Mundo ficciónIniciar sesiónO dia do casamento, quase duas semanas depois, havia chegado.
No suntuoso closet, Bianca se olhava no espelho. O vestido branco, imaculado e caro, parecia uma cruel zombaria da pureza que representava. Seus olhos, emoldurados pelas lágrimas contidas, eram poças de desespero. O nó em sua garganta não era de emoção nupcial, mas de terror. Ela estava prestes a se casar com o homem que amava em segredo e que agora a desprezava mais do que ninguém. Estava prestes a se tornar a substituta de sua irmã. De repente, uma figura se refletiu no espelho atrás dela. Bianca prendeu a respiração, o coração batendo com ferocidade. Era ele. Eric Harrington. Vestido impecavelmente com um fraque escuro, sua presença era imponente, quase esmagadora. Seus olhos, icebergs azuis, pousaram nela através do reflexo, e uma onda de frio percorreu sua nuca, arrepiando sua pele dos pés à cabeça. — Eric — Bianca pronunciou, sua voz mal um suspiro de ar preso. Ele se moveu com uma lentidão deliberada, posicionando-se diretamente atrás dela. Bianca quase morreu de susto. Sentiu seu cheiro — seu perfume caro e amadeirado — envolvendo-a, sua imponente estatura projetando uma sombra sobre ela. O imperioso bater de seu coração parou completamente quando sentiu o hálito frio de Eric roçar o lóbulo de sua orelha. — Você jamais poderá ser como ela, Bianca — sussurrou, sua voz baixa e carregada de uma crueldade calculada. — Não vou te tocar, não vou te considerar ninguém. Vou te lembrar a cada dia por que deveria ter sido você e não ela. Bianca tremeu incontrolavelmente enquanto Eric acabava de pronunciar essas palavras. Sua mente se recusava a processar a magnitude de seu tormento. Com uma delicadeza forçada que lhe causou arrepios, Eric estendeu uma mão e colocou um colar ao redor de seu pescoço. Era uma rosa de ouro, intricadamente desenhada, mas com espinhos que pareciam sobressair ameaçadoramente. O simbolismo era brutalmente claro. Ela se virou para ele, seus corpos ficando a uma distância perigosamente próxima, seus olhares presos. O ar entre eles vibrava com uma tensão elétrica. — Eu nunca quis ser sua esposa — rugiu Bianca entre dentes, sua voz quase inaudível, mas carregada de uma fúria desesperada. Eric se inclinou ainda mais para ela, seu rosto a centímetros do dela, seu olhar percorrendo seus olhos suplicantes até parar em seus lábios trêmulos, como se quisesse deleitar-se com sua vulnerabilidade. — Então, por que você evita meu olhar? — sussurrou, um escárnio cruel dançando em seus olhos. — Por que é tão difícil falar na minha frente? Você sempre foi assim, Bianca. Uma tola. A vontade de chorar a invadiu, uma torrente que ameaçava arruinar a maquiagem elaborada. Bianca cerrou os punhos e se conteve, seu rosto endureceu em uma máscara de desafio vazio. Ela não lhe daria a satisfação de vê-la quebrada. Não lhe daria o prazer de arruinar seu "grande dia". Eric soltou uma risada seca, desprovida de humor, e abandonou o lugar sem dizer mais nada, deixando Bianca sozinha com o eco de suas palavras cruéis. Bianca observou o colar em seu peito, a rosa com espinhos. Por que ele havia lhe dado algo tão carregado de simbolismo, algo que gritava seu desprezo? A cerimônia foi realizada em um salão grandioso, lotado de pessoas que pareciam alheias à farsa que se desenrolava. Bianca caminhou pelo longo corredor, pendurada no braço de seu pai Bruno, que, pela primeira vez em semanas, parecia cumprir seu papel, embora seu aperto fosse formal, não afetuoso. No final do caminho, Eric a esperava, seu rosto uma máscara impenetrável de fria elegância. Quando seu pai entregou sua mão a Eric, ele a tomou com uma delicadeza falsa, uma carícia calculada que prometia tormento. Disseram seus votos — palavras ocas, promessas vazias — sob o olhar de todos. O celebrante os declarou marido e mulher, e um estrondo de aplausos preencheu o local, um coro de felicitações que pareceu uma zombaria. Bianca se sentiu um pouco tonta, uma vertigem que atribuiu ao fato de não ter comido nada o dia todo, a ansiedade devorando seu apetite. De repente, Eric se inclinou para ela, seu hálito quente contra seu ouvido, mas suas palavras eram gelo puro. — Você vai se arrepender de ter dito o "sim", impostora — sussurrou, sua voz tão baixa que só ela pôde ouvi-la, mas carregada com uma dose letal de desprezo. O