Capítulo 3. Gratidão

Zoren ficou refletindo sobre o que Arlon deixou escapar sobre a caçadora. Achou que o amigo escondia alguma coisa, mas por quê? Ela foi encontrada com seis anos, a irmã de Demétrio desapareceu com seis anos, seriam a mesma pessoa? E se forem, como não souberam dela, se estava tão perto e com alguém conhecido que sabia que a estavam procurando.

Ele resolveu investigar e não deixaria barato essa história, caso confirmasse sua desconfiança. Iria até a casa de Uchôa, o mais rapidamente possível, seriam três horas de corrida na neve, mas iria motorizado para poder levar as caixas, quem sabe encontrava o carro dos caçadores pelo caminho.

Falou com os vigias que guardavam o depósito, avisando que pegaria algumas caixas. Foi até sua casa e pegou seu veículo de andar na neve, voltou ao depósito e pegou uma caixa de leite, assim como alguns chocolates, biscoitos e café solúvel, ajeitou tudo na carroceria, cobriu com a lona impermeável e saiu. 

Antes de sair da Alcateia, passou na casa de seu beta, avisou para onde estava indo e pediu que cuidasse da Alcateia enquanto estivesse fora, só então, saiu rumo aos penhascos, que ficam próximos a floresta de pinheiros. 

Levou uma hora a mais que o esperado e quando chegou, ouviu os gritos da fêmea ursa. Desceu do carro correndo, se conhecia bem Uchôa, ele estava apavorado, sem saber o que fazer. 

Bateu na porta com força e outro grito se fez ouvir. Entrou, sem pedir permissão, tirou o excesso de roupas, arregaçou as mangas da camisa e foi até a pia da cabana lavar as mãos. Correu para o quarto e Blanca estava sofrendo, com o rosto molhado de suor e a expressão de sofrimento.

— Zoren… — disse Uchôa surpreso e assustado, sem saber o que fazer.

— Sai daí, ursão, deixa que eu faço isso — empurrou o pai para o lado e primeiro passou as mãos na barriga dela para sentir se os bebês estavam encaixados. Parecia uma confusão de membros, mas já tinha um, pronto para nascer.

— Quando a dor vier, faça força como se quisesse ir ao banheiro. — quando terminei de falar, ela me olhou com olhos arregalados, mas então, a dor veio.

— Ahhh — gritou ela.

— Força, Blanca, depois que o primeiro sair, os outros vêm atrás. 

Depois de mais três contrações, o primeiro nasceu, um menino saudável, parecido com o pai, porém, os ursos são uma incógnita, já que nascem muito pequenos e sem  pelo algum.  As contrações deram uma trégua e enquanto o pai limpava e enrolava seu filhote, Zoren passou a mão na barriga estufada e sentiu que mais um filhote se encaixava.

— Se prepare para empurrar Blanca.

— Mas, jáááá….

Assim que veio a contração e ela fez força, o bebê saiu. Mais um menino que se esguelava mais que tudo, ao contrário do irmão, que só deu um gritinho. 

— Ahhhhhh

Pronto, o terceiro nasceu, uma menina e nesta hora a porta da sala foi aberta e o aroma mais delicioso do mundo entrou na cabana dos ursos, suplantando todos os outros odores.

Em dias como este, onde  a neve cobre tudo, mas o céu está azul e tudo está branco, ninguém quer sair de casa e enfrentar as intempéries, mas para Ava, era pior. São os dias mais difíceis para ela enfrentar, porque nos recônditos da  memória da caçadora, as piores lembranças surgem e ela não compreende perfeitamente, pois são de muitos anos atrás. 

Lembranças de quando ela era apenas uma criança que adorava deslizar na neve. Lembranças de quando tinha um pai, uma mãe e um irmão e ela vivia sorrindo e brincando com as crianças. O que aconteceu depois, ficou escondido nas profundezas de seu cérebro.

