03 - Luna Marcondes

Luna Marcondes

Na manhã seguinte do arranjo do casamento, meu pai havia me chamado para conversar com ele, sabia que seria sobre o casamento e isso estava me deixando entristecida.

Henriqueta, como minha melhor amiga, resolveu tentar me animar, chamando para passear, mas primeiro teria que conversar com meu pai que me aguardava.

— Não fique com essa carinha Luna, talvez você goste do noivo que seu pai escolheu. — Ela diz com um sorrio encantador.

Ela tem sorte que meu irmão gosta dela e principalmente meus pais, mas e eu. Não conheço o meu pretendente e provavelmente ele deve ser um homem sem escrúpulos.

— Tudo bem, Henriqueta, não se preocupe, uma hora ou outra aceitarei minha situação. — Digo e deito a cabeça no ombro da minha amiga.

Sei que não tenho mais para onde fugir, saio da varanda e vou para o escritório onde meu pai me esperava com meu irmão. Dou três batidinhas na porta e peço permissão para entrar.

Ouço a voz do meu irmão do outro lado da porta dizendo para entrar, arrumo o meu vestido e entro no escritório de meu pai, com um sorriso tímido, meu irmão se aproxima e beija a minha testa.

Sorrio para o meu irmão mais velho e meu protetor, passo a mão no lenço que ele tinha em seu casaco. Sinto a sua mão em minha cintura me conduzindo para sentar na cadeira de frente para nosso pai.

Olhar para meu irmão Marcos é como olhar para o meu pai, com alguns anos a menos. Don Marcondes, dono de maior vinhedo da Espanha, casado com Marília Marcondes, formam um casal apaixonado, é até difícil de acreditar que o casamento deles foi arranjado por meus avós.

— Filha te chamei para lhe informar que o Conde aceitou o compromisso que fiz com ele. — Meu pai diz.

Ouço a confirmação do meu pai e deixo o ar sair, nem percebi que estava prendendo a respiração, sinto a mão do meu irmão na minha deixando um carinho nos meus dedos. Mantenho a cabeça erguida, mesmo assim é impossível não deixar que uma lágrima não escorra.

— Prometo que se o filho do Conde te fizer algum mal eu mesmo ensinarei uma lição, nossos pais te criaram para ser adorada por qualquer homem e não será ele que fará você sofrer. — Ouço meu irmão e sorrio para ele.

Amo meus irmãos por isso, até mesmo Miguel sendo o caçula, é tão protetor quanto todos os outros Marcos.

— Tudo bem, irmão, acredito que ele não me tratará mal e farei minha parte para construir uma relação boa com ele, só espero que ele faça o mesmo. — Olho para meu pai e pergunto. — Terei a oportunidade de conhecer meu pretendente antes da festa de noivado?

— Sim, iremos à cidade para a tourada e faremos a festa de compromisso de vocês, acredito que irão morar na casa da vinícola. — Vejo que meu pai fala com um pouco de incerteza. — Ou podem ficar com essa aqui, será a decisão que seu marido terá que tomar. — Ele diz.

Fico triste em saber que iremos nos separar, meus pais irão se mudar para o outro vinhedo que será do meu irmão para quando ele se casar.

— Pai, posso ficar com a Henriqueta durante um tempo... — Meu irmão me interrompe.

— Não, a Henriqueta vai conosco para o Las Nuvens. — Olho para o meu pai que apenas rir.

— Claro que pode, pedirei aos pais dela que ela fique um tempo com você. — Olho para ele um pouco mais feliz.

— Mas se o seu irmão pedir a mão dela em casamento não poderei permitir isso, porque já passou da hora do Marcos criar vergonha na cara e aceitar que gosta da Henriqueta. — Olho para o meu irmão e vejo que ele ficou aturdido com a informação.

— Como posso pedir uma mulher em casamento se nem sei se ela faz gosto de mim, meu pai? — Me viro de uma vez na sua direção, não acreditando no que acabei de ouvir.

Tenho vontade de tirar meu sapato e dar na cabeça do meu irmão, como ele pode ser tão cego assim?

— Não acredito meu filho que você acabou de falar isso, todos veem que a moça fica cheia de suspiros quando te ver andando pela casa. — Meu irmão se senta e fica pensativo.

— Teu irmão é um tolo minha menina, espero que tenha feito uma boa escolha para você, se for necessário nos avise o que está acontecendo. — Apenas confirmo com a cabeça.

— Comece a arrumar algumas coisas, iremos para a cidade em poucos dias, temos apenas que avançar a colheita das uvas. — levanto e me retiro do escritório do meu pai e ouço meu irmão se dando conta do tempo perdido.

— Será meu pai que ela ainda aceitará um homem cego como eu... — Não consigo ouvi-lo terminar de falar.

Ele é apaixonado por ela, só faltavam se enxergar com clareza. Sorrio em saber que pelo menos o meu irmão e minha melhor amiga talvez consigam ficar juntos.