desprezo era evidente em cada fibra de seu ser, em cada músculo tenso de sua mandíbula. E ainda assim, na frente de todos, Bianca devia fingir que tudo estava bem, que era a noiva feliz e afortunada. Um sorriso se formou em seus lábios, uma careta vazia que só adoecia sua alma, uma promessa de um inferno pessoal que acabava de começar. O banquete de casamento foi uma farsa interminável. Bianca manteve o sorriso fixo no rosto, uma careta dolorosa que só ela sentia. Eric, ao seu lado, era uma estátua de mármore, inexpressivo, mal dirigindo-lhe um olhar. Os brindes, as danças, os cumprimentos: tudo parecia distante, irreal, como se estivesse assistindo a uma peça de teatro onde ela era a protagonista forçada. A fadiga a consumia, um cansaço que ia além do físico. Finalmente, a noite caiu sobre todos, e com ela, o momento mais temido. Quando Bianca estava na suíte nupcial, um espaço opulento e deslumbrante, decorado com flores frescas e iluminação suave. A cama king-size, adornada com lençóis de seda e pétalas de rosa, parecia uma armadilha. Bianca se sentiu minúscula e insignificante em meio a tanto luxo. Ela esperou. Cada minuto que passava era uma eternidade. O silêncio do quarto era ensurdecedor, quebrado apenas pelo bater descontrolado de seu próprio coração. Ele viria? Cumpriria sua ameaça de não tocá-la, ou sua crueldade iria além? A incerteza era um veneno lento. O vestido de noiva parecia pesado, um sudário branco que a asfixiava. Ela o tirou com as mãos trêmulas, desabotoando as centenas de botões, e vestiu uma camisola de seda que encontrou pendurada no armário. Horas depois, os ponteiros do relógio marcaram a meia-noite, depois a uma, as duas... Não houve batidas na porta, nem o som de passos se aproximando. Apenas o silêncio, frio e absoluto. Para seu alívio — ou talvez, para sua desgraça — Eric não apareceu. A solidão se instalou no quarto, uma companhia amarga. Ela escorregou entre os lençóis gelados da cama nupcial. O tempo passou lentamente na desolada suíte nupcial. Bianca, exausta e mentalmente torturada pelas lembranças do funeral e pelas palavras ferinas de Eric, jazia acordada na cama. Foi então que ela o ouviu. Um som quase imperceptível no início, mas que fez seu coração disparar: passos lentos e arrastados no corredor. Eles pararam bem em frente à porta da suíte. Bianca prendeu a respiração, seus músculos tensos até a dor. A maçaneta girou com um leve rangido, e a porta se abriu na escuridão. Uma silhueta alta e cambaleante se tornou visível contra a pouca luz que se infiltrava do exterior. Era Eric. — Por que você veio? — sussurrou ela. Sua presença, mesmo naquele estado vulnerável, continuava imponente. O aroma de álcool e seu perfume caro flutuou no ar, denso e inebriante, misturando-se com o cheiro de desespero que Bianca sentia. — Maldição — sibilou ao quase cair. Eric não acendeu as luzes. Seus passos eram pesados, hesitantes, enquanto se aproximava da cama na penumbra, tropeçando levemente em algo invisível. Bianca permaneceu imóvel, o terror a paralisando por completo. Sentiu o colchão afundar ao seu lado, e um arrepio percorreu sua espinha. Eric havia se metido na cama. O hálito gélido que prometera não a tocar agora parecia um fogo abrasador em sua pele. Então, as mãos dele, mornas e desajeitadas pela embriaguez, pousaram em sua cintura, roçando a seda de sua camisola. Um gemido mudo escapou da garganta de Bianca. Seu coração, que já batia com uma força descontrolada, começou a golpear descontroladamente contra suas costelas, ameaçando sair de seu peito. Eric se moveu, seu corpo pesado e desengonçado pelo álcool, e ela sentiu seu hálito quente em sua nuca. — Aitana... — Eric murmurou, sua voz arrastada e quase ininteligível, um lamento abafado. — Por quê...? Não... não me deixe... Suas palavras eram confusas, fragmentos de uma dor que ele não conseguia articular, mas que Bianca entendeu perfeitamente. Ele a chamava, a Aitana. Então Bianca soube, que mesmo que se esforçasse, jamais aquele homem a olharia como Eric olhou Aitana uma vez. De repente, ele a virou e ela ficou de frente para seu rosto. — Não estou tão desesperado a ponto de te fazer minha — cuspiu em meio à sua embriaguez, antes de se virar e deixar à mostra suas costas largas e musculosas, nuas. Bianca ficou congelada, nem mesmo o inverno era tão frio quanto Harrington.






