— Não deveria ter avisado. Eu poderia os levar até a casa deles.
— Ronny, chega! Pelo menos esses dias que vamos ficar aqui. Resolva suas questões com o seu pai, e deixa-me ficar com os meus em plena paz. Ok? Não quero que fique bravo, eu quero apenas ficar com eles. - Ronny iria protestar, porque em algum momento eles teriam que ficar juntos, jamais deixaria de dormir longe de Clarisse por mais de uma noite estando todos na mesma cidade.
Porém, Maressa parou perto dos dois e Clarisse desviou o olhar para a mãe dando um sorriso grande. Correu para seus braços e ambos se abraçaram com tanta força, que a mãe soube naquele momento que todos os esforços que tinha planejado para salvar sua filha ainda eram poucos. Ela estava sofrendo nas mãos daquele homem? Aquele mesmo que jurou amá-la? Que a tirou de casa prometendo um mundo feliz?
— Querida... Deixe-me olhar seu rosto, está tão bela, crescida, seis anos que ficou longe de mim. Não quero que isso volte a acontecer. - Limpou as lágrimas de Clarisse que escorriam e virou para Ronny que ria.
Um sorriso falso, falso demais.
— É um prazer rever a senhora também. - Ronny apertou a mão estendida assim como o de Gregori que se aproximou junto à criança que não parava de gritar tudo que iriam fazer — Eu não sabia que vinham buscar a Clarisse, pois os levaria para sua casa mais tarde.
— Viemos fazer uma surpresa, e não se preocupe, temos poucos dias para ficar com esses dois então eles estarão seguros - Maressa juntou suas mãos a de Clarisse e Jasper os levando para o carro.
— A viagem foi boa? - Gregori perguntou ao genro que assentiu com um mero sorriso. — Eu quero agradecer pelo tempo que dedicou a minha filha. Ela sempre me pareceu muito feliz. Isso é tudo que um pai quer para o filho.
— Claro que sim - Mentiu em todas as partes, Gregori além de não confiar mais naquele homem. — Se eles começarem a dar trabalho, apenas me ligue, estarei trabalhando, mas para minha família, eu deixo tudo de lado. - Deu as costas ao mais velho que voltou para o carro.
Maressa já estava agarrada a sua filha que chorava no colo, Jasper já dormia outra vez.
É, com certeza ela jamais voltaria para Valcolink.
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— Tome, fique a vontade. O frio de Seant deixa todo mundo com preguiça de existir. Então, tome mais café, e se quiser mais alguma coisa me conte, me conte tudo que deseja comer, está bom? - Sentou ao lado de Clarisse que acabou sorrindo com todo aquele carinho. O sabor do café de sua mãe era único. Nenhuma empregada daquela casa grande em Valcolink conseguiria reproduzir isso. Abriu os olhos devagar estudando o rosto bonito de sua mãe iluminar.
— Está muito bom. Obrigada por fazer isso, estava com muita saudade da sua comida - Maressa suspirou passando as mãos pelo cabelo de Clarisse, tão linda e especial, nem acreditava que finalmente tinha voltado para casa — Você parece triste.
— Não estou mais triste. Seis anos se passaram Clarisse, e não veio nos visitar. - A mulher assentiu com tristeza em seus olhos — Eu entendo que deve ter sido obra do seu marido, mas eu não acredito que ele tenha tanto poder assim sob você. Então, diga a mim se foi alguma coisa fizemos para te chatear.
— Não fizeram nada, mãe. O poder que o Ronny tem sobre mim é simplesmente porque eu estava numa cidade na qual eu não conhecia ninguém e não pude conhecer porque ele sempre esteve em cima de mim. Monitorando mensagens, ligações, cartas, fax, qualquer coisa que venha direcionado a mim.
— Como isso pode ter acontecido, ele mudou muito, era um homem incrível e apaixonado.
— A traição muda às pessoas. E depois que descobrimos a real data da criação de Jasper - Sorriu de canto tomando outro gole de café, Maressa sorriu de canto sabendo dessa história. — Ele enlouqueceu e achou que na menor das brechas eu sairia correndo atrás do Vicent.
— E você sairia correndo atrás do Vicent se pudesse? Seu pai me contou tudo depois, conversamos bastante e entendemos que o que você fez foi errado, meu amor. Mas entendemos que quando a gente ama, nada mais importa. Você seguiu seu caminho e quis experimentar algo diferente, tudo bem.
— Tudo bem nada. Isso me custou muito. Ronny não gosta do Jasper, em alguns momentos o maltrata, mente para ele e depois age como se fosse um grande pai. Ele é extremamente ciumento e não gosta nem mesmo quando passo tempo com o meu filho. - A mãe tornou a abraçar a filha, já tinha ouvido aquela história muitas vezes nas mensagens. — Eu não sei como vamos fazer isso, mas não quero voltar para lá.
— Gregori e eu conversamos também, você não vai voltar. E se voltar, quantos anos mais vamos ter que ficar sem nos ver? Ou leva a gente ou vocês não vão mais embora, entende? - Clarisse fechou os olhos deitando a cabeça no ombro dela.
— Estava com medo de vocês me mandarem voltar de novo. Estou tão feliz em estar de volta em casa. - Chorou mais até escutarem as risadas de Jasper e Gregori descendo as escadas. — Querido, está tão feliz, gostou do quarto?
— Sim, o meu avô é demais - Gritou correndo até sua mãe que deu a ele um pouco de café, a sua bebida preferida — Isso é muito gostoso. Essa cidade é perfeita - Saiu correndo pela casa rodeando as mesas e as cadeiras.
— Ele é bem energético e adora café, já tentei tirar isso, mas ele é bem insistente - Contou enquanto os dois apenas riam. — Ele já tem privações demais para ficar sem seu café.
— Ele disse que o quarto dele tem mais brinquedos que esse que arrumamos, mas que trocaria fácil - Sentou no outro sofá encarando as duas mulheres de sua vida — O que vai fazer agora? Pretende voltar para Valcolink ou todas essas malas são realmente para duas semanas?
— Eu vou ficar pai, não quero voltar nunca mais para aquela cidade. Não me deixem ir. - Contou quase implorando para o pai que confirmou — Eu posso ir procurar um apartamento se quiserem, não vou querer atrapalhar também.
— Jamais deixaria você sozinha, ainda mais agora. Sei que o seu marido não vai deixar que fique aqui, então temos que colocar um plano em ação para que ele não te leve. Sempre digo que o casamento é um laço para sempre, mas esse seu laço não está te fazendo bem. - Contou com toda autoridade e Clarisse assentiu — Eu tive uma ideia para nos ajudar com a sua "fuga".