Capítulo 5
Ponto de Vista de Savage

Fiquei fixo nos olhos cor de mel da menininha que segurava a mão de Angel. Meu coração estremeceu e meus joelhos fraquejaram enquanto ela me encarava. Senti as lágrimas se acumularem ao ver sua inocência e a forma como ela pedia ser pega. Angel sorriu ternamente e a levantou, acomodando-a em seu quadril.

“Minha filha. Merda, eu tenho uma filha.” Observei enquanto ela encostava a pequena cabeça no ombro de sua mãe, sem tirar os olhos de mim. Ela era tímida.

— Angel! — Disse eu, engasgando, enquanto ela se aproximava. Mantive meu olhar fixo na pequena beleza que me observava. Sorri, mas ela rapidamente escondeu o rosto. Meu coração afundou – ela sequer sabia quem eu era.

— Savage!

O tom dela não possuía a ternura de outrora – algo havia mudado definitivamente, e a culpa era toda minha.

— Quer beber alguma coisa? — Perguntou enquanto eu balançava a cabeça.

Ela se dirigiu ao balcão e pediu um refrigerante, o que me deixou constrangido. Notei minha filhinha espiando por trás de mim; sorri para ela, mas logo ela se escondeu novamente. Ri, pensando: “Boa garota, nunca fale com estranhos”, embora a verdade fosse que eu, para ela, já era um estranho. Esse pensamento dilacerou meu peito ao lembrar que ela havia levado minha filha e jamais quis que eu soubesse de sua existência.

— Vamos sentar?

Acenei enquanto ela se dirigia a uma cabine, se acomodava e colocava nossa filha em seu colo, enquanto uma garçonete se aproximava com brinquedos para entreter a pequena.

— Obrigada, Coral. Falarei com você mais tarde! — Disse ela, dispensando a garçonete, e nossos olhares se encontraram num silêncio carregado de tensão.

— Qual é o nome dela? — Interrompi o constrangimento. Angel mordeu o lábio e me olhou.

— Rebel Carlotta Moretti. Ela acabou de completar dois anos.

Disse ela e eu acenei, repetindo o nome para confirmar: Rebel. Ao ouvir seu próprio nome, ela lançou um aceno tímido para a mãe.

— Desce! — Ordenou, e minha alma quase se esvaiu ao ouvir aquele tom inocente. Angel riu e a beijou na cabecinha.

— Agora não, querida. Em breve, tá? — Disse ela suavemente, e Rebel acenou com a cabecinha antes de retomar suas brincadeiras.

— Então, como você tem estado?

— Não estou aqui para discutir banalidades, Savage! Como você descobriu? Quero dizer, estou surpresa por sua presença! — Respondeu ela, mordiscando as palavras. Meu corpo estremecia ao sentir seu olhar penetrante.

— Quando você fugiu, seus pais convocaram uma reunião de emergência. Eles sabiam que você estava grávida e do motivo de sua fuga; também receberam aquelas fotos. Sinto muito por não ter acreditado em você, Angel!

Resmungou ela, desviando o olhar enquanto chupava os dentes, e eu sabia que teria muito a me desculpar.

— Pois é, mas por que você teria feito aquilo? Agora não importa – o que foi feito, foi feito. E sua mulher velha, como está? — Perguntou ela enquanto eu enrijecia os ombros, ciente do estrago que havia causado e da necessidade de reparar os erros.

— Eu não tenho mais ela. Retirei minha reivindicação sobre ela depois de encontrá-la em uma situação comprometedora. Ela nunca esteve grávida. — Ela revirou os olhos e reprimiu uma risada.

— Não, sério, chocante. — Ela disse sarcasticamente enquanto bebia seu refrigerante.

— Olha, eu sei, para com essa atitude. Você deveria ter me contado, mas em vez disso fugiu e a manteve longe de mim! — Eu retruquei, fazendo com que ela colocasse o copo de lado, enquanto eu engolia seco sob seu olhar.

— O que você quer, Savage? — Ela perguntou como se estivesse entediada de mim – o que eu sabia que não era verdade.

Ela achava que podia agir toda durona, mas eu a conhecia. Sabia que Angel era gentil, amável e carinhosa – a pessoa mais pura que conhecia. Vê-la assim era como uma adaga no meu peito.

— Vocês duas voltarão comigo! Eu, Ryder “Savage” Jackson, presidente de MC Príncipes das Trevas, reivindico vocês como minhas!

