A delegacia está estranhamente silenciosa.
O som das teclas apressadas e dos telefones que costumavam tocar sem parar foi substituído por um ambiente contido, quase contemplativo. Muitos agentes estão em campo, outros recolhidos a salas fechadas, afogados em relatórios e burocracias.
Celina atravessa o corredor com os passos firmes e silenciosos de quem conhece aquele prédio com mais intimidade do que gostaria. As solas dos seus sapatos mal fazem ruído contra o piso encerado. Seu olhar passeia pelas portas entreabertas, pelos quadros de avisos, pelas expressões tensas que cruzam com a sua — mas sem jamais se demorar em uma só direção.
Ela observa tudo, como uma sombra. Sem parecer que está observando nada.
— O que está acontecendo? — pergunta a uma detetive sentada ao lado de uma pilha de documentos.
A mulher nem ergue os olhos.
— Os caras do cassino foram liberados — responde, com um tom indiferente, quase entediado.
Celina cerra os punhos, a raiva subindo como uma labareda silencios