Resolvo dar uma volta pela propriedade que agora sei que será minha por dote, espero que meu marido saiba administrá-la, amo esse lugar e espero que ele a faça prosperar como meu pai faz há tantos anos.

— Luna, Luna, espere... — Ouço a voz de Henriqueta e paro embaixo de um pé de maçã.

— Oi, Henriqueta. — Falo assim que me aproximo dela, até me assusto como minha tristeza.

— Como foi a conversa com o seu pai, você poderá conhecer o tal pretendente antes do casamento? — Me pergunta e mal sabe ela que logo também estará casada com meu irmão.

— Bom ele só falou o que eu já sabia, disse que por dote o Luz da Luna será nosso, pedi para que você ficasse comigo e ele achou melhor não, vocês vão para o Las Nuvens.

Conto para ela o que sei, a vejo franzir o cenho e mudo de assunto a convidando para ir até o riacho que fica no fundo do estábulo, é ótimo para nadar. Gosto de sempre ir lá porque é proibido para os criados somente eu e meus irmãos vamos, faz tempo que não vou e hoje preciso esfriar um pouco a cabeça.

Fomos caminhando tranquilas conversando sobre tudo um pouco, minha amiga vai me ajudar com o enxoval, temos muitas coisas para bordar. Chegamos no riacho e ela começa a tirar as roupas para poder mergulhar.

Põe sua roupa em cima do tronco onde me sentei, ela corre para o riacho apenas com as suas roupas de baixo, a vejo se divertindo brincando com a água e fico feliz em saber que pelo menos ela terá um casamento com pelo menos um gostando do outro, diferente de mim que...

— Quem está aí? — Ouço mato se quebrando atrás de mim.

Levanto assustada para ver quem estava no mato, se for um desconhecido estamos muito encrencadas, Henriqueta está sem suas roupas.

— Sou eu Luna. — Meu irmão sai de trás de um arbusto e percebo seus olhares para a minha amiga. — Quero conversar com ela, mas não imaginava que iriam tirar a roupa para entrar no riacho.

— Vire de costa, vou ajudá-la a se vestir e irei para casa e assim poderão conversar. — Digo ao meu irmão.

O vejo se virando e antes que fosse com as roupas dela para a margem do riacho digo para que ele ouça.

— Não a faça sofrer, ela gosta de você, mas tem medo, não sabe se existe sentimento em você por ela. — Me surpreendo quando ele volta a se vira e me sorri com carinho.

Ele se aproxima e beija a minha mão, sei que ele cuidará da minha amiga.

— Ajude se vestir que ficarei de costa aqui, vá pela trilha e cuidado, logo chegaremos em casa. — Apenas concordo com ele.

Volto para o tronco e a chamo com a mão, ela vem nadando rápido e sai do riacho cobrindo seu corpo com as mãos.

— O que ele quer Luna, estou morta de vergonha, ele me viu sem roupas e se meu pai me expulsar de casa por causa disso. — Só faço rir.

— Ele quer apenas conversar com você, espero que seja sincera com você mesma e principalmente com ele, desejo apenas o melhor a você minha amiga, estou muito feliz. — Ajudo a arramar seu espartilho e se vestir, acho que nunca nos vestimos tão rápido como agora.

— Posso me virar Luna? — Olho para minha amiga querendo saber se já está pronta e ela me confirma que sim.

— Pode, sim, Marcos. — Seguro nas mãos dela e a levo até meu irmão, que dá um beijo na minha bochecha. — Estou deixando minha amiga aqui sozinha com você por que confio que não a fará mal, espero que sejam felizes.

Henriqueta me olha como se não estivesse entendendo o que está acontecendo e apenas ponho a sua mão na do meu irmão.

Volto pela trilha em direção à casa grande e me sento na varanda com as cestas de bordado ao meu lado e decido elaborar algumas coisas que estavam por lá.

E depois de algum tempo minha amiga vem em minha direção, ela está com uma carinha confusa e a do meu irmão tinha um sorriso de orelha a orelha.

Ela se senta do meu lado e fica muda, estou me mordendo de curiosidade.

— Ele beijou minha boca, disse que pedirá a minha mão para o meu pai. — Ela diz com um olhar confuso.

Ficamos conversando até bem tarde, essa noite ela ficou e dormiu comigo na minha cama.

O restante do mês passou rápido, minha mãe providenciou quase todo meu enxoval, solicitei algumas mudanças para a outra casa e graças ao Conde que permitiu. Aqui em nossa casa também começaram algumas reformas, alguns dos criados iriam ficar.

E chegou o dia de voltar para a cidade, meu pai queria conhecer o filho do Conde pessoalmente, então ele pediu que o Conde o enviasse para que eles pudessem conversar e dar alguns conselhos.

Meu futuro sogro apenas riu do pedido do meu pai, mas disse que o mandaria durante a semana para que fizesse algumas coisas para meu pai e assim poderia conhecer o pretendente.

Desde que chegamos durante a semana eu apenas ouvia a sua voz, minha mãe não me deixou por o pé na sala e conhecer o tal de António Venturini.

Já estava começando a achar que ele fosse um velho, ou com alguma deficiência, finalmente depois que ele e o Marcos saíram pude dar uma volta na praça e a Henriqueta que me pediu para irmos à casa de moda ela queria comprar um chapéu para amanhã na tourada.

Na casa de moda ela escolheu um lindo amarelo, tive vontade de escolher um para mim também, mas nem sabia ainda qual vestido iria usar. Estávamos conversando sobre isso quando um cavalo se assustou ao nos ver atravessando o seu caminho.

Acabei caindo e sujando meu vestido todo de lama, olhei para o mestre com seu cavalo e uma queimação surgiu em meu peito, ele era alto com cabelos claros com certa ondulação, é um homem robusto e com um certo charme, fiz uma reverência envergonhada e saímos em direção da nossa casa.

Contamos para minha mãe o acontecido e ela me mandou ir trocar de roupas, já que vamos à casa do Conde para poder conhecer o pretendente antes da festa de amanhã.

Coloco um vestido azul-claro e uma joia delicada que meu irmão me deu de aniversário, quando saio do meu quarto meu irmão Felipe esbarra em mim.

— Está muito linda minha irmã, tenho certeza que António irá ficar encantado por você, se não ficar com certeza deve ser muito cego. — Começamos a rir.

Descemos as escadas e vamos todos para a casa do conde, na charrete e meus irmãos a cavalo. Estava ansiosa e aflita por não fazer a menor ideia do que esperar.

Paramos em frente a uma casa bem luxuosa e extremamente grande, ela estava completamente iluminada e decorada. Meu pai desce e ajuda a minha mãe a sair e todos os meus irmãos ficam esperando que eu saia da carruagem.

Meu irmão com sempre um lorde estende a mão e me ajuda a sair, passo a mão por seu braço e entramos na propriedade do Conde.

Somos recebidos por um criado e me encanto com o tamanho da casa, enquanto olhava para os detalhes da decoração o Conde aparece no alto da escada com um sorriso enorme no rosto.

— Fico feliz que tenham aceitado o convite, venham se sentar na sala para tomarmos um licor e conversar enquanto o António não chega, ele está fazendo algumas cobranças para mim, deve aparecer a qualquer momento. — Sinto uma tensão na fala do Conde e minha mãe apenas sorrir, mas ela também percebeu.

— Então você é a jovem Luna, muito linda por sinal, pode ter certeza que se meu filho a magoar você terá um defensor ao seu lado. — Sinto o seu carinho e gosto disso.

Ele foi muito educado, gostei do meu futuro sogro, ele é um homem robusto, percebe-se que trabalha bastante com a terra, que não foge do trabalho pesado, tem educação e foi muito cortês, enquanto estava fazendo um reverência sou interrompida pela chegada do meu pretendente.

Quando nos olhamos sinto meu rosto ficar de quente e ele sorri para mim, se curva em minha direção, faço uma menção com a cabeça.

— Boa noite a todos, desculpa a minha demora, meu tio me prendeu na casa dele querendo saber notícias sobre o noivado.

Nos olhamos e o reconheço como o mestre dos cavalos.

— Me perdoe por mais cedo, não percebi que você e a sua dama estavam saindo da casa de moda, não tive a oportunidade de me desculpar com você senhorita. — Ele se desculpa.

O seu tom de voz é potente e grossa, noto a sua falta de barba, mas tem um rosto bastante marcante e ele estende a mão em minha direção, ele a leva até seus lábios que são muito macios.

Meus pais e meu sogro ficam felizes ao perceber que aparentemente nos gostamos.

— Porque vocês não vão passear pelo jardim para se conhecerem um pouco melhor. — Meu futuro sogro fala.

António abre caminho e me mostra por onde ir, o jardim deles têm um lindo coreto no meio de um pequeno labirinto baixo, meu irmão nos dá privacidade, eles todos sabem o quanto estou infeliz com toda essa situação.

— Parece triste, jovem Luna! — Não foi uma pergunta, ele apenas constatou a verdade.

— E você não está? Sempre sonhei em me casar com alguém que eu conhecesse e que ao menos gostasse um pouco de mim, sei que não é o nosso caso, não é mesmo? — Ele fica meio sem jeito e me mostra um banco para poder me sentar.

— Que tal podermos nos conhecer melhor Luna, prometo que serei seu amigo antes de sermos um casal e respeitarei seu tempo. — Não esperava ouvir isso dele.

— Podemos fazer dar certo, sei que tem seus sonhos e eu também tenho os meus, mas estamos aqui em obediência aos nossos pais. — Mantenho meus olhos fixos nos dele.

— Então o que você acha? — Ele pergunta novamente.

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