As acusações me atingem em cheio. Fico atônita.
— O quê? O senhor acha que eu...? — Eu não sei o que pensar, Diana! — ele explode. — Você aparece na minha vida feito um erro de sistema, tropeça, derruba café, me tira do eixo... e agora aparece aqui, nesse lugar, como se nada demais estivesse acontecendo! O calor sobe ao meu rosto. A indignação me toma. — Eu só vim acompanhar uma amiga! — rebato, a voz mais alta do que eu mesma esperava. — Eu nem queria vir, mas ela insistiu, disse que seria rápido! Eu nem sabia que esse lugar era assim, e muito menos que o senhor viria aqui! Ele me encara, como se tentando decifrar a verdade. — Está dizendo que foi uma coincidência? — Estou dizendo que o senhor está me julgando sem saber de nada! O silêncio que segue é sufocante. Meu peito sobe e desce com força. Estou no limite. Mas não abaixo a cabeça. Não pra ele. Damian parece tão perdido quanto eu. Como se estivesse lutando com algo dentro de si. Algo que não pode nomear. E então pergunto o que está entalado em mim desde o primeiro segundo: — Por que está tão incomodado com a minha presença aqui? É porque sou sua funcionária? Porque sou desajeitada demais pra estar num lugar como esse? Ou porque te incomoda o fato de eu não fazer parte do seu mundo perfeito? Ele se aproxima. Mais um passo. Mas dessa vez, eu fico. Não fujo. — Você não faz parte do meu mundo — ele diz com frieza. — Mas, de alguma forma... ele tem girado em torno de você nos últimos dias. E isso é um problema. Sinto um nó na garganta. Mas não desvio. Não dessa vez. — Então me demita. O ar se parte entre nós. Ele empalidece. Trava o maxilar. Mas... não responde. E eu vejo nos olhos dele o que ele não quer dizer. — Não posso — ele murmura. — E isso me irrita mais do que você imagina. Meu coração parece dar um salto. Mas não é felicidade. É confusão. Medo. Tudo misturado num caos que me enlouquece. — Então o problema não sou eu. O problema é o senhor, senhor Damian. Que não sabe o que sente, nem o que fazer com isso. Ele avança de novo. Dessa vez tão perto que posso sentir o calor do seu corpo. Meu coração martela. A respiração prende. Mas não me mexo. — Eu sou o homem que manda nesse império — ele diz, baixo, tenso, os olhos passeando entre meus lábios e meus olhos. — O que dita regras, muda rotas e faz impérios se curvarem. Mas com você... nada faz sentido. E se isso for um jogo, Diana, você está brincando com fogo. Engulo seco. — Não é um jogo — sussurro. — Mas se fosse... talvez eu já estivesse queimando. Por um instante, tudo para. O mundo deixa de existir. Só nós dois, presos nesse campo de força invisível. Mas ele se afasta. O ar volta. Mas deixa um vazio no lugar. — Vá para casa. Agora. E amanhã... não chegue atrasada. Ele vira de costas, como se encerrar aquela conversa fosse sua única forma de não ceder. Como se esperasse que ele dissesse algo mais. Mas ele não diz. Saio, com o coração na garganta, sabendo que, depois daquela noite, nada mais será o mesmo. Minha saída na boate foi um impulso. Eu não fazia ideia do que realmente estava acontecendo. No dia seguinte, cheguei cedo ao trabalho. Não vou dar chance para que ele me demita, principalmente agora, que preciso pagar a faculdade. O dia passou cheio de tarefas, e minha mente não parava. Fiquei me perguntando por que ele quis saber se eu tinha namorado. O que, afinal, ele queria com essa pergunta? Qual o real interesse dele na minha vida? Senhor Damian… parece que somos obrigados a servi-lo como se fosse um rei, só que um rei sem noção. Quando deu meu horário, avisei e fui direto para o ponto de ônibus. Meu dia ainda não tinha acabado. Eu tinha aula à noite e precisava estar focada. Foi aí que tive uma surpresa: encontrei Otávio, um colega da faculdade. Como sempre, ele foi gentil e educado. Ofereceu uma carona e resolvi aceitar. Até a faculdade, a conversa fluiu tranquilamente.