O relógio digital na mesinha marcava 02h14 quando Rafael desistiu, pela terceira vez, de tentar dormir.
Virou de lado.
Olhou o teto escuro.
Inspirou fundo, como se o ar pudesse preencher o vazio que o lobo insistia em escancarar dentro do peito.
Desde que Liandra tinha ido embora, dormir era um verbo educado demais para o que ele fazia.
No máximo, o corpo desligava por minutos.
A mente, nunca.
Levantou, passou a mão pelo rosto, sentiu a barba áspera sob os dedos. O apartamento em Chicago estava silencioso, cortado apenas pelo som distante da cidade lá embaixo. Nada familiar. Nada que lembrasse lar.
Lar, ele sabia, não era lugar.
Era cheiro de mirtilos.
Era uma loba de olhar firme e língua afiada.
Era o silêncio confortável quando ela respirava ao lado dele.
E, naquela madrugada, o silêncio sem ela parecia barulho demais.
O vínculo, inquieto, vibrava de forma estranha.
Não era exatamente dor.
Nem exatamente saudade.
Era uma urgência quente, uma espécie d