Depois que Laura saiu da sala voltando ao seu comportamento normal, eu me foquei no trabalho.
Se ela não quer tenho que aceitar e não vou mais tentar nada com ela.
Acabo de finalizar a reunião com o advogado do senhor Gouveia e tive que fazer uma contraproposta de um novo contrato oferecendo o serviço que ele está exigindo, mas que não faz parte do contrato atual, isso me deixou um pouco estressado e daqui a trinta minutos já tenho que sair para encontrar um cliente.
Quero dar espaço a Laura, mas vou precisar dela nessa reunião que vai ser um almoço no restaurante próximo daqui.
Decido ligar para a mesa dela e informá-la sobre isso.
— Laura, está tudo pronto com os documentos da próxima reunião?
— Está sim, acabei de revisar tudo e já os coloquei no envelope separado.
— Tá ok, se prepare para ir comigo, vou precisar de você lá.
— Tudo bem, estarei pronta em dez minutos.
Desligo a ligação e começo a pegar minhas coisas, dou o tempo que Laura precisa para se aprontar e saio da minha sala indo de encontro à dela, quando a vejo já pegando sua bolsa e as pastas dos documentos tenho a certeza de que ela quer acabar comigo.
Ela está com os cabelos soltos e a maquiagem retocada realçando ainda mais sua boca deliciosa.
— Vamos, estou pronta.
— Estou vendo, tá pronta pra acabar comigo.
Ela ri e vai andando em direção ao elevador, rebola aquela bunda e lembro-me dela se esfregando em mim na boate.
Respiro fundo e tento desviar a minha atenção para outra coisa.
Descemos conversando sobre as pautas da reunião e ajustando tudo que preciso que ela anote.
Assim que saímos, já vejo meu carro que o manobrista trouxe, pego as chaves com ele e abro a porta para Laura entrar, ela agradece e se posiciona para sentar-se no banco do carona quando ouço uma voz alterada gritar seu nome, olho na direção da voz e vejo o mesmo sujeito da boate fazendo novamente um escândalo.
— Está indo pra onde com esse cara, Laura? Você não se dá mais ao respeito?
— O que você pensa que está fazendo, Álvaro? Some da minha vida, entenda que eu não sou mais nada sua e o que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta. — Laura diz no mesmo tom de voz que ele e eu vejo que está chamando atenção de todos ao redor.
Faço um sinal para os seguranças que já estão se aproximando e me coloco na frente de Laura de maneira que eu fique entre ela e o tal Álvaro.
— Rapaz, eu te aconselho a parar com o escândalo e deixar a Laura em paz de uma vez por todas, caso contrário não será só um nariz quebrado que você vai conseguir
— Isso é um assunto entre mim e ela, engomadinho, não se meta que da minha mulher cuido eu. — Ele esbraveja vindo na minha direção e meus seguranças o imobilizam antes dele tocar em mim.
— Tirem ele daqui — falo aos seguranças e me viro para Laura em seguida. — Você está bem? Vamos sair daqui, vou te levar em casa.
— Não estou bem, mas vou ficar, vamos para a reunião, ficar em casa sozinha não vai resolver nada.
— Tem certeza disso? — questiono preocupado
— Absoluta, preciso trabalhar e logo estarei melhor. Vamos, senão chegaremos atrasados.
Ela entra no carro e eu faço o mesmo, dirijo em silêncio até o restaurante onde o cliente já está nos aguardando.
Durante todo o almoço Laura é totalmente profissional, anota tudo que o cliente pede para incluir no contrato, me auxilia na apresentação do que foi proposto e graças a ela a reunião foi ótima e o cliente sai de lá satisfeito aguardando que o novo contrato seja redigido com as cláusulas que ele pediu para acrescentar antes de assinar.
Apesar de tudo ter ocorrido bem na reunião, posso ver que Laura não está nada bem, seu olhar está vazio e sem o brilho que costuma ter.
— Obrigado, você é sempre perfeita no que faz — digo depois que o cliente vai embora.
— Não precisa agradecer, é o meu trabalho — Ela me responde seca sem nem olhar para mim.
— Mesmo assim obrigado, agora vamos, preciso passar em um lugar antes de voltar para a empresa.
Ela faz um sinal positivo com a cabeça e me acompanha até o carro, vê-la assim me incomoda demais, preciso tentar fazer seu brilho voltar, fazer seu sorriso voltar para seus lábios.
