Quando voltamos para o apartamento, Ariana e seu namorado, Sam, já nos esperavam para o jantar.
— Vocês estavam preparando isso? — indaguei, ao sentir o cheiro da comida no apartamento. — Ariana cozinhando seria com certeza um milagre.
— Você realmente me conhece, eu não levo jeito na cozinha. — riu ela. Estava sentada no balcão da cozinha americana, com uma taça de vinho na mão. — Mas a mãe de Sam era uma excelente chefe, dona de um restaurante em Londres.
— Ela me ensinou uma coisinha ou outra. E sim, eu faço mais do que peixe com batatas. — completou Sam, saindo de perto do fogão e vindo me cumprimentar. Tommy está certo, o sotaque dele é irritante, pensei. — Oi, eu sou Samuel Williams, mas todos me chamam de Sam. — ele estendeu o braço.
Sam era um homem alto, de pele muito branca e cabelos negros. Seu rosto era oval, ele usava um terno com uma gravata borboleta e tinha um jeito de andar engraçado. Eu tive que me segurar para não chamá-lo de pinguim, pois não queria parecer rude.
— Jason Martell. — apertei sua mão. — É um prazer conhecê-lo finalmente.
— Digo o mesmo. Ouvi muito sobre você.
— Coisas boas, eu espero. — falei. Sam nos convidou para conversarmos na sala de estar enquanto o jantar ficava pronto. Ele e Ariana sentaram-se num sofá e eu me juntei à Tommy no outro. — Ele parece um pinguim, não é? — sussurrei no ouvido do meu filho, fazendo-o rir.
— Então, como foi o jogo? — indagou Ariana, quebrando o gelo.
— Os Giants perderam. — lamentei. — Eu queria comprar sorvete para Tommy e levá-lo na roda gigante para alegrá-lo, mas aparentemente ele tem dezessete anos. Como isso aconteceu?
— Filhos... Eles crescem tão rápido. — suspirou Sam. — Mal posso esperar para ter os meus próprios.
— Seus próprios filhos? — franzi a testa, confuso.
— Sim, nós planejamos ter filhos. — afirmou Sam, colocando a mão na perna de Ariana, que fitou o chão, um pouco envergonhada.
Por alguma razão aquilo me incomodou. E não apenas o toque dele em Ariana, mas como essa ideia de ter filhos. Eu nunca imaginei ela sendo mãe do bebê de outra pessoa, mesmo sabendo que algum dia ela se casaria e desejaria mais filhos. Porém, todos aqueles anos eu tinha sido o pai do filho dela e isso tornava nossa relação única, era algo que ela não tinha com mais ninguém. E por mais que tudo que eu quisesse era que Ariana fosse feliz, não podia ignorar uma sensação agoniante em meu peito.
— Com licença? — exclamei, com o tom de voz, quase pulando do sofá. Ariana e Sam se surpreenderam com a minha reação exagerada. — Tem crianças na sala. — completei, tentando amenizar a situação.
— Mas que clima desconfortável. — zombou Tommy, com um sorriso travesso no rosto. Ele provavelmente estava gostando da situação. — Eu vou pegar uma cerveja, o que acham? Para levantar o astral dessa sala. — brincou, se levantando em direção à geladeira.
— Vocês só vão deixar ele ir? — reclamou Sam.
— Ele está brincando. — expliquei, como se fosse óbvio.
— Agora vocês não vão me levar à sério? Nossa, como eu estou ofendido. — disse Tommy, voltando ao sofá com um refrigerante em mãos.
— Tivemos um jantar extremamente agradável, eu diria. — disse Sam, quando eu estava saindo, depois que o jantar acabou. — Fico muito feliz com a nossa amizade e espero que possamos repetir qualquer dia, quem sabe fazer uma programação só dos garotos.
— Claro... vou olhar minha agenda. — respondi.
— Excelente! Eu adoro agendas.
Assim que eu me despedi de Tommy, Ariana me acompanhou até o elevador.
— Você vai ser legal com ele, não vai? — falou ela.
— Eu só pensei em uma piada sobre ele. Está bem, talvez eu tenha pensando em duas ou três. Eu sou uma pessoa ruim?
