capítulo 4

POV: Kael

Cinco anos.

Cinco malditos anos.

E ainda assim, meu lobo não se cala.

Ele uiva nas noites de lua cheia. Lembra o perfume que já não sente, o calor de uma presença que o tempo não conseguiu apagar.

Ayra está morta.

É o que todos dizem.

É o que repito.

Mas, mesmo assim… estou aqui.

No extremo norte da floresta.

No território dos renegados.

— Aqui foi o último ponto de atividade incomum. Informou Eros, meu batedor mais experiente.

— Pegadas. Rastros de acampamento. Mas desaparecem antes do rio. Como se tivessem sido apagados... de propósito.

Aproximei-me de uma árvore grossa, arranhando a casca com as unhas. A fera dentro de mim se agitava, inquieta, desconfiada.

Algo estava errado. Ou prestes a acontecer.

A floresta sussurrava. Mas se recusava a contar seus segredos.

— Os renegados têm se movido diferente ultimamente. Eros continuou. — Há boatos de uma alcateia nas sombras. Discreta. Extremamente bem treinada. E comandada por...

— Por quem?

— Um Alfa. Aruk. Exilado do leste. Há mais de uma década. Mas não lidera sozinho. Disse, hesitante. — Falam de uma mulher ao lado dele. Ninguém sabe o nome. Só... histórias.

Minhas costas enrijeceram.

— Que tipo de histórias?

— Chamam-na de A Loba Escarlate. Feroz. Invisível. Como parte da floresta. Ninguém a vê. Só sentem a presença... e recuam.

Fechei os olhos. Um calafrio subiu pela espinha.

Coincidência.

Tinha que ser.

— Provavelmente são apenas boatos. Murmurei, virando de costas.

Mas meu lobo rosnou.

Ele não acredita em coincidências.

Nem eu deveria.

De volta à fortaleza, o silêncio era sufocante.

Espalhei os mapas sobre a mesa. A fronteira norte. O rio coberto de névoa. A trilha abandonada.

Tudo levava ao mesmo lugar: a floresta das sombras.

Território neutro.

Terra de ninguém.

Ou de alguém que não queria ser encontrado.

Aruk era uma ameaça.

Mas não era ele que me tirava o sono.

Era ela.

A presença invisível ao seu lado.

A loba escarlate.

Um nome sem rosto. Um título sem origem. Uma sombra poderosa demais para ser ignorada.

Reina entrou sem bater, como sempre, com aquele sorriso que me dava náuseas.

— Ainda está obcecado com esses mapas? Disse, se aproximando com falsa leveza.

— Estou analisando uma ameaça.

— A única ameaça aqui, Kael, é essa fixação que você carrega. Cinco anos e ainda se recusa a me aceitar. O Conselho começa a sussurrar.

Ignorei.

— Alguma movimentação ao sul?

Ela bufou.

— Nada. Mas, se quer brincar de caçador, vá para o norte. Só não espere voltar com respostas.

Reina saiu, seus saltos ecoando pelo corredor de pedra.

Mas meu lobo continuava agitado.

E, naquele instante, a carta chegou.

Sorren, meu conselheiro mais antigo, me entregou o envelope com as mãos trêmulas.

Era antigo. Sem brasão. Selado com cera preta.

— Veio preso à pata de um corvo negro. Disse.

— Pousou diretamente nos portões da fortaleza. Sem magia detectada. Só... intenção.

Rompi o lacre.

Um pergaminho. Curto.

Apenas uma frase:

"O que você rejeitou floresceu. E agora tem garras."

Sem nome.

Sem assinatura.

Mas o cheiro...

Rosa selvagem.

O mesmo perfume que Ayra usava quando enfrentava o Conselho de queixo erguido.

Meu estômago afundou.

Não. Não podia ser.

Ela desapareceu. Nenhum corpo. Nenhum rastro.

Eu a rejeitei.

Ela sumiu.

Todos disseram que estava morta.

Até eu acreditei.

Até agora.

— Há pistas de quem enviou isso? perguntei, tenso.

Sorren hesitou.

— Rumores de que Aruk tem uma consorte. Uma loba misteriosa que ninguém vê. Só a chamam de Escarlate. Dizem que ela comanda com ele... há anos.

Meus dedos cerraram o pergaminho como se quisessem esmagar a memória.

Será?

Não.

Mas... e se fosse?

— Prepare os batedores, ordenei. — Vamos ao norte. Em silêncio.

— Vai enfrentar Aruk?

— Quero descobrir quem está ao lado dele.

Sorren baixou a cabeça.

— E se for... ela?

Não respondi.

Porque eu não sabia o que faria.

Se Ayra estiver viva...

Se ela se tornou a Loba Escarlate...

Se agora pertence a outro Alfa...

Talvez o erro não tenha sido só tê-la rejeitado.

Talvez eu tenha perdido o que jamais poderei recuperar..

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