Quando a última mala foi fechada Clarisse deu alguns passos para trás apenas para revisar seu trabalho. Havia uma determinação em seu olhar que Ronny jamais podia ver. Podia escutar as risadas de Jasper e sua animação pela viagem. Se aproximou do quarto do pequeno assistindo os dois brincarem pelas roupas bagunçadas e brinquedos espalhados. Queria que todos os dias fossem daquele jeito. Seria mais fácil de lidar e engolir todas as loucuras do seu marido.
- Vamos nos atrasar se continuarmos apenas a brincar - Os dois deram atenção a mulher e Jasper correu para os braços da mãe. - Minhas malas estão prontas. - Tudo bem, vou pedir para buscarem, o avião sai em duas horas. Temos um tempo - Clarisse confirmou e desceu para a sala trazendo o filho junto. Estava tão animado que não parava de falar se seus avós que prometeu passeios maravilhosos pela cidade, sem contar que o avô prometeu uma volta de avião, mas não qualquer avião, um do exército como um policial. Esperaram por Ronny já do lado de fora da casa e diferente dos presentes ele não parecia tão animado assim. Contudo, havia uma coisa que o fez ter um pingo de vontade de voltar para a cidade. A festa do pai com seu novo sócio poderia lhe dar mais oportunidades de crescimento em Valcolink, só por ser filho de quem o mundo abria as portas. Ao menos alguma coisa boa tinha que sair daquela viagem, não é? - Tantas malas? Pretende ficar muito tempo? - Ronny questionou. Clarisse sorriu de canto arrumando o cinto do filho e então virou para o marido que lhe encarava esperando uma resposta... Uma BOA resposta. - Não. Só até o aniversário do meu pai, nada mais que isso - Mentiu. Pretendia ficar o tempo que conseguisse após o aniversário do pai. Havia colocado todo seu trabalho dentro daquelas malas, suas roupas preferidas e as joias que ganhou de sua família, nada que foi dado pelo casamento ou Ronny. Então se tivesse alguma razão para ficar, ele não poderia dizer que estava com coisas que deu a ela. - Vamos ficar em um hotel perto da empresa do meu pai. - Avisou para a mulher que riu de canto negando rapidamente - O que foi? - Vou ficar na casa dos meus pais com o Jasper, não quero ficar em hotel nenhum. Eu quero aproveitar bastante essa viagem para ficar com meus pais e em um hotel longe vou perder tempo indo para lá todos os dias. - Todos dias? - A mulher assentiu. - Sim. Todos os dias, você tem algum problema com isso? - Sua pergunta saiu agressiva e sugestiva. Poderia ir contra ela agora? Claro que não. Baixou os olhos para o tablet desfazendo alguns planos que já tinha feito para passear em família, porque se tinha uma coisa que queria fazer nessa viagem, era deixar claro para todos que Clarisse e ele estavam vivendo uma vida de casados muito boa, construíram uma família unida e feliz e não trocaria nada por esses momentos. E quando ele queria dizer que "queria deixar claro para todos" era apenas para Vicent, queria que ele entendesse que depois de tudo que aconteceu, Clarisse o escolheu por um motivo, e esse motivo era o amor que tinham um pelo outro. O avião decolou no horário certo naquele dia os levando para os perigos de Seant... Ah sim, Ronny sempre pensaria naquela cidade como o maior perigo de sua vida. E quem poderia o julgar? Desde a faculdade ele era apaixonado por uma garota linda que correspondeu ao seu amor, lhe defende de tudo e de todos para no final ela lhe trair com o pai a qual contava todos os seus desejos de futuro amoroso e profissional? Ele foi traído duas vezes e no final, ganhou a mulher para si, contudo, com um irmão que assumiu como filho, e sabia que Clarisse havia o escolhido porque sabia que conviver com Vicent era perigoso para sua imagem e a criação da criança era duas vezes pior. E se Clarisse nunca tinha dito aquilo em voz alta, conversou com Vivian e ele