A FILHA DO MEU AMIGO
A FILHA DO MEU AMIGO
Por: Sophie Castellan
CAPÍTULO 1

 

LÍVIA 


Existem amores que nascem devagar, como quem aprende a respirar debaixo d'água. Outros explodem de repente, como um incêndio que consome tudo em segundos. O meu não foi nenhum dos dois.

O meu amor nasceu no silêncio. Entre olhares que duravam um segundo a mais. Entre sorrisos que eu guardava só para ele. Entre a distância que todo mundo via — e a proximidade que só eu sentia.

Eu tinha quinze anos quando percebi que Dante Carvalho não era apenas o melhor amigo do meu pai.

Ele era o homem que eu queria para o resto da vida.


A casa estava cheia. Como sempre estava quando meu pai decidia reunir os amigos para um churrasco de domingo. Risadas altas, cerveja gelada, o cheiro de carne na brasa misturado ao som de música antiga tocando no som da sala. Théo corria pelo quintal com os filhos dos amigos do meu pai, e minha mãe organizava as saladas na cozinha enquanto conversava com as outras mulheres.

Eu estava sentada na beirada da piscina, os pés dentro da água, fingindo ler um livro que não conseguia processar uma única linha. Porque ele estava ali.

Dante.

Sentado na área gourmet, ao lado do meu pai, segurando uma garrafa de cerveja com aquela postura relaxada que fazia qualquer coisa parecer elegante. Ele vestia uma camisa azul-marinho com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços fortes, marcados por veias que desenhavam um mapa que eu queria memorizar. O cabelo escuro estava levemente bagunçado, como se ele tivesse passado a mão ali distraidamente — e isso o tornava ainda mais devastador.

Ele ria de algo que meu pai disse. Um riso baixo, contido, que fazia o peito dele subir e descer devagar. E então, como se sentisse o peso do meu olhar, ele virou a cabeça.

Nossos olhos se encontraram.

Foi apenas um segundo. Talvez menos. Mas foi o suficiente para o mundo parar.

Ele não sorriu. Não desviou o olhar imediatamente. Apenas me viu — realmente me viu — e algo mudou no ar entre nós. Algo que não deveria estar ali. Algo perigoso.

Então ele piscou, como se acordasse de um transe, e voltou a atenção para meu pai. Mas eu senti. Senti o peso daquele olhar na minha pele, como um toque que não aconteceu, mas deixou marca.

Respirei fundo e voltei os olhos para o livro. Mas as palavras continuavam embaralhadas. Porque tudo o que eu conseguia sentir era o calor do sol na pele — e o calor muito mais perigoso que aquele olhar tinha deixado em mim.


— Lívia, vem ajudar aqui! — a voz da minha mãe me tirou do transe.

Levantei devagar, ajeitei o biquíni e a saída de praia que cobria meu corpo, e caminhei até a cozinha. Sentia os olhos de algumas pessoas em mim — mas o único olhar que eu queria sentir era o dele.

Quando passei pela área gourmet, fingi não perceber que Dante parou de falar no meio da frase. Fingi não notar que os olhos dele me acompanharam até eu desaparecer pela porta da cozinha.

Mas eu sabia.

Ele tinha me visto.

E pela primeira vez, senti que talvez — apenas talvez — ele também estivesse começando a me ver de um jeito diferente.


A tarde passou devagar, como costumava passar em domingos assim. Eu ajudei minha mãe, conversei com Júlia (que tinha vindo com os pais), evitei Bruno, que insistia em flertar comigo mesmo depois de eu ter terminado com ele três meses atrás.

Mas o tempo todo, minha atenção estava dividida. Metade de mim prestava atenção nas conversas, nas risadas, nas pessoas ao redor. A outra metade estava presa nele.

Em como ele sorria quando meu pai contava uma história. Em como ele se inclinava para ouvir alguém falar, como se realmente se importasse com cada palavra. Em como ele ficou sério quando a mãe dele — Dona Laura, que estava sentada ao lado dele — mencionou Helena.

Helena.

A esposa dele.

A mulher que ele amou mais do que qualquer outra coisa no mundo. A mulher que morreu três anos atrás e levou com ela a luz dos olhos de Dante.

Eu lembrava de Helena. Ela era doce, delicada, sempre sorria para mim quando vinha às festas. Me tratava com carinho, como se eu fosse uma sobrinha distante. E eu gostava dela. Não conseguia odiá-la, mesmo sabendo que ela tinha tudo o que eu queria: o coração de Dante.

Mas Helena se foi. E Dante ficou.

Preso. Sozinho. Vivendo como se uma parte dele tivesse morrido junto com ela.

E eu... eu queria ser a pessoa que o trouxesse de volta à vida.

Mesmo sabendo que isso era errado.

Mesmo sabendo que ele nunca deveria me olhar daquele jeito.


A noite caiu, e aos poucos as pessoas começaram a ir embora. Dona Laura se despediu com um beijo na minha testa, e Felipe — irmão de Dante — bagunçou meu cabelo como sempre fazia desde que eu era criança.

— Está crescendo rápido demais, Lívia — ele disse, sorrindo. — Daqui a pouco vai estar formada, casada, com filhos...

— Calma, Felipe. Ainda tenho uns dez anos pela frente antes de pensar nisso — respondi, rindo.

Ele riu também, mas Dante, que estava ao lado dele, não disse nada. Apenas me olhou — e havia algo naquele olhar que eu não conseguia decifrar.

Algo que parecia... medo.


Quando todos foram embora e só restaram meu pai, Dante e Rafael — o sócio dele — sentados na varanda, eu subi para o meu quarto. Tomei um banho demorado, deixando a água quente lavar o calor do sol (e o calor muito mais perigoso que eu sentia por dentro).

Vesti um pijama de seda curto e me joguei na cama, pegando o celular. Júlia tinha mandado uma mensagem.

Júlia: "Você passou o dia inteiro olhando pra ele. Tá ficando óbvio, Liv."

Mordi o lábio e respondi.

Eu: "Não sei do que você está falando."

Júlia: "Claro que sabe. E ele também percebeu. Vi o jeito que ele te olhou quando você passou."

Meu coração disparou.

Eu: "Ele não me olhou de jeito nenhum."

Júlia: "Continua se enganando, amiga. Mas um dia você vai ter que fazer alguma coisa. Ou vai passar a vida inteira esperando?"

Tranquei o celular e joguei no criado-mudo. Virei de lado, abraçando o travesseiro, e fechei os olhos.

Júlia estava certa.

Eu não podia passar a vida inteira esperando.

Mas o que eu poderia fazer?

Ele era o melhor amigo do meu pai. Ele tinha dezoito anos a mais que eu. Ele ainda estava preso ao fantasma da esposa morta.

E eu... eu era apenas a filha do Roberto.

A menina que ele viu crescer.

A menina que ele nunca deveria desejar.

Mas eu sentia. Sentia que algo estava mudando. Que os olhares estavam durando mais tempo. Que a tensão no ar estava ficando impossível de ignorar.

E uma parte de mim — a parte imprudente, desesperada, apaixonada — queria forçar essa tensão até que ela explodisse.

Mesmo que isso destruísse tudo.


Adormeci e sonhei com olhares que duravam para sempre. Com toques que nunca deveriam acontecer.

Com um amor que eu sabia — no fundo, sempre soube — que ia me consumir por completo.



"O amor proibido não pergunta permissão. Ele simplesmente nasce — e cresce até que não caiba mais dentro do peito."

— Sophie Castellan

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