vi Matteo; ele ainda dormia. O Sol iluminava seu rosto bronzeado e seu cabelo bagunçado. Ele estava sereno. Em segundos, como se pudesse sentir que eu o observava, ele despertou. Confuso, olhou para o teto, como se não soubesse onde estava, até olhar para o lado e me ver.— Yhelena?! — ele exclamou, me olhando nos olhos.— Sim...Matteo se sentou na cama e apoiou a cabeça nas mãos. Eu me sentei na cama e fiquei em silêncio, sem saber o que dizer depois da noite passada.— Transamos? — ele perguntou.O olhei, incrédula. Ele não se lembrava de nada da noite passada?— Não.Ouvi um suspiro. Ele realmente não queria se envolver comigo ao ponto de ficar aliviado por não ter passado a noite comigo?— Acho melhor eu ir. — ele disse, quase em um sussurr
NARRADO POR CRISTALAdentrei a enorme mansão; ainda era cedo, cerca de sete horas da manhã. Matteo, como de costume, provavelmente estaria sentado à mesa do café da manhã com Milena. Caminhei pelo corredor, o som dos meus saltos ecoando no porcelanato enquanto seguia calmamente em direção à sala de jantar. Ao entrar, vi Milena na mesa. Ela tomava Sucrilhos com leite e me encarou com um semblante nada agradável. Não era segredo para ninguém que a pirralha não gostava de mim, e era mútuo.— Cadê seu pai? — perguntei.— No quarto... — a garota sussurrou.— Ainda?Milena me olhou nos olhos e, sem responder, voltou a comer.Subi para o segundo andar à procura de Matteo; tinha assuntos importantes para resolver com ele sobre alguns produtos. Caminhei pelo corredor até passar por um quarto que sempre ficava com a porta fechada. Dessa vez, estava aberta, e parecia que alguém dormia ali. Adentrei o quarto e vi Matteo deitado ao lado de Yh
Último capítulo