— Quero conversar com Clarisse de pai para filho, gostaria de saber se ela está de acordo com essas exigências do marido - Gregori, o ex-policial apaixonado pelas mulheres de sua vida trouxe a esposa de volta a conversa. — E se ela estiver de acordo, não vou interferir em nada, mas se ela não está gostando de ficar longe dos pais e as melhores amigas, ela não ficará.
— O que quer dizer? - A mulher abriu um sorriso enorme.
— Que se ela não quiser voltar, ela vai voltar para aquela cidade junto do marido e sumir do mapa como se isso fosse possível. Não quero mais a minha única filha morando longe.
— O Ronny virou um homem muito influente e firme em sua palavra. Ele não ficará sem a sua família. Ele tem um filho e é casado com nossa filha.
— Estou disposto a ir mais longe para ter a Clarisse por perto se ela não se sentir feliz ao lado daquele homem. - A esposa riu de canto. — E ele pode ser poderoso e rico e muito influente, mas não é mais que o pai dele.
— Se for pela felicidade da nossa filha, eu ajudo em tudo que for preciso.
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Quando a última mala foi fechada Clarisse deu alguns passos para trás apenas para revisar seu trabalho. Havia uma determinação em seu olhar que Ronny jamais podia ver. Podia escutar as risadas de Jasper e sua animação pela viagem. Se aproximou do quarto do pequeno assistindo os dois brincarem pelas roupas bagunçadas e brinquedos espalhados. Queria que todos os dias fossem daquele jeito. Seria mais fácil de lidar e engolir todas as loucuras do seu marido.
— Vamos nos atrasar se continuarmos apenas a brincar - Os dois deram atenção à mulher e Jasper correu para os braços da mãe. — Minhas malas estão prontas.
— Tudo bem, vou pedir para buscarem, o avião sai em duas horas. Temos um tempo - Clarisse confirmou e desceu para a sala trazendo o filho junto.
Estava tão animado que não parava de falar se seus avós que prometeu passeios maravilhosos pela cidade, sem contar que o avô prometeu uma volta de avião, mas não qualquer avião, um do exército como um policial. Esperaram por Ronny já do lado de fora da casa e diferente dos presentes ele não parecia tão animado assim.
Contudo, havia uma coisa que o fez ter um pingo de vontade de voltar para a cidade. A festa do pai com seu novo sócio poderia lhe dar mais oportunidades de crescimento em Valcolink, só por ser filho de quem o mundo abria as portas. Ao menos alguma coisa boa tinha que sair daquela viagem, não é?
— Tantas malas? Pretende ficar muito tempo? - Ronny questionou. Clarisse sorriu de canto arrumando o cinto do filho e então virou para o marido que lhe encarava esperando uma resposta... Uma BOA resposta.
— Não. Só até o aniversário do meu pai, nada mais que isso - Mentiu. Pretendia ficar o tempo que conseguisse após o aniversário do pai. Havia colocado todo seu trabalho dentro daquelas malas, suas roupas preferidas e as joias que ganhou de sua família, nada que foi dado pelo casamento ou Ronny. Então se tivesse alguma razão para ficar, ele não poderia dizer que estava com coisas que deu a ela.
— Vamos ficar em um hotel perto da empresa do meu pai. - Avisou para a mulher que riu de canto negando rapidamente. — O que foi?
— Vou ficar na casa dos meus pais com o Jasper, não quero ficar em hotel nenhum. Eu quero aproveitar bastante essa viagem para ficar com meus pais e em um hotel longe vou perder tempo indo para lá todos os dias.
— Todos os dias? - A mulher assentiu.
— Sim. Todos os dias, você tem algum problema com isso? - Sua pergunta saiu agressiva e sugestiva. Poderia ir contra ela agora? Claro que não.
Baixou os olhos para o tablet desfazendo alguns planos que já tinha feito para passear em família, porque se tinha uma coisa que queria fazer nessa viagem, era deixar claro para todos que Clarisse e ele estavam vivendo uma vida de casados muito boa, construíram uma família unida e feliz e não trocaria nada por esses momentos. E quando ele queria dizer que "queria deixar claro para todos" era apenas para Vicent, queria que ele entendesse que depois de tudo que aconteceu, Clarisse o escolheu por um motivo, e esse motivo era o amor que tinham um pelo outro.
O avião decolou no horário certo naquele dia os levando para os perigos de Seant... Ah sim, Ronny sempre pensaria naquela cidade como o maior perigo de sua vida. E quem poderia o julgar?
Desde a faculdade ele era apaixonado por uma garota linda que correspondeu ao seu amor, lhe defende de tudo e de todos para no final ela lhe trair com o pai a qual contava todos os seus desejos de futuro amoroso e profissional? Ele foi traído duas vezes e no final, ganhou a mulher para si, contudo, com um irmão que assumiu como filho, e sabia que Clarisse havia o escolhido porque sabia que conviver com Vicent era perigoso para sua imagem e a criação da criança era duas vezes pior. E se Clarisse nunca tinha dito aquilo em voz alta, conversou com Vivian e ele escutou.
A cidade parecia não ter mudado nada, as luzes, o frio, a sensação de voltar a um lugar a qual nunca deveria ter saído deixava o coração de Clarisse quentinho. Finalmente tinha voltado para casa e não iria desperdiçar essa oportunidade. Agarrou-se ao filho quando finalmente pousaram, era como se estivesse abrindo as correntes de uma prisão que ela mesma se colocou. E quem poderia lhe julgar agora?
Assim que desceu do avião com seu filho no colo, não conseguia esconder de ninguém o quanto estava feliz, e se animou ainda mais quando viu o amanhecer do sol iluminar as pistas do aeroporto lhe dando a sensação de estar em casa. Ah sim, com certeza ela estava em casa.
— Avisou aos seus pais o horário que chegamos? - Clarisse confirmou sem nem mesmo olhar para o marido, queria apenas observar aquele lugar. Lembrou-se das poucas vezes que viu o sol nascer também ao lado de Vicent, tudo com ele era incrível e marcante e nunca igual. — Porque eu acho que é o carro deles chegando.
Clarisse virou para saber se o que falava era verdade, e por sorte, seus pais estavam chegando e pararam próximo, Jasper despertou a tempo de descer de seu colo e correr em direção aos dois quando houve um grito. Clarisse fechou os olhos outra vez respirando o ar de sua casa. Aquele que tanto esperou.
— Não deveria ter avisado. Eu poderia os levar até a casa deles.