Na manhã seguinte, Vanessa voltou para a mansão em silêncio, imaginando que encontraria Lucas irritado com sua ausência. No entanto, ao entrar na sala de estar, não havia sinal de preocupação ou questionamentos. Lucas parecia alheio ao fato de que ela sequer passara a noite em casa.Ela passou direto para seu quarto, jogando a bolsa sobre a cama com força. Pegou o celular, ligando para sua amiga Gabriela.— Ele nem percebeu que eu não estava! — Vanessa desabafou, a voz cheia de indignação.— Como assim? Ele não perguntou nada? — Gabriela respondeu, surpresa.— Nada! Está cada vez mais óbvio que ele está se distanciando. Tenho certeza de que isso tem a ver com aquela garota.Do outro lado da casa, Laura estava na cozinha ajudando Maria