Cedric pegou a pasta de Ava e a colocou na mesa, lembrando a Blaine a única coisa que realmente importava.
— Blaine, nossa missão não mudou. A investigação sobre a morte de Ava e a conexão com a Bluemoon continua sendo a nossa prioridade. Não se distraia, mas a observe a distância.
— Certo, meu Alfa.
— Bom. Então, a partir de agora, ela está sob vigilância constante. Fique de olho nela. Observe cada movimento, cada contato. Se ela é a peça que vai nos levar a Viper e à verdade sobre Ava, eu a usarei de volta.
Blaine assentiu, compreendendo que a Luna potencial, era agora, apenas um peão na vingança de seu alfa.
Cedric respirou fundo, fechando os olhos por um momento. Apesar de todo o ódio e as provas de que Skyla era uma espiã manipuladora, ele sentiu a necessidade premente de vê-la, de sentir a pele dela novamente.
Ele se levantou, determinado.
— Agora, vou deixar a minha refém respirar, mas logo vou vê-la. Quero ver o quão bem ela finge.
Blaine fez uma reverência e viu Cedric sair para se encontrar com sua nova companheira/espiã. O Beta sabia que a guerra de Cedric contra a Bluemoon era mais fácil do que a guerra que ele travaria contra o seu próprio coração.
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Naquela noite, no caminho acelerado para casa, as duas amigas mal esperaram a Skyla se acomodar no banco de trás. O cheiro forte de um lobisomem desconhecido impregnava o ar do carro, e a fúria e a preocupação delas se misturavam ao pânico da Skyla.
— Desembucha, quem é ele? — Começou Leona, virando-se no banco do passageiro para encará-la. Os olhos dela, normalmente brincalhões, estavam sérios, exigindo a verdade.
Skyla enrolou o cabelo, jogando-o para o lado, sentindo um calor subindo por sua nuca e o ponto dolorido latejando. Ela se abanava com a mão, tentando acalmar a febre que era a presença daquela camisa.
— Eu não sei. — Skyla respondeu, a voz pequena, quase inaudível.
Drika, que dirigia, freou o carro bruscamente na lateral da estrada, virando-se para Skyla completamente, o rosto pálido e assustado. Leona também se virou, a surpresa se transformando em incredulidade.
— "Não sabe"? Skyla, o que foi que você fez? — Drika sibilou, o medo por ela superando a raiva.
Drika, com a mão tremendo, apontou para o pescoço dela. Skyla massageou a área, sentindo o calor queimar pela mordida do desconhecido.
— Seu pescoço! — Leona gritou, o som agudo e cheio de horror. — Ele te marcou!
O coração de Skyla falhou uma batida, depois começou a palpitar de forma dolorosa no peito. O desespero a consumiu, esmagando-a contra o assento. Era real. O que parecia ser apenas uma fantasia selvagem agora era uma sentença de risco de vida.
— Ah, não, eu vou morrer. — As palavras saíram em um murmúrio desesperado. As mãos de Skyla cobriram o rosto, mas não podiam esconder o tremor incontrolável.
Leona tentou se recompor, forçando um sorriso hesitante, desesperada para confortar a amiga.
— E se ele for seu companheiro? Você está viva, Sky! Isso significa algo!
— Meu companheiro é o Cillion! E vocês sabem! — Skyla rebateu, a voz embargada pela dor e negação. Ela precisava que Cillion fosse seu companheiro. Era a única maneira de legitimar sua vida e sobreviver ao caos de sua família.
Agora foi Drika quem tentou consolá-la, estendendo a mão para tocar seu joelho.
— Mas e se o Cillion não for seu companheiro e ele sim? Pense no que aconteceu. Você, que nunca sente nada por não ter loba, ficou no cio por ele.
— Parem de besteira! Sei que vocês não gostam dele, mas ele é o meu companheiro! — Skyla cobriu o rosto com as mãos, desolada. — Oh, meu Deus, eu vou morrer mesmo... Por que, Deusa? Por que me fez reagir daquela forma? - Skyla lamenta, a voz cheia de autodepreciação.
— Dê uma chance, ok? — Pediu Drika, a voz irritada pela teimosia da amiga.
Leona concordou, a seriedade voltando aos seus olhos:
— Sim, Sky, e se você não morrer hoje à noite, você vai acreditar que o Cillion não é o seu parceiro? Essa marca será a prova.
Skyla suspirou, a derrota pesando em seus ombros. Drika voltou a dirigir para casa, mas a tensão dentro do carro era quase palpável.
— Não é melhor você ir para a minha casa tomar um banho? — Ofereceu Leona, preocupada. O cheiro do desconhecido era um risco.
— Não. Eu sumi a noite toda, meus pais vão me matar de qualquer forma. — Skyla sentiu um arrepio. Ela não podia arriscar que Cillion soubesse, mas o medo de seus pais era mais antigo e mais concreto.
— Mas eles vão sentir o cheiro dele em você! E a marca... — Insistiu Drika, igualmente preocupada.
