Foi como se Clara tivesse tomado um soco no estômago. Como assim, morreu? pensou, incrédula. Mas ele havia melhorado...
Ainda sem ar, puxou Henrique para dentro e fechou a porta. Suas mãos tremiam quando desligou as bocas do fogão. Já não sabia o que fazer. Ofereceu água a Henrique, que estava sentado na sala, mas ele nem notou. Ela se sentou à sua frente, na mesa de centro, e segurou as mãos dele.
Os olhos dele ainda vasculhavam dentro de si, como se procurassem algo que se perdeu para sempre. Foi de partir o coração vê-lo tão devastado. Um homem grande como ele... parecia uma criança. Clara quase teve a sensação de que poderia carregá-lo até o quarto no colo, como fazia com Antônio quando ele adormecia no sofá. Mas de certa forma, ela sabia: quando perdemos os pais, algo em nós retorna à condição de infância. O desamparo é o mesmo.
Ela se lembrou de quando perdeu a mãe. Tinha apenas sete anos. Lembrava da mão fria do pai levando-a até o velório e depois desaparecendo. Um mar de