Ariana revirou os olhos.
— Está feliz por mim? — questionou, fixando seus olhos nos meus.
— Claro que estou feliz por você. — afirmei, honestamente. Houvera um momento, no jantar, em que Sam disse algo, provavelmente uma piada interna, que fizera Ariana gargalhar. O sorriso dela era tão brilhante que parecia iluminar o cômodo. Eram momentos como aquele que me faziam ter certeza de que a decisão que havia tomado anos atrás fora certa. E Ariana estava mais feliz assim. — Eu só não tive tempo para treinar as minhas piruetas de alegria.
— Agora eu quero ver você fazer essas piruetas.
— Na próxima vez, prometo. Até vou comprar um collant. E dependendo da minha performance, talvez eu me junte ao circo. — disse eu, fazendo-a rir. Em seguida, depositei um beijo rápido em sua testa e entrei no elevador. — Até mais, Ariana.
— Até mais, Jason.
O caminho de volta para New Heaven, iluminado por nada além das luzes da estrada e do farol do meu carro, era o pior momento do dia. Era quando eu precisava deixar minha família, meu filho, para trás e seguir para o meu apartamento vazio e solitário. James tinha aparentemente seguido o meu conselho e saído. Mesmo que estivesse em casa, não era como se ele se importasse comigo o suficiente aparecer e me desejar boa noite. No final do dia, era apenas eu e os meus pensamentos e ninguém com quem compartilhá-los.
Por isso, eu sempre acabava me dirigindo ao mesmo lugar, naquela mesma cadeira, naquele mesmo bar.
— O de sempre? — indagou o barman. Assenti com a cabeça. Tudo que eu conseguia pensar era que Sam quem estava com o meu filho e com Ariana e eu estava sozinho. E quando Tommy vinha passar o final de semana em New Heaven, ele sempre acabava preferindo passar o tempo trancado no quarto do que comigo.
— Jason, precisamos conversar. — alguém me chamou, quando eu estava saindo do bar e procurando um táxi. Era Eliza. Eu tinha tomado alguns copos de uma bebida muito forte e estava levemente bêbado.
— Não sabia que viria hoje. — falei, com um sorriso atrevido, analisando-a de cima para baixo. — Devemos entrar e pedir uma bebida para você.
— Jason...
— Ou talvez devêssemos pular essa parte e ir direto para a minha casa. — sussurrei, me aproximando para beijá-la.
— Não hoje, não. — disse ela, me empurrando.
— Desculpe.
— Eu deixei milhares de mensagens na sua caixa postal. — disse ela.
— O que te faz pensar que eu ia querer ouvir sua voz em milhares de mensagens?
— Eu não sei o que está acontecendo com você, mas está afetando a nossa empresa.
— Por favor, Eliza, esse não é o lugar para discutir isso...
— Não sei se está lembrado, mas nosso diretor operacional se aposentou. E eu e você estamos competindo por isso. Quem fizer a melhor apresentação de um novo projeto fica com o cargo, lembra? E eu adoraria ganhar de você nessa disputa pela promoção. Fazem meses que você adia as apresentações, dizendo que precisa de mais tempo, e a verdade é você não está nem tentando! — respirou fundo. — Seu irmão, Jamie, me ligou.
— Meio-irmão. — corrigi, irritado. — O que diabos isso tem a ver?
— Ele pegou o seu pen-drive sem querer. O pen-drive, onde a apresentação deveria estar. E nele, não havia apresentação alguma. Apenas desenhos, rabiscos malucos, ou sei lá.
Merda.
— Ele não deveria mexer nas minhas coisas. — resmunguei.
— Esse não é o ponto! O ponto é que nós deveríamos fazer essa apresentação amanhã! O chefe pode acreditar nas suas desculpas esfarrapadas, mas eu não. Nós precisamos urgentemente que alguém assuma esse cargo, de preferência, eu. Não vou deixar a empresa decair por sua culpa. Ou você aparece com a apresentação amanhã ou eu conto para ele que faz meses que você está desenhando em vez de fazer seu trabalho!
Dito isso, Eliza saiu pisando firme.