Capítulo 4 - Alina

Depois que Kaian saiu eu continuei ali ao lado do meu pai, seu estado estava piorando a cada dia e eu não queria ficar longe dele. Mas isso não impedia que meus pensamentos vagassem até Kaian.

Como eu podia me casar com aquele homem? Ele mal me dirigia a palavra, era sempre distante, nossa maior interação tinha acontecido hoje. Meu pai não podia estar bem mentalmente pra sequer ter proposto aquilo, mas não queria confrontá-lo, não com ele naquelas condições.

— Tem certeza que não quer tomar sol hoje? Podemos ir na cadeira de rodas, assim você não se cansa.

— Quero que você vá ao sótão e abra o velho baú, que está fechado com uma fita vermelha. Lá você vai encontrar o vestido de noiva da sua avó.

— Papai, tem que esquecer essa ideia maluca. Quer mesmo que eu me case com um homem com quem nem conversei? Um homem que pode se transformar em lobo?

Ele se moveu com dificuldade e eu dei um passo à frente para arrumar melhor seus travesseiros.

— As pessoas quebram suas promessas o tempo todo, mas não os lobos. Eles levam a palavra a sério.

Aquilo era algo que eu tinha escutado desde criança, todos do clã Greyclaw eram confiáveis, a boa fama deles era conhecida pelas pessoas da região. Infelizmente isso não tirava minha apreensão sobre todo o resto, sobre estar casada com um homem com quem eu não falava e nem tinha intimidade, um completo desconhecido.

— Mas casamento deveria ser por amor, papai. Eu nem sequer conheço Kaian.

— Sua mãe e eu nos casamos por amor… — as palavras com o tom de mágoa foram engolidas pela tosse que o tomou. — Veja onde isso nos levou? Ela não pensou duas vezes antes de me abandonar, de te deixar!

— Não se apegue a isso, pare de pensar nela! — implorei vendo seu rosto ficar vermelho e seu corpo todo sacudir de forma violenta a cada tosse.

— A sua… sua avó teve um casamento… arranjado — ele se forçou a continuar falando mesmo com a tosse e sem ar. — E eles foram muito… felizes.

— Eu sei papai, mas…

— Você também vai… vai ser feliz com Kaian! — ele segurou minha mão que estava em seu ombro e apertou meus dedos me afastando levemente. — Vai ter tempo de aprender a amá-lo depois… agora vá pegar o vestido.

Ele me empurrou para longe mesmo que eu estivesse atordoada com suas palavras. Sabia que ele estava dizendo do coração, me desejando o que achava ser o melhor, tentando me assegurar um futuro para quando não estivesse mais ali comigo.

Ainda sim era assustador, mesmo que ele tentasse fazer parecer fácil.

Me vi subindo as escadas para o sótão, tudo estava empoeirado, não mexíamos ali há anos, a última vez foi quando minha mãe nos deixou. Papai esperou por um mês que ela voltasse arrependida, dizendo que tudo foi um erro e pedindo perdão, mas quando isso não aconteceu ele pegou todas as coisas dela e guardou no sótão.

Eu nunca tive curiosidade de descobrir o que ele tinha guardado sobre ela, meu coração era apenas um vácuo de tristeza e solidão quando eu pensava sobre minha mãe, não nutria ódio como meu pai, mas havia deixado de amá-la há muito tempo.

Procurei entre as bagunças o baú que ele tinha dito, espirrando a cada pano ou caixa que eu movia erguendo uma nuvem de pó, até finalmente encontrar o baú antigo com fitas vermelhas na fechadura.

Joguei as coisas de cima do baú e me ajoelhei perto, puxando as fitas com rapidez, louca para sair daquele lugar. Mas assim que abri meus olhos paralisaram no vestido branco cheio de bordados, eu deslizei minhas mãos nos entalhes delicados em volta do busto e então o ergui vendo as longas mangas e a saia que descia levemente rodada.

Era lindo e serviria perfeitamente para um casamento simples como íamos fazer.

Casamento… eu não pensava em ter um relacionamento há muito tempo. Todas as minhas energias eram para o meu pai desde que ficou doente, tentando resolver os problemas da fazenda sem que ele precisasse intervir, trabalhando mais para amenizar seu cansaço.

— Nem lembro quando foi a última vez que dei um beijo. — murmurei rindo comigo mesma.

Mas meus pensamentos correram para o momento do toque dele, o calor emanando das mãos de Kaian para mim, os dedos firmemente envolvidos em minha cintura.

Involuntariamente toquei meus lábios, me lembrando da boca carnuda de Kaian, enquanto seus olhos dourados me esquadrinhavam de perto. Qual a sensação de ser beijada por um homem daquele?

Ele era grande e forte, não um jovem como os que eu tinha beijado na escola, Kaian era um homem feito, um homem lindo e enorme.

Meu corpo foi tomado por um calor ao imaginá-lo me tocando com aquelas mãos largas enquanto seus lábios desvendavam meu corpo. Mas antes que eu me perdesse ainda mais em meus pensamentos, ouvi meu nome ser chamado e rapidamente pulei ficando de pé. Não precisaria sonhar com “como seria” por muito tempo, em dois dias seria sua esposa.

Desci apressada e dei de cara com James, o garoto que havia crescido comigo correndo por aquela fazenda, o único amigo de verdade que eu tinha.

— Oi James. Todos já voltaram do pasto? Eu não vi a hora passar hoje.

— Ouvi dizer que você vai se casar, então é verdade? — ele perguntou apontando para o vestido em meu ombro.

Fui pega de surpresa com as palavras dele, a notícia tinha corrido mais rápido do que previ. Provavelmente todos ficaram comentando o motivo de Kaian ter ido até ali.

— Sim, é verdade. — desviei os olhos para o tecido do vestido que descia por meu ombro, ainda parecia irreal. — Meu pai colocou essa ideia na cabeça e nada do que eu diga faz ele desistir.

— Porque vai se casar com um maldito lobisomem e não comigo?

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