JADE
A noite caiu lá fora como um luto silencioso. O quarto continuava escuro, abafado, e o cheiro de sujeira impregnava tudo. A porta seguia trancada, enquanto a fome arranhava o estômago e a sede colava a língua no céu da boca. Joaquim dormia — ou fingia — tentando escapar daquele inferno. Eu, por outro lado, não pregava os olhos.
Ficava ali. Sentada. A mão sobre minha barriga. Pensando no bebê. No Ravi. No que poderia acontecer se demorassem demais.
Um aperto no peito me consumia, como se o universo me avisasse de que algo horrível estava por vir.
E veio.
CLAC.
A chave girou devagar, como se fosse parte do jogo psicológico. Joaquim acordou num pulo. Me pus à frente dele, instintiva, protetora. A porta se abriu. E quando vi ela, meu sangue ferveu.
Estela.
Se eu soubesse que ia encarar aquela cobra de novo, teria deixado ela em coma da última vez. Ou melhor: teria matado a vadia.
— Olha só quem é a prisioneira da vez — ela disse, com aquele sorriso de cobra. — Quem diria, hein, Jade?