Capítulo Dois
Meus pais apoiaram totalmente a minha decisão.

Depois de conversarmos, fui levá-los ao aeroporto.

Quando voltei para casa, André ainda não tinha retornado.

Minha dor no estômago estava piorando. Abri a caixa de remédios, mas percebi que os analgésicos já tinham acabado.

Fechei os olhos, esgotada. Antes, eu sempre deixava os remédios prontos. Mas, depois que passei a viver com o André, ele fazia questão de cuidar disso. Ele comprava todos os remédios, me trazia com um copo de água morna, falava comigo com toda delicadeza até eu tomar... E quando os efeitos do remédio me deixavam tonta, ele ainda fazia massagem na minha barriga com todo carinho.

A dor estava insuportável. Pensei em ligar para André, mas hesitei com o celular na mão.

As cenas dele me abandonando por causa da Selena, uma atrás da outra, vieram à minha cabeça.

No fim, soltei um risinho irônico e decidi ir sozinha ao hospital.

Na emergência, Letícia — minha colega de plantão — franziu a testa assim que me viu:

— Você não tinha casamento hoje? O que está fazendo aqui essa hora? Cadê o André?

— Ele está ocupado. — Respondi com um sorriso.

Letícia não aguentou e reclamou:

— Tudo bem ele estar ocupado, mas mesmo assim... devia estar aqui com você. Você tá com tanta dor que nem consegue ficar ereta. Como é que ele não se preocupa?

Quando fui buscar a medicação, passei por acaso pelo quarto da Selena, vi André ao lado da cama dela. Aquela cena me fez me sentir ainda mais sozinha.

Selena parecia estar tendo um pesadelo. Agarrava a mão dele com força:

— Não me abandona, por favor… não me deixa sozinha...

André passou a mão na cabeça dela com todo cuidado:

— Fica calma. Eu tô aqui com você.

Meus olhos começaram a marejar, a mágoa crescendo no peito... mas mesmo assim, escolhi virar as costas e ir embora.

No dia seguinte, descansei em casa e comecei a empacotar tudo que era meu.

Apesar de ter vivido nesta casa por sete anos, no final, só consegui levar embora uma única mala.

Acho que fui silenciosa demais. Dois dias inteiros sem mandar uma única mensagem para o André, ele finalmente percebeu que algo estava errado e me ligou, de repente.

Na voz dele, só dava pra sentir incerteza:

— Você não veio trabalhar hoje... tá tudo bem?

— Tô com dor de estômago.

— Se cuida, tá? A Selena não tá conseguindo comer nada depois da alergia. Vou fazer uma sopinha pra ela e já volto pra ficar com você.

Antes que ele desligasse, ouvi a voz da Selena ao fundo:

— André, queria tanto tomar uma sopinha de cogumelo… Tem tudo aí na geladeira, você faz pra mim?

Foi aí que entendi. Ela já tinha recebido alta. E ele estava cuidando dela... na casa dela.

Selena é órfã e não tem ninguém. Mas será que alguém cuida de mim?

Passei a noite toda acordada. A dor no estômago até passou. Mas o peito… esse doía mais do que nunca.

No dia seguinte.

Entreguei minha carta de demissão à direção do hospital.

O chefe ficou chocado:

— Você vai sair? Mas por quê? Você conversou com o André? Já tinha largado a cirurgia por causa dele… Agora vai virar dona de casa?

Eu entrei no hospital na mesma época que André. Nosso nível técnico era igual. Mas como a cirurgia tomava muito tempo, acabei pedindo transferência para a área administrativa depois que decidimos casar — tudo pra poder cuidar melhor da casa e da nossa vida.

Mas agora… eu não quero mais casar com ele.

Sorri e balancei a cabeça:

— Pedir demissão não é algo que eu precise discutir com o André.

Foi nesse momento que a porta da sala se abriu com força. André me encarou com desespero, como se tivesse medo de que eu desaparecesse de repente:

— Íris, por que você pediu demissão? Por que não conversou comigo antes?
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