Seus olhos se arregalaram até que ela começou a rir alto, balançando a cabeça. Ela enxugou as lágrimas dos olhos e Rebel riu também. O som era lindo. Rebel bateu palmas porque sua mãe ria.

— Ohhh, Savage, Savage, Savage. Boa tentativa. Veja, você não pode nos reivindicar. Eu sou Moretti, e isso supera qualquer coisa que você tenha tentado fazer. Meu pai? Minha mãe sabe que você é a razão pela qual fugi? A razão pela qual a única filha dela escapou? — Agora eu ria para ela, o que a fez parar repentinamente enquanto me fitava.

— Odeio ter que te dizer isso, princesa, mas sim, eles sabem! Levei uma surra e ganhei uma bela cicatriz na perna com aquela bala que ela me disparou! Eles também sabem que já encontrei vocês duas! Você, Angel Maria Moretti, virá comigo, mesmo que eu tenha que arrastar você, chutando e gritando! Você fugiu por tempo demais, princesa! Agora é hora de voltar para casa!

Os olhos dela se arregalaram, e eu sorri como um otário convencido. “Agora não há mais fuga.”

— Tudo bem, voltaremos. Mas eu não colocarei um pé no seu clube. Eu irei para casa com ela e agendaremos as visitas. Não permitirei que ela fique perto do seu clube ou das vadias que andam por lá. Aceita ou não, Ryder. Do meu ponto de vista, você tem sorte de estar vivo. — Ela disse, e eu ri alto. Ah, meu Deus, ela não entendia.

— O que há de engraçado? Esses são os termos. Nós não somos nada, Ryder, e nunca seremos. Isso é só sobre ela. Não me importo com você nem com seu clube. Ela é minha prioridade. Se eu disser que ela não deve ficar perto do seu clube e das suas vadias, assim será; ou então você pode ir embora e esquecer que a viu. — Ela disse, e eu parei de rir, rosnei.

— Eu reivindiquei vocês duas, então lamento te dizer, Angel, mas vocês voltarão comigo – e é final. Seus pais já sabem. Eles se encontrarão conosco lá em dois dias. Então, prepare-se. Você não ficará no clube. Você tem sua própria casa pronta para vocês duas se mudarem. Sim, eles se movem rápido, e você sabe disso. — Eu disse, e ela se levantou com Rebel nos braços.

Ela me lançou um olhar severo que logo se transformou em um sorriso.

— É, você realmente se move rápido. Você não teve coragem de terminar nosso relacionamento antes de se meter de cabeça, reclamando daquela vadia do clube que te enganou com uma gravidez falsa e fotos manipuladas nojentas de mim. Te vejo por aí, Ryder. Eu não vou a lugar nenhum com alguém como você. — Ela se virou e saiu do bar. Rebel acenou com a pequena mão por sobre o ombro dela, e eu acenei de volta, piscando para ela.

Ela não fugiria de mim tão facilmente. Quer gostasse ou não, eu sempre conseguia o que queria. Oh, Angel, você não tinha ideia com quem estava mexendo, princesa.

Tirei meu celular do bolso e disquei para a única pessoa que a traria– e que certamente me odiaria por isso – mas eu precisava dos reforços para domá-la. Ela nunca fora assim, e já dissera isso antes. Agora estava feroz e teimosa, agindo como uma mimada rica.

— Dê tempo a ela, faça o que for preciso – dê tempo a ela. Ela nunca agiu assim antes. — Disse a garçonete do bar enquanto recolhia o copo vazio e os brinquedos.

Assenti enquanto observava a porta.

— Por favor, me diga que ela vai voltar para casa?

— Ela é teimosa e se recusou. Está jogando duro.

— Deixe-a comigo.

A ligação terminou, e eu suspirei antes de guardar o celular e sair rumo à minha moto. Vi o carro dela seguindo na direção da casa. Sentei-me na moto, coloquei o capacete e a liguei.

De volta ao Clube de Solomon, entrei e encontrei Blaze me esperando, sentado no bar. As vadias do clube circulavam, limpando e conversando com as velhas damas dos membros.

— Então, deixe-me adivinhar. Ela te disse para ir se foder? — Ele disse, rindo enquanto levava a garrafa aos lábios.

— Eu tenho uma filha, Blaze. Ela é linda. O nome dela é Rebel. — Ele cuspiu a cerveja por toda parte.

— Porra!

Sim, porra mesmo.
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