escutou. A cidade parecia não ter mudado nada, as luzes, o frio, a sensação de voltar a um lugar a qual nunca deveria ter saído deixava o coração de Clarisse quentinho. Finalmente tinha voltado para casa e não iria desperdiçar essa oportunidade. Agarrou-se ao filho quando finalmente pousaram, era como se estivesse abrindo as correntes de uma prisão que ela mesmo se colocou. E quem poderia lhe julgar agora? Assim que desceu do avião com seu filho no colo, não conseguia esconder de ninguém o quanto estava feliz, e se animou ainda mais quando viu o amanhecer do sol iluminar as pistas do aeroporto lhe dando a sensação de estar em casa. Ah sim, com certeza ela estava em casa. - Avisou aos seus pais o horário que chegamos? - Clarisse confirmou sem nem mesmo olhar para o marido, queria apenas observar aquele lugar. Lembrou-se das poucas vezes que viu o sol nascer também ao lado de Vicent, tudo com ele era incrível e marcante e nunca igual. - Porque eu acho que é o carro deles chegando. Clarisse virou para saber se o que falava era verdade, e por sorte, seus pais estavam chegando e pararam próximo, Jasper despertou a tempo de descer de seu colo e correr em direção aos dois quando houve um grito. Clarisse fechou os olhos outra vez respirando o ar de sua casa. Aquele que tanto esperou. - Não deveria ter avisado. Eu poderia os levar até a casa deles. - Ronny, chega, pelo menos esses dias que vamos ficar aqui. Resolva suas questões com o seu pai, e deixa eu ficar com os meus em plena paz. Ok? Não quero que fique bravo, eu quero apenas ficar com eles. - Ronny iria protestar, porque em algum momento eles teriam que ficar juntos, jamais deixaria de dormir longe de Clarisse por mais de uma noite estando todos na mesma cidade. Porém, Nice parou perto dos dois e Clarisse desviou o olhar para a mãe dando um sorriso grande. Correu para seus braços e ambos se abraçaram com tanta força, que a mãe soube naquele momento que todos os esforços que tinha planejado para salvar sua filha ainda era pouco. Ela estava sofrendo nas mãos daquele homem? Aquele mesmo que jurou amá-la? Que a tirou de casa prometendo um mundo feliz? - Querida... Deixe-me olhar seu rosto, está tão bela, crescida, seis anos que ficou longe de mim. Não quero que isso volte a acontecer. - Limpou as lágrimas de Clarisse que escorriam e virou para Ronny que ria. Um sorriso falso, falso demais. - É um prazer rever a senhora também. - Ronny apertou a mão estendida assim como o de Gregori que se aproximou junto a criança que não parava de gritar tudo que iriam fazer - Eu não sabia que vinham buscar a Clarisse, pois os levaria para sua casa mais tarde. - Viemos fazer uma surpresa, e não se preocupe, temos poucos dias para ficar com esses dois então eles estarão seguros - Nice juntou suas mãos a de Clarisse e Jasper os levando para o carro. - A viagem foi boa? - Gregory perguntou ao genro que assentiu com um mero sorriso - Eu quero agradecer pelo tempo que dedicou a minha filha. Ela sempre me pareceu muito feliz. Isso é tudo que um pai quer para o filho. - Claro que sim - Mentiu em todas as partes, Gregory além de não confiar mais naquele homem. - Se eles começarem a dar trabalho, apenas me ligue, estarei trabalhando, mas para minha família, eu deixo tudo de lado. - Deu as costas ao mais velho que voltou para o carro. Nice já estava agarrada a sua filha que chorava no colo, Jasper já dormia outra vez. É, com certeza ela jamais voltaria para Valcolink.- Tome, fique a vontade. O frio de Seant deixa todo mundo com preguiça de existir. Então, tome mais café, e se quiser mais alguma coisa me conte, me conte tudo que deseja comer, ta bom? - Sentou ao lado de Clarisse que acabou sorrindo com todo aquele carinho. O sabor do café de sua mãe era único. Nenhuma empregada daquela casa grande em Valcolink conseguiria reproduzir isso. Abriu os olhos devagar estudando o rosto bonito de sua mãe iluminar.