Mas neste momento, tudo que preocupava a sua mente era o parto difícil de Blanca, sua amiga. Ela havia feito um exame de ultrassonografia e sabia que gerava  trigêmeos. As ursas geralmente tem só dois filhotes, mas ela está esperando três e com sua constituição miúda, tem sido uma gestação difícil. Pelo menos, sem a ameaça da presença dos na região, era mais tranquilo andar entre as duas casas, sem correr perigo.

Foi por isso que Ava levantou cedo, tomou a sopa que Uchôa tinha trazido e saiu para ir à casa de sua amiga. Quando estava chegando próximo à casa, ouviu os gritos de dor de Blanca e se assustou, correu e entrou pela porta sem bater, paralisando. Um homenzarrão saiu do quarto com as mãos ensanguentadas e olhou em seus olhos, como se ela fosse a última bolacha do pacote.

Uchôa gritou lá de dentro do quarto:

— FECHA A PORTA!  Ava, por favor, ajude aqui. 

Ela, com o susto, despertou e rapidamente fechou a porta e passando por um Zoren petrificado, entrou no quarto, vendo que os filhotes já haviam nascido e Uchôa limpava a fêmea, então foi até Blanca para terminar o serviço.

— Preciso que você faça só mais um pouquinho de força, Blanca, a última placenta ainda não saiu — Ava apoiava os joelhos dobrados de Blanca para ajudá-la e logo a placenta saiu e o trabalho da ursa terminou.

Zoren entrou com uma bacia cheia de água morna e colocou ao lado de Ava, também pegou as toalhas brancas que já estavam separadas. Em um instante, Ava limpou sua amiga e com a ajuda do macho Alfa, trocou as roupas de cama e pediu para que saíssem para poder trocar a mãezinha.

Quando Ava abriu a porta do quarto e deixou o feliz papai entrar, Blanca estava linda recostada nos travesseiros e com seus filhotes espalhados sobre ela. Ela ficou olhando a interação entre o casal e os filhotes tão pequeninos e carequinhas. Apesar da barriga de Blanca ter crescido em demasia, os filhotes, como todos os filhotes de urso, eram bem pequenos. Cabiam na palma da mão de Uchôa, uma mão grande de lenhador.

Ava sentiu que o macho a estava encarando e resolveu sair do quarto e fechar a porta, não queria que a conversa que teriam, atrapalhasse o casal. Foi até o fogão a lenha, atiçou o fogo que já estava aceso e procurou nos armários um pouco de qualquer coisa para fazer uma bebida quente. Levantando-se Zoren, pediu que ela esperasse e saiu.

Ava cruzou os braços olhando para a porta, curiosa e logo ele voltou com uma grande caixa nos braços. Colocou no chão, próximo a mesa e retirou de lá: leite em pó, café solúvel, açúcar em cubos e barras de chocolate. Ela olhou para tudo aquilo e lembrou de ter visto na barraca dos caçadores.

— Então, era você? — perguntou ela, sem entrar em detalhes, pois se não fosse ele, não saberia sobre o que estava falando.

— Não, não era eu, era minha equipe de rastreio e segurança. Se você sabe disso, era você que estava lá, não?  Você é ela: a Caçadora das Sombras? — Devolveu a pergunta.

Ela não respondeu, pegou as coisas que ele tirou da caixa e preparou um capuccino. Quando estava pronto, serviu duas canecas e levou para o casal dentro do quarto.

— Capuccino! Que delícia você fez, Ava, obrigada — exclamou Blanca, quando viu o líquido cremoso e quente.

— Foi o grandalhão quem trouxe, foram os lobos dele — virou-se para falar com Uchôa — que chegaram  no acampamento, depois de mim e pegaram o despojo.

— Posso entrar? — O macho em questão colocou a cabeça na fresta da porta.

— Claro, amigo, pode se achegar, você tem todo o direito — falou Uchôa, sorrindo.

— Trouxe uns biscoitos, também — entregou o pacote de cream cracker para ele, que abriu e deu à sua fêmea.

— Obrigada por tudo, a vocês dois, Zoren chegou no momento exato, para não deixar esse ursão desmaiar e Ava, como sempre, ligeira e eficiente, completou o serviço. Sabe que vocês combinam? — Blanca nem imaginava o quanto…

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