Vitório
- O que o médico disse sobre o garoto? – perguntou ao motorista, que havia entrado no escritório depois de uma batida firme na porta.
Tobias manteve a postura tranquila de sempre, e tirou o chapéu de chofer, alinhando os cabelos brancos.
- A Ludmila me contou que o menino vai ficar bem. Mas parece que o pobre garoto vinha sendo feito de saco de pancadas de alguém, seu Vitório.
- O que você quer dizer? – perguntou num tom brusco, cortando a ponteira do charuto. – Ele está machucado?
- Está sim, e não é pouco não. Dona Lucila chorou quando soube.
A mandíbula de Vitório se contraiu de forma quase imperceptível, mas seus olhos imediatamente mudaram de verde para prateados, brilhando implacavelmente com uma fúria intempestiva e crua.
O som do cortador de charuto rasgando a folha espessa pareceu um estalo seco no ar carregado do escritório.
Uma criança.
Um menino pequeno, magricela, vulnerável, ferido como se fosse um objeto descartável, um brinquedo sem valor. O sangue subiu