A casa parecia mais viva naquele dia — viva de um jeito que dava para perceber no chão, no ar, no modo como a luz entrava pelas frestas. Era como se cada tábua tivesse acordado de um sono longo e, agora, observasse tudo com interesse renovado.
Helena notou isso ao passar perto da porta proibida: a madeira parecia mais… cheia. Não estufada de umidade, mas de presença. Como se alguém estivesse parado do outro lado, respirando devagar.
Lyria parou ao lado dela.
— Mãe… ela quer dizer algo.
A menina encostou a mão no batente, mas a casa respondeu com um estalo leve. Não de ameaça — de aviso.
— Ainda não — Lyria murmurou, repetindo a sensação. — Ela não quer que a gente abra. Mas quer que a gente chegue mais perto.
Helena sentiu a estranheza se espalhar pelo peito. Aproximou-se, devagar, como se se aproximasse de uma fera adormecida.
Kael chegou logo atrás, silencioso como sempre. Seus olhos correram pela porta, pela marca nova na madeira — três riscos finos, alinhados como dedos marcando t