O palácio estava diferente naquela noite. Embora o movimento de servos e trabalhadores ainda estivesse a todo vapor, havia um ar de ansiedade e excitação pairando no ambiente. Cada detalhe era verificado uma última vez — as flores nos corredores, os tecidos pendurados nas paredes, o piso polido que refletia a luz dourada dos candelabros.
Selena caminhava de um lado para o outro pelo grande salão, acompanhada de Celeste e Lívia. As três usavam vestidos leves, apropriados para o trabalho intenso daquele dia. — Esses arranjos de flores ainda não estão centralizados, — disse Celeste, parando diante de uma das mesas decoradas. — Eu vi também, — respondeu Selena, mordendo o lábio. — Melhor pedir para ajustarem tudo agora, antes que fique tarde. Lívia já sinalizava para um dos servos, que imediatamente correu para corrigir o posicionamento das flores. — Tudo precisa estar perfeito amanhã, — disse Lívia com um sorrisO primeiro raio de sol atravessou os vitrais do palácio, tingindo os salões com tons dourados e rubros. Era o dia. O baile dos companheiros. O dia que celebrava não apenas os laços entre almas destinadas, mas também a nova era sob o reinado de Selena e Lucian. E, como se o destino tivesse cravado a data com intenção divina, também era o terceiro aniversário dos pequenos Luke e Lucy.Selena já estava desperta antes mesmo das damas entrarem no quarto para ajudá-la a se arrumar. Sentada à beira da cama, observava os dois filhos dormindo tranquilamente em seus bercinhos posicionados perto da varanda.Lucian surgiu ao seu lado, ainda com os cabelos desalinhados pelo sono, e envolveu-a com os braços.— Está pronta para o grande dia? — sussurrou ele, depositando um beijo em seu ombro.— Estou pronta... mas também um pouco emocionada, — confessou ela, sorrindo enquanto observava os filhos.Lucian a apertou com carinho.— Eles cresceram t
O salão principal estava em êxtase. As luzes dançavam pelos cristais, o dourado das colunas refletia o brilho das velas flutuantes, e a música preenchia cada canto do ambiente. Casais giravam pelo chão de mármore como se a noite não tivesse fim. Risos ecoavam e sorrisos iluminavam os rostos daqueles que encontravam seus companheiros pela primeira vez — um verdadeiro presente da Deusa da Lua.Isla caminhava entre os convidados com passos leves, os olhos atentos a cada lobo presente, mesmo que tentasse disfarçar. Ainda que sua expressão fosse serena, seu coração batia com força no peito. A expectativa daquele momento a deixava em alerta, como se algo dentro de si soubesse que tudo estava prestes a mudar.Ela parou ao lado da mãe, Luna Helena, que observava a filha mais nova com carinho. — Está nervosa? — Helena perguntou, tocando levemente o braço da filha.— Um pouco... — Isla admitiu, sorrindo de lado. — Eu sei que o que tiver de ser, será. Mas é impossíve
O salão principal ainda vibrava com a energia do baile dos companheiros. Alguns pares dançavam com mais calma, os risos se tornaram mais suaves e os músicos tocavam melodias envolventes e serenas, como se embalassem os novos vínculos formados sob a benção da Deusa.Porém, nem todos os laços inspiravam confiança. Selena observava, com uma taça de vinho na mão, a filha de Maedra circular pelo salão com um olhar afiado. Era evidente que a jovem procurava algo. Ou alguém.Lucian se aproximou e tomou sua mão livre, apertando suavemente seus dedos. — Ela está caçando, — ele disse em tom baixo. — E infelizmente, a Deusa parece ter feito uma escolha cruel esta noite.Selena franziu a testa. — O companheiro dela está aqui?Lucian assentiu, o semblante tenso. — E ele é filho de um dos anciãos do conselho. Damon, o mais influente representante da Matilha da Pedra Alta. O filho dele, Caelan, é um guerreiro respeitado, mas... impulsivo.Selena encarou a figura alta e imponente de Caelan ao fundo d
O sol brilhava com intensidade naquela manhã após o Baile dos Companheiros. No salão de refeições do palácio, a longa mesa estava ocupada pelos membros da família real e seus companheiros. O clima era leve e descontraído, especialmente com a euforia evidente de Isla, que mal conseguia esconder a alegria de ter encontrado seu companheiro na noite anterior.Lucian, Selena, Celeste, Rylan, Caden, Lívia, Helena, Kael, Luke e Lucy estavam reunidos saboreando o farto café da manhã preparado pela equipe da cozinha. Havia frutas frescas, pães, bolos, queijos e uma variedade de sucos e chás. A criançada corria em volta da mesa enquanto os adultos trocavam sorrisos e piadas.— Então, Kael — perguntou Celeste com um sorriso curioso nos lábios — onde você estava esse tempo todo? Nunca ouvimos muito sobre você.— E por que só apareceu agora? — completou Selena, arqueando uma sobrancelha em tom de brincadeira.Kael sorriu, encostando-se na cadeira com um ar relaxado.— Até o ano passado eu estava v