- Está muito bom. Obrigada por fazer isso, estava com muita saudade da sua comida - Nice suspirou passando as mãos pelo cabelo de Clarisse, tão linda e especial, nem acreditava que finalmente tinha voltado para casa - Você parece triste.- Não estou mais triste. Seis anos se passaram Clarisse, e não veio nos visitar. - A mulher assentiu com tristeza em seus olhos - Eu entendo que deve ter sido obra do seu marido, mas eu não acredito que ele tenha tanto poder assim sob você. Então, diga a mim se alguma coisa fizemos para te chatear.- Não fize
Quando a última mala foi colocada no chão, Ronny estudou todo o quarto de hotel antes de caminhar em direção às janelas e abrir uma por uma revelando a grande cidade de Seant, a mesma a qual tinha deixado a seis anos para viver de amor com sua esposa e o filho que não era seu. Deveria ter demorado muito mais tempo, jamais voltaria para aquela cidade onde teve seu amor roubado pelo último homem a qual ele achou que seria traído. Engoliu a seco pensando na possibilidade daqueles dois se encontrarem. Não, não deixaria isso acontecer jamais. Colocaria alguém para espionar Clarisse vinte e quatro horas por dia, queria saber seus passos e tudo que fazia naquela semana inteira que estaria ali. Se arrumou naquela manhã para almoçar com o grande Vicent Tornneagth, a pedido do mesmo. Não queria ter um encontro assim logo de cara, mas sabendo que outras pessoas estariam ali para cumprimentar o grande filho de Vicent, iria ajudar. Naquela semana se dedicaria a ser não apenas um filho, como tamb
Quando saiu de casa sabia que muita coisa estaria diferente ao voltar. Se despediu de seu filho com um nó na garganta, o que ele iria achar de morar ali e bem longe do pai? Ao menos do pai que ela arrumou para a criança?Como nos velhos tempos, o restaurante que escolheu aquele horário era o mais possível da cidade e de todos que podiam reconhecer Vicent Tornneght. Não queria que alguém os visse a ponto de tirar fotos e mandar para todos os sites como fofoca, Ronny enlouqueceria sem contar que a exposição ao seu nome chamaria atenção de Jasper que já estava grandinho insuficiente para vagar pela internet.Não demorou para ver seu ex-amante atravessar as portas do restaurante com seu costumeiro sorriso de deboche, usando suas roupas sexy e aquele cavalo longo rodeando o pescoço. Esse tempo todo que estava longe, Vicent ficou ainda mais bonito, mais maduro, com uma barba fala contornando seu rosto másculo. Tão diferente de Ronny, mas igual a ele. Se o filho ficasse velho como o pai, es
Assim que Vicent atravessou as portas de sua casa, notou que alguns convidados já estavam presentes, tentou disfarçar pelo caminho procurando por Ronny, o encontrando diante da mesa de bebidas. Ah, então ele havia virado outro viciado em bebidas? Tudo bem, isso poderia lhe ajudar de inúmeras maneiras, disso não podia abrir mão. — É um prazer ter você aqui – Cumprimentou um de seu amigo, e sua esposa — Está tudo bem agora? Pensei que chegariam mais tarde. — Filhos. Estão sempre nos surpreendendo. Você vai descobrir isso com um tempo. – O outro retrucou fazendo Vicent sorrir. — Eu sei muito bem, tenho um que de vez enquanto ainda preciso puxar a orelha. — Jura? Temos quatro – Tornou a rir ao lado de sua esposa, Vicent perdeu um pouco de seu sorriso notando aqueles dois. Muito bem casados depois de anos separados e cuidando de quatro crianças, e muito bem… — Crianças, três meninas de 6 anos e um menino de 5. São os amores da minha vida… quer dizer, não mais que minha linda esposa. –