Sigo em direção ao destino do meu objetivo sem dizer a Laura para onde vamos, só espero que funcione e que ela goste.
Paro o carro e aviso a ela que chegamos, ela olha a fachada do local e me encara confusa.
— Por que estamos aqui?
— Vamos fazer uma visita. Você já veio aqui alguma vez?
— Não, vai ser a primeira. Mas por que me trouxe aqui?
— Para devolver o sorriso a certa assistente que estava muito tristinha até alguns minutos atrás. Acho que acertei, né? Sei que você gosta de chocolate e que é vegetariana.
— Nossa, se sua intenção é me animar, você acertou em cheio, eu sempre quis conhecer essa fábrica de chocolates vegano, mas como você sabe, se nunca falei sobre isso com você? — ela diz com animação e com seu brilho novamente nos olhos.
— Eu observo as coisas, Laura, principalmente em você.
Ri vendo sua empolgação, ela parece uma menina que ganhou um brinquedo novo.
Entramos para fazer a visitação e eu fico satisfeito a cada reação de Laura vendo o processo de produção dos chocolates, sei que é seu doce preferido e ao sair eu compro uma cesta com vários deles e dou a ela.
— Não precisa disso, Jhonatan, o passeio já foi um presente incrível.
— Vai fazer essa desfeita depois que eu já comprei? Aceita vai, sei que você ama essas gostosuras aqui — digo apontando para a cesta.
— Ta bom, eu aceito, mas desse jeito vou engordar uns dois quilos.
— Se for para manter esse sorriso vai valer a pena. — Aproximo minha mão de seu rosto, aliso seus lábios com o polegar e falo em seu ouvido. — Acho que isso só vai te deixar mais gostosa.
— Jhonatan… — ela diz em um sussurro apoiando as mãos em meu peito. — Sobre nossa conversa de mais cedo… eu tenho medo de me decepcionar novamente, ainda estou me reerguendo, entende?
— Entendo perfeitamente, não se preocupe Laura, se você quiser podemos só curtir a companhia um do outro sem pressão, sem rótulos, no seu tempo e com suas regras.
— Posso te pedir uma coisa? — ela pergunta em um sussurro enquanto me olha profundamente.
— O que você quiser! — respondo na mesma intensidade.
— Me beija!
Era tudo que eu precisava ouvir.
Toco seus lábios com os meus em um beijo calmo totalmente diferente do primeiro que demos, ela entreabre a boca dando passagem à minha língua que busca pela sua, sinto seu gosto e é ainda melhor do que eu me lembro. Ela para o beijo buscando ar e me olha com um leve sorriso.
— Pelo horário que passamos aqui não dá mais tempo de voltar para a empresa. Você quer ir para algum lugar? — pergunto louco de tesão.
— Calma, vamos devagar, o dia hoje foi muito conturbado e eu preciso colocar a cabeça no lugar.
— Tudo bem, vou te levar em casa e quem sabe aproveitar mais dessa boca deliciosa — falo dando uma leve mordida em seu lábio inferior.
Coloco a cesta no banco de trás e abro a porta do carona para Laura, em seguida entro no carro e dirijo em direção à sua casa.
No caminho ela me lembra que amanhã tenho uma reunião às seis da manhã na empresa de um novo cliente, é um negócio muito importante e esse era o único horário que ele poderia me atender.
Chegamos em frente à sua casa. Eu estaciono o carro no seu portão e antes de descer ela me olha com aqueles olhos brilhantes e fica em silêncio, entendo isso como uma forma de dizer que ela quer o mesmo que eu, então avanço em sua direção lhe arrancando mais um beijo. Acho que já estou ficando viciado em sua boca.
— Obrigada por hoje, eu amei o passeio e o presente. Bom, agora vou entrar, pois amanhã temos que acordar cedo, não se esqueça da sua reunião.
— Como vou esquecer se minha assistente é tão competente que programa meu alarme para me acordar. — Nesse momento, mais um sorriso escapa de seus lábios e eu estou amando ver cada um deles. — Por favor, anote tudo que precisar passar por mim e o que não precisar você já sabe como resolver.
— Pode deixar, boa noite, Jhonatan.
— Boa noite e até amanhã.
Ela desce do carro e eu espero até que ela entre em seu portão para dar partida novamente.