Mundo de ficçãoIniciar sessãoAurora sempre teve um jeito de se encolher no próprio mundo quando o dia começava a escurecer. Era como se a noite trouxesse memórias que ela ainda não sabia expressar, sombras que ela não conseguia colocar no papel, medos que não tinham nome, mas tinham forma. E naquela tarde cinzenta, em que o céu parecia pesar sobre o telhado da mansão Albuquerque, o silêncio da menina estava mais denso do que de costume.
Eu estava sentada no tapete do quarto dela, ajudando a montar um castelo de blocos de madeira. Aurora encaixava as peças com cuidado quase matemático, como se cada detalhe fosse vital para a estrutura não desmoronar. Observei o modo como ela franzia o nariz enquanto pensava, o modo como mordia a ponta dos lábios, e senti aquela familiar pontada de ternura que vinha toda vez que eu a via se esforçar para existir num mundo que, por algum motivo,