O bar estava lotado como sempre. Erin deslizava entre as mesas, equilibrando bandejas cheias de cerveja, ouvindo as risadas roucas e os comentários sussurrados dos clientes. O cheiro de álcool, fumaça e algo mais — algo selvagem — impregnava o ar. Ela se acostumara com isso. Trabalhar em um bar de lobisomens não era para qualquer um, mas Erin não conhecia outro lar.Então, ela sentiu.O olhar.Forte, intenso, queimando sua pele como fogo.Ela se virou, o coração batendo rápido. Encostado no balcão, um homem a observava com uma atenção que a deixou sem ar.Ele era alto, de ombros largos, a sombra da barba marcando seu maxilar. O cabelo escuro caía de forma rebelde sobre sua testa, e seus olhos dourados pareciam brilhantes demais sob as luzes fracas do bar. Um uísque repousava em sua mão, intocado.Mas ele só olhava para ela.Erin tentou ignorar. Continuou atendendo, rindo de piadas sem graça, desviando de clientes embriagados. Mas sempre que olhava para o balcão, lá estava ele.Na terc
O sol ainda não havia surgido completamente quando Erin abriu os olhos.Por um momento, ela não reconheceu onde estava. Lençóis macios, um colchão absurdamente confortável, um aroma amadeirado e masculino preenchendo o ar. Então, a memória da noite passada a atingiu como um raio.Lucian.Ela virou a cabeça devagar e viu o homem dormindo ao seu lado. Mesmo adormecido, ele exalava poder. O lençol cobria parte de seu corpo, mas ela podia ver os músculos definidos, os traços fortes, a pele quente contra a luz fraca do amanhecer.Seu coração acelerou.O que diabos ela tinha feito?Uma onda de pânico tomou conta dela. Ela nunca tinha feito algo assim. Passara a vida toda se protegendo, construindo barreiras para que ninguém se aproximasse. E agora… havia se entregado a um estranho.Um estranho que, claramente, era rico.Seus olhos percorreram o quarto luxuoso. O lustre no teto, os móveis de design sofisticado, a vista imponente da cidade. Ele não era um lobo comum. Não era um cliente qualqu
Rylan e Caden estavam sentados na luxuosa sala de estar da suíte do hotel, observando o rei com cautela.Lucian andava de um lado para o outro, visivelmente irritado.— Então… — Rylan começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Quem é Erin?Lucian parou e lançou um olhar afiado para ele.— Isso não é da sua conta.Caden trocou um olhar rápido com Rylan antes de tentar outra abordagem.— Certo, mas… você quer que a encontremos. Isso significa que ela é importante. Só precisamos entender o quão importante.Lucian passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, controlando a frustração.— Eu não sei quem ela é. Mas… ela é minha.Rylan e Caden franziram a testa ao mesmo tempo.— Sua… como? — Rylan perguntou, cruzando os braços.Lucian não respondeu de imediato. O silêncio prolongado apenas aumentou a tensão no ar.— Apenas encontrem-na — ele ordenou, a voz firme, deixando claro que não havia mais espaço para perguntas.Os dois assentiram, sabendo que o rei raramente ficava tão perturbado
Erin sentia sua mente girar.O silêncio no quarto era quase palpável enquanto ela absorvia o que acabara de ouvir.— Você… está dizendo que sou sua irmã? — sua voz saiu hesitante, como se o simples ato de falar as palavras tornasse tudo mais real.Celeste assentiu, seus olhos brilhando com emoção.— Não apenas minha irmã… minha irmã gêmea.O coração de Erin martelava em seu peito.— E você é minha mãe? — Ela olhou para Helena, que sorriu suavemente, com os olhos marejados.— Sim, minha querida. Você é minha filha.Isla, a mais nova, se aproximou com um sorriso caloroso.— E eu sou sua irmã caçula.Erin piscou algumas vezes, tentando processar tudo. Por anos, ela se perguntou quem eram seus pais, de onde veio… e agora, a verdade estava bem diante dela.Helena suspirou e pegou a mão de Erin com delicadeza.— Vou te contar tudo.Ela respirou fundo antes de continuar.— Quando você e Celeste tinham quatro anos, houve uma guerra. Nossa matilha, a Matilha da Lua Escarlate, foi chamada para