AIYANA
O sótão da casa de Vardam estava coberto por uma camada fina de poeira,o teto inclinado filtrava a luz do fim da tarde pelas frestas do telhado, tingindo o espaço com tons alaranjados e sombras longas.
Icarus foi até o centro do espaço e tirou alguns objetos do caminho com o pé. Eu o segui em silêncio, observando seus movimentos precisos, quase calculados, como se ele sempre soubesse onde pisar sem fazer barulho, como se o mundo inteiro fosse um campo minado e ele já tivesse decorado o mapa.
Foi só quando ele se virou para mim, os braços cruzados, que eu reparei.
— Você tá... de luvas?
Ele abaixou os olhos para as mãos enluvadas como se tivesse esquecido. As luvas eram pretas, finas, pareciam feitas de lã leve, mas cobriam até um pouco além do punho.
— É. — A resposta veio baixa, quase defensiva. — Toque letal, lembra? Melhor não arriscar.
Meu estômago se contraiu. Doeu, de um jeito estranho. Não por medo, mas por ele. Por tudo o que ele estava carregando e escondendo por trás