A noite caiu bem em Seant… Trazendo sua beleza encantadora com a lua exibida no céu com todo seu brilho… Aquele lugar era maravilhoso, de dia, de noite, o clima chuvoso, o vento frio que arrepiava os pelos, tão como o gelo das ruas a obrigando a usar casacos grossos e botas para aquecer seus pés. Mas apesar das ruas daquela cidade serem absurdamente maravilhosas a quais podia caminhar por horas e nunca veria algo semelhante, não chegavam aos pés da beleza de uma família feliz.Ouvia atentamente sua mãe contar as histórias que tinha com suas amigas, salão de cabelo, manicure, até mesmo no clube do livro e todas as festas de reencontro dos aposentados da polícia, sempre haveria uma história nova, um casamento que acabou e uma amante diferente para ser oferecida como informação e fofoca anual para suas amigas e colegas. Na sala, seu pai jogava videogame com Jasper o ensinando como deve usar os poderes do personagem no jogo. Jasper não tinha isso em casa, sempre jogava sozinho. Até tent
Os pequenos passos para dentro do quarto de hotel a deixava insegura. Olhou ao redor tomando cuidado para não demonstrar insatisfação ao ter que deixar seus pais e o conforto da casa para seguir Ronny para o hotel apenas porque ele contou para o garoto e o encheu de esperanças de uma manhã maravilhosa com cavalos, e todos os tipos de doces que ele conseguia comer.Havia algumas caixas e sacolas por todo lugar, Ronny entrou no quarto também com a criança em seu colo, ambos muito animados e seguiram para a cozinha. O quarto era bem espaçoso com mais dois quartos separados com cozinha e sala. Luxo e conforto total, era apenas isso que Ronny podia oferecer.— Vou colocá-lo na cama, quer vir junto? – Ronny bradou carregando o menino pela casa. Clarisse sorriu com as risadas do filho, ele parecia tão feliz, tão animado, e queria que sua vida fosse o tempo todo assim.— Eu vou me trocar e dormir. – Deu um beijo na criança.— Essas sacolas são de roupas pra você, roupas lindas e caras, Dylan
A porta fechou atrás de si, seu coração estava despedaçado. Tateou o chão engatinhando até a porta do banheiro e subiu aos poucos se apoiando na pia e forçou seu corpo até chegar ao espelho. A marca em seu rosto estava evidente, passou a mão por ali e ainda formigava. Os cabelos dourados ao redor de seu rosto lhe deixava linda como uma jovem adolescente apaixonada, apaixonada por ninguém além do filho. Começou a chorar e até mesmo a lágrima que escorreu passando por cima da palma em seu rosto.Chorou mais apertando os olhos… Contudo, despertou quando escutou o som do celular ao longe. Virou para a porta e no primeiro passo que deu, quase caiu se apoiando na porta. Se apoiou nas paredes até a sala junto das sacolas chegando ao seu casaco na poltrona onde estava sentada.Até ali já tinha perdido a ligação, pensou em voltar para o quarto e apenas deitar, mas o celular tornou a tocar… podia ser sua mãe, pois ela foi a que inventou todas as desculpas para Ronny para que não fosse embora, m
Aquela manhã deveria ser perfeita. Acordou com Jasper em seus braços, o frio mínimo dentro do quarto lhe trazia conforto e felicidade ao mesmo tempo. O clima perfeito para continuar deitada ali e nunca mais levantar. Abriu os olhos novamente se atentando ao sol que entrava pelas janelas avisando a ela que já era outro dia. Rolou na cama com cuidado para não acordar a criança e sentou no colchão com muita dificuldade. O corpo inteiro estava dolorido da noite passada, nem se lembrava de como teve forças para correr até seu filho e o carregar no colo, uma vez que mal pôde falar com Vicent direito. Estava com tanta vergonha de mostrar-se daquela forma, tão frágil e machucada. O que será que ele irá fazer agora? Tinha pedido ajuda, e depois negou essa ajuda. Ele a olharia e a deixaria? Não, com certeza não porque ele disse que a amava… amava! Uma droga de amor dos homens daquela família, só pode.— Você acordou – Clarisse arrepiou dos pés a cabeça e virou aos poucos para o outro lado do