Ponto de Vista de Angel
Acordei com o som contagiante da risada de Rebel. Levantei-me com um bocejo e um alongar preguiçoso. Ao olhar para baixo, gemei e empurrei meu seio para dentro do colete, tentando me recompor. Esfreguei os olhos enquanto cambaleava pelo corredor rumo ao quarto dela – ainda sonolenta, pois a noite anterior mal dormi. Minha mente insistia em reviver o rosto dele sempre que eu fechava os olhos. Encontrei minha pequena sentada no chão, entretida com seus blocos coloridos.
— Rebel! — Disse em tom cantado.
Ela virou a cabeça ao ouvir, com os cabelos arrepiados em todas as direções, como os meus naquele instante. Ri quando ela se levantou e correu até o portão para bebês. Inclinei-me e a peguei, depositando beijos espalhados pelo rosto.
Sempre foi uma criança alegre, embora suas birras pudessem assustar até um furacão, pois explodia de raiva em suas crises. No geral, contudo, ela era uma menina contente.
— Está com fome? — Perguntei enquanto ajeitava seus cabelos despenteados, como os de um professor excêntrico.
Ela acenou com a cabeça e se aconchegou junto a mim. Sorri e dei um tapinha carinhoso em seu bumbum enquanto descíamos as escadas juntas.
Boomer, que repousava na cama da sala, levantou a cabeça. Seu rabo, atrofiado, balançava freneticamente enquanto ele se ergueu para me acompanhar até a porta dos fundos, onde seria solto para suas necessidades. Entrei no banheiro pelos fundos, troquei Rebel rapidamente, lavei as mãos e a recuperei. Em seguida, conduzi-a até sua cadeirinha e a acomodei nela. Entreguei-lhe um livro, mas ela, impetuosa, bateu o volume contra a bandeja.
— Certo, minha pequena, o que deseja para o café da manhã?
Perguntei enquanto acionava a chaleira, preparando-me para despertar meus sentidos – hoje de manhã, seria necessário um caminhão de café para me colocar em funcionamento.
— Ovos e torradas.
— Tá bom, ovos e torradas então. — Ri.
Ela ainda estava aprendendo a pronunciar as palavras, mas evoluía. Enquanto a água fervia para os ovos, liguei a TV em um canal infantil e girei a cadeirinha para que ela pudesse acompanhar a programação na sala. Coloquei os ovos na água e preparei também o café do Boomer.
Após os ovos amainarem o calor, os deixei repousar enquanto preparava a torrada: espalhei manteiga e a cortei em tiras compridas para que ela pudesse segurá-las com facilidade.
Sentei-me ao lado dela, observando-a devorar a refeição. Sorri ao vê-la mergulhar uma longa tira de torrada na gema pegajosa, enquanto fazia uma pequena dança em sua cadeirinha e ria de suas travessuras.
De súbito, a campainha tocou. Peguei o celular para verificar a câmera e suspirei: que bom, ele não se demorou. Ignorei por um instante. Quando ele começou a bater em minha porta. Boomer rugiu e abandonou sua comida enquanto caminhava em direção à janela.
— Angel, sei que você está dentro. Abra a porta, só quero conversar!
Boomer começa a latir, o que fez com que Rebel se sobressaltasse. Não se podia ter um momento de paz?
— Shh, querida, está tudo bem. Continue com seu café da manhã; a mamãe já vai atender a porta.
Tranquilizei-a enquanto ela terminava seu ovo e saboreava a torrada com manteiga. Beijei sua cabecinha e fui até a porta. Boomer se posicionou à minha frente; prendi sua coleira, inspirei fundo e abri a porta.
— O que você quer, Savage?
Ele me lançou um olhar surpreso, que logo se transformou num sorriso desdenhoso – porra, não adianta mais se esconder.
— Só quero conversar, Angel. Por favor!
Revirei os olhos enquanto Boomer rosnava e o puxei de volta.
— Não temos nada a conversar, Savage! Acho que você já disse tudo o que precisava ser dito há três anos. Agora, se me permite, estou ocupada!
Eu estava prestes a fechar a porta quando seu pé encalhado impediu o movimento.
— Eu quero ver minha filha, Angel. Você não pode me impedir!
Disse ele e meu coração afundou – como ele sabia? Quem porra contou?
— Acho que precisamos ter essa conversa, não acha?
Ele riu e, apesar do desgosto que sentia, admitia que fazia sentido – eu precisava saber como ele soube.
— Tudo bem, encontre-me no bar à uma desta tarde. Conversaremos então!
Disse eu e ele sorriu, exibindo suas covinhas, recuou e fechei a porta, apoiando minha cabeça nela enquanto ouvia a motocicleta partir. Rebel soltou um grito ao lançar sua torrada ao chão. Suspirei e me afastei enquanto Boomer devorava o que restara.
— Você, mocinha, precisa de um banho! — Disse eu, rindo ao ver seu rostinho coberto de resquícios de ovo e torrada – até tinha pedaços de torrada no cabelo, minha pequena Rebel.
Depois do banho – embora o banheiro se transformasse numa mini piscina ao final – ela vestiu seus pequenos jeans e uma camiseta rosa estampada com um unicórnio cintilante. Seus cabelos loiro-escuros estavam presos em coques delicados no topo da cabeça e ela exibia seus tênis Converse rosa com orgulho.
Olhei para o relógio: eram 12h30. Preparei um lanche rápido, que ela devorou, peguei as chaves e Boomer, e saí de casa. Considerei mantê-la afastada dele, mas não adiantava – ele já sabia sobre ela.
Saí quando Scar surgiu pelo caminho.
— Para onde vocês estão indo? — Perguntou ela, e jurei que tinha algum tipo de sexto sentido.
— O Savage veio à casa esta manhã. Ele já sabe sobre Rebel e, por isso, concordei em encontrá-lo no bar. — Respondi e assentiu com um leve sorriso.
— Então, parece que vamos para o parque? — Olhei para ela confusa.
— Tudo bem, melhor acabar logo com isso e deixá-lo conhecê-la! — Respondi e Scar sorriu timidamente.
— Você está fazendo a coisa certa, Angel. Se precisar de mim, me ligue que eu o coloco no lugar dele! — Disse, agitando o punho – Scar sempre me lembrava de mamãe, destemida, e eu a adorava por isso.
— Bom, vou lembrar disso. Precisamos ir! — Disse eu, dirigindo-me ao carro, prendendo Rebel no assento, enquanto Boomer se acomodava no banco ao lado dela.
Dirigimos até o bar. Avistei a moto de Savage estacionada à frente e, com os nervos à flor da pele, parei cuidadosamente ao lado dela, temendo riscar ou colidir com o veículo – ironicamente, seria uma tentativa quase poética de minha parte. Ri maliciosamente ao pensar nisso.
Não, Angel, você não é uma criança!
Saí do carro, despeguei Rebel e a coloquei no chão. Boomer saltou e caminhou ao meu lado. Seja o que Deus quiser.
Ao adentrarmos o bar, deparei-me com Coral, atrás do balcão, lançando olhares maliciosos para Savage. Revirei os olhos enquanto avançava.
— Oi, Angie! — Sorri para Coral, sentindo o olhar dele sobre mim. Segurei a mão de Rebel e, ao me virar, notei que ele não me observava – seus olhos estavam fixos em sua própria filha.