Skyla ajeitou o cabelo para tampar a marca do companheiro, uma ação instintiva. Ela as abraçou com carinho, forçando um sorriso que não era convincente.
— Obrigada pelo carinho, meninas, mas essa hora eles não estarão em casa.
“— Eu espero,” ela rezou.
Durante o caminho, Leona ligou para Cillion, informando que Skyla estava bem e que estavam indo para casa. Era uma mentira necessária para ganhar tempo.
Não demorou para que chegassem na frente da casa de Skyla, uma construção grande e imponente que, para ela, parecia mais uma prisão. Ela hesitou, nervosa, olhando a fachada como se fosse um monstro adormecido.
Mandou suas amigas para casa. Um abraço rápido, um aceno, e ela estava sozinha.
Entrou com o coração martelando no peito. O medo era palpável, misturando-se ao persistente aroma de pinho do estranho que ainda a envolvia como um manto de culpa. Ela temia que seus pais sentissem o cheiro forte do sexo ilícito e, pior, o poder da marca que o corretivo de Leona mal conseguia cobrir.
Ela entrou na ponta do pé, movendo-se o mais rápido que podia, com a cabeça baixa, na tentativa de evitar que qualquer vestígio de seu pecado fosse detectado. Seus olhos azuis estavam fixos na porta do quarto.
Quase alcançando a segurança, ela esbarrou em alguém.
Dália, sua irmã mais nova, sorriu maliciosamente. O sorriso não chegou aos olhos, que imediatamente se estreitaram ao farejar o ar. Dália tinha recebido sua loba, e o faro dela era aguçado.
— Você dormiu com um estranho? — Dália sussurrou, mas havia triunfo em sua voz.
O corpo de Skyla enrijeceu, e o pânico tomou conta. Ela precisava da irmã do seu lado.
— Por favor, não conte aos nossos pais e nem ao Cillion, eu te imploro! — Ela balbuciou, agarrando o braço da irmã. — Dália, eu te dou o que quiser!
O sorriso de Dália se alargou, frio e cruel.
— Lamento, não há nada que você queira me dar que eu queira. Mãe! Pai! A Skyla dormiu com um desconhecido!
O grito de Dália foi alto e malicioso. Skyla sentiu o chão desabar sob seus pés e correu para o quarto, tentando fechar a porta com urgência.
Mas antes que Skyla conseguisse trancar, sua mãe a arreganhou, abrindo-a com uma fúria selvagem. O rosto da matriarca estava contorcido de ódio e desonra.
— Você é uma vergonha para a nossa família, vadia! — A mãe rugiu.
Seu coração se apertou. Sua mãe a estapeou com tanta força que a fez cambalear e cair na cama. O anel da mãe raspou em sua bochecha, deixando uma sensação de queimadura.
— Por favor, mãe! — Skyla implorou, as lágrimas vindo pela primeira vez.
Nesse momento, seu pai, o Beta da Matilha, irrompeu pela porta. A ira que o consumia era mais que fúria de pai; era a violência fria de um lobo em posição de poder, que via sua reputação manchada. Seus olhos injetados cravaram-se em Skyla.
Ele a pegou pelo pescoço, não com a mão humana, mas com a força animalesca de seu posto, e a ergueu do chão. O ar foi imediatamente cortado. Ele a bateu com uma força brutal contra a parede, um impacto seco que estalou nas costas dela, e a fez escorregar lentamente para baixo.
— Desgraçada! Você não é nada além de uma aberração sem lobo, e ainda mancha o meu nome! Eu vou te matar! — Ele rosnou, a voz grave e autoritária, usando a dor dela para reafirmar seu poder.
O mundo girou e ficou vermelho nas bordas da visão de Skyla. Ela sentiu uma dor excruciante nas costas, como se suas vértebras tivessem sido estilhaçadas. O ar foi roubado de seus pulmões. Seu coração martelava, o medo da morte se tornando real. O aperto em seu pescoço, precisamente sobre o ponto da marca, era esmagador, e parecia que ele estava deliberadamente tentando rasgar o laço recém-formado. Ela via pontos escuros dançando em seus olhos azuis.
— Papai, você vai matá-la de verdade! — Dália fingiu a voz de boa moça, agarrando o braço dele, mas o aperto era mais de uma cúmplice do que de uma protetora. Skyla viu a ponta de satisfação no sorriso perverso da irmã. Dália era mais falsa que nota de três reais.
O pai a encarou, mas seus olhos não demonstravam hesitação, apenas nojo. Ele manteve o aperto, desfrutando do terror nos olhos da filha. Sentindo-se fraca demais para lutar ou até mesmo tossir, o corpo de Skyla cedeu. O som do sangue escoando cessou em seus ouvidos.
A última coisa que ela viu, antes que tudo escurecesse completamente, foi o rosto furioso de seu pai, o Beta da Matilha, e o sorriso satisfeito de Dália, que havia conseguido entregar sua irmã ao castigo.