4♥️ CEO e a Prostituta

Draiton Menegaço

Eu só podia ter perdido o juízo. Não havia outra explicação. Primeiro, aceitei aquela loucura da prima Oléria e, para piorar, chamei para me ajudar uma mulher que conheço há tão pouco tempo. Não tive nem chance de preparar Melissa direito, de explicar como se portar diante da minha família, que tipo de roupa levar, como se portar em cada situação. Os últimos dias foram uma avalanche de compromissos, um atrás do outro, e quando percebi já era o dia da nossa partida. Nem sabia ao certo se ela realmente viria, embora, ontem à noite, tenha mandado mensagem perguntando a hora do voo.

Se ela aparecesse malvestida, sem nada adequado, eu já tinha em mente uma solução: no próprio Galeão há lojas onde poderíamos improvisar alguma coisa. Bastaria o suficiente para atravessar o Oceano e chegar até Roma sem constrangimentos; depois, compraríamos roupas novas por lá.

A verdade é que toda essa preocupação parecia ser mais fruto de preconceito idiota da minha parte. Desde o primeiro dia, tive dificuldade em aceitar que Melissa fosse uma prostituta. Havia classe demais nela. Isso se percebia em pequenos detalhes: a maneira como segurava o talher, como enrolava a verdura no garfo, tudo impecável. Não era apenas aparência, havia algo de refinado em sua postura. E, ainda assim, quando se aproximava de mim, provocava sensações que me desestabilizavam. Eu precisava me segurar para não esquecer minha regra de nunca pagar por sexo.

Ela surgiu caminhando pelo saguão, os cabelos ondulados dançando contra o vento, óculos escuros cobrindo metade do rosto. Vestia um longo de tecido leve, bege, marcado por botões que começavam no decote e seguiam até os joelhos. A fenda deixava entrever parte das pernas, e o tecido, mesmo solto, desenhava suas curvas. Nos pés, rasteirinhas brancas com pequenas flores em couro. A visão era suficiente para qualquer homem perder o ar.

— Bom dia. — disse, ajeitando os óculos. — Estou de óculos escuros porque nem toda maquiagem do mundo apaga minhas olheiras. Dormi pouquíssimo essa noite.

— Bom dia — respondi, sorrindo. — Está linda.

— Ah, você nem precisa dizer isso. — retrucou com ironia. — Você é gatíssimo, lindo... Mas olha aqui no meu pescoço, o detalhe. — Ela inclinou o queixo, revelando uma gargantilha com as letras D e M. As iniciais do meu nome — Vim de cachorrinha, com coleira e tudo.

Levantei uma sobrancelha, surpreso.

— Pelo visto, incorporou mesmo a personagem... Até de cagnolina Menegaço?

— Cagnolina?! — ela franziu a testa.

— Sim, cadelinha em italiano.

Ela riu alto, debochada, e eu acabei rindo junto. Segurei a mão dela e seguimos para o check-in. Era bom começar a criar intimidade desde já, para que nossa farsa soasse convincente.

Não houve atrasos. Embarcamos, e logo o avião decolava rumo a Roma. Durante o voo, conversamos sobre a viagem.

— E onde vamos ficar? — perguntou, ajeitando o assento.

— Na minha casa. Mas nem pense que vai ter paz para caçar um gringo rico por aí. — adverti com um sorriso torto. — Vai ser rotina de almoços, jantares e longas conversas. Italiano é exatamente o estereótipo que você imagina.

Ela riu, jogando os cabelos para trás.

Estava previsto chegarmos ao fim da tarde. Toda aquela encenação tinha apenas um objetivo: me colocar, finalmente, à altura das premissas de um homem de negócios, criado por Drayson, disputar o que é meu por direito. Eu gosto dos meus sobrinhos, principalmente do Denner, mas o posto de presidente do Menegaço Hotel Group pertence a mim, não a eles.

Melissa adormeceu na poltrona ao lado. Eu tentava assistir ao pacote interativo do voo, mas não demorou para sentir o perfume dela invadir o espaço. Sem perceber, ela escorou a cabeça no meu peito, respirando fundo, como se o mundo tivesse desaparecido. Aquela proximidade mexia comigo de um jeito que eu não queria admitir.

(...)

ALGUMAS HORAS DEPOIS

— Chegamos. — murmurei, tocando de leve o braço dela.

Ela abriu os olhos devagar, a voz rouca, pesada de sono:

— Sério?! Dormi o tempo inteiro... Pareceu Rio–Niterói, não Rio–Roma.

— Para mim também foi rápido. — confessei. — Já estou tão acostumado com essa rota que parece curta.

Ela puxou a bolsa, e de dentro retirou um frasco, borrifou várias vezes um spray na boca. O cheiro de menta invadiu o ar.

— Tirar o bafo, né? — disse com naturalidade. — Não dá para receber sua família com cheiro de ontem. Pelo que você falou, vai ter um monte de gente esperando logo aqui no aeroporto. E se não der tempo de escovar os dentes?

— Não vai dar mesmo. — respondi, rindo. — Eles já devem estar todos lá. Vamos, namorada de mentirinha.

Seguimos pelo tubo transparente, pegamos as malas e as colocamos no carrinho. Assim que cruzamos a área restrita, vi de imediato: uma parte enorme da minha família já nos aguardava. Denner, meu sobrinho querido; a prima Oléria; o primo Basílio; minha cunhada Catarina e, para completar, a irmã dela, Kátia, com quem eu tive um breve relacionamento. é uma das piores loucas que passaram na minha vida, mas ainda lembro o quanto ela é gostosa.

Kátia avançou na frente de todos e me abraçou forte, colando o corpo ao meu.

— Que saudade! — disse, me dando dois beijos no rosto. — No Brasil são três.

Antes que eu pudesse reagir, em vez do terceiro beijo na face, ela colou os lábios nos meus.

Fiquei atônito, sem chão. Mas a reação de Melissa foi imediata: com uma mão empurrou Kátia e, com a outra, estalou um tapa na cara dela. O som seco ecoou no saguão, diante de toda a minha família.

Que porra era essa?! A mulher tinha enlouquecido de vez!

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