Capítulo 5 - Alina

Eu encarava James como se ele estivesse ficando maluco. Nós crescemos juntos e ele tinha se tornado um grande amigo, me emprestando o ombro amigo sempre que eu queria chorar, aparecendo na minha janela à meia noite em todos os meus aniversários só para ser o primeiro a me entregar um presente.

James nunca tentou nada comigo, nós nunca sequer demos um beijo, e não é porque ele era tímido, sua fama corria na cidade e eu conhecia bem a fila de mulheres que ele já tinha levado pra cama. E agora ele estava perguntando porque eu não me casaria com ele?

— Do que você está falando? — Questionou cruzando os braços e indo me sentar na cadeira de balanço na varanda.

— Se queria se casar porque não falou comigo? — ele insistiu fazendo minhas sobrancelhas franzir em confusão. — Porque nunca me disse que queria algo assim?

— Nós somos amigos, acha mesmo que se eu estivesse procurando um marido não teria te dito?

Ele tirou o boné e andou em minha direção, se sentando ao meu lado com os olhos focados em meu rosto, me olhando com uma expressão de preocupação que não combinava com ele.

— Então é pelo seu pai? Quer agradar a ele? — James se moveu na cadeira esticando a mão e agarrando meu pulso com firmeza. — Vamos nos casar então. Não precisa se casar com aquele monstro que você nem conhece. Eu faço isso por você.

As palavras dele me atingiram de um jeito que fez meu estômago revirar e eu puxei minha mão de volta rapidamente. Ele estava dizendo como se pudesse se sacrificar e casar comigo, como se fosse um favor que fazia.

— Meu pai escolheu Kaian e não vou contrariá-lo! — afirmei sentindo a raiva crescer. Ao menos com Kaian era uma troca e não um favor, ele recebia as terras e eu a felicidade do meu pai e ponto final.

— Você conhece caras como ele, o homem tem uma longa linha de mulheres só esperando para cair em sua cama. Não vê que ele só te quer para pegar as terras do seu pai?

Me levantei em um salto sentindo meu sangue ferver de raiva com aquela merda que ele estava falando. Eu podia não ser as mulheres que ele estava acostumado, mas não era horrível para que agisse assim.

— Acho melhor você ir embora, James. Eu tenho que arrumar tudo, afinal me caso em dois dias!

— Vai mesmo fazer essa estupidez? — ele semicerrou os olhos me encarando como se quisesse enxergar minha alma e eu cruzei os braços, tentando me proteger da tempestade que vi em seus olhos. — Aquele lobisomem nunca vai te amar, nem mesmo vai se importar com você depois que tiver as terras.

Um sabor amargo encheu minha boca enquanto um peso se formava sobre meu peito, tornando difícil de respirar.

James nunca tinha agido assim comigo, nunca tinha sido tão mal, nem mesmo quando éramos crianças e seu pai o trazia junto quando vinha trabalhar. Ele era engraçado e doce, corríamos juntos por toda a fazenda, brincamos e choramos nossas perdas. Porque logo hoje, quando tudo em minha vida ficou confuso, ele tinha que agir como um babaca?

— Algum problema aqui? — A voz grossa nos fez virar no mesmo instante, enquanto um homem forte alto, com cabelos longos no pescoço, pele clara e olhos castanhos, se aproximou. 

Eu já tinha visto ele algumas vezes com o pessoal da reserva, isso só podia significar que também era um lobisomem. James fechou a cara e retorceu os lábios, parecendo prestes a enfrentar o homem.

— Não, nenhum problema. — intervi antes que os dois brigassem, porque se os boatos eram verdadeiros, James estaria morto em um segundo.

James apenas bateu o boné na palma da mão me dando uma última olhada antes de marchar pra longe.

— Se quiser posso dar um jeito no esquentadinho. — meus olhos se arregalaram com a facilidade dele em dizer aquilo, como se não fosse nada demais. — Sou Leon, braço direito e melhor amigo de Kaian.

— Sou Alina… — respondi estendendo minha mão e ele a encarou por um momento antes de apertar abrindo um sorriso grande.

— Eu sei quem você é, vim aqui com a missão de medir esse dedinho pro meu amigo colocar uma aliança nele daqui dois dias. — Leo disse pegando minha mão esquerda e rodeando o dedo com uma fita.

Ele parecia contente com aquilo, não como se estivesse um amigo sendo forçado a se casar. Leon parecia quase estar se divertindo como um…

— Então você é o padrinho?

Os olhos castanhos se ergueram para meu rosto enquanto ele dava de ombros.

— Se não nossa cultura existisse padrinhos, sim, eu seria um padrinho e cá entre nós seria o melhor. — ele sussurrou a última parte me arrancando um sorriso e pela primeira vez no dia eu me senti leve. — Sou a pessoa que você pode perguntar qualquer coisa sobre Kaian, acho que ninguém o conhece melhor do que eu.

Meu coração disparou no peito com a ideia de saber mais sobre o homem com quem me casaria em dois dias e eu não resisti.

— Me conte sobre ele, do que ele gosta e… o que ele pensa desse casamento. — talvez eu me arrependesse da última pergunta, mas não pude evitar, Kaian tinha saído tão rápido da minha casa que nem me deu tempo de conversar.

— Kaian não é uma pessoa fácil, ele é sério e calado. Não gosta de se abrir com ninguém, mas ele é o mais leal que já conheci em toda a minha vida. — Leon falou com o tom ficando mais sério, assim como os olhos até que o sorriso se desfez. — Quando era pequeno ele e os pais haviam saído para caçar, mas se depararam com humanos, caçadores, que mataram os seus pais enquanto eles tentavam protegê-lo. Kaian ficou muitos dias perdido na mata até que outros saíssem para procurar por eles. Meu amigo era só um menino de quatro anos, uma criança que viu os pais serem assassinados e apesar da força de alfa que tinha dentro dele, ainda não podia se transformar em lobo.

Eu levei as mãos a boca sentindo meu coração se partir com o horror do que ele tinha dito, meus olhos se encherem de lágrimas enquanto a imagem de um menininho perdido e assustado preenchia minha mente.

— Meu Deus! Nem… nem imagino o quanto ele deve ter sofrido.

— Ele sofreu demais, mesmo sendo criado por meus pais depois disso, ele nunca conseguiu se abrir e voltar a ser uma criança normal. — a testa dele se franziu e os olhos ficaram distantes, como se estivesse revivendo o passado em sua mente. — Kaian se fechou em um casulo e nunca mais saiu.

— Sinto muito, eu sinto muito por ele. — murmurei sentindo um desejo insano de querer abraçá-lo e consolá-lo de alguma forma.

— Agora ao menos você já sabe que ele pode ser rude, mas não é algo pessoal, apenas… ódio pelos humanos em geral.

— Está me dizendo que meu futuro marido já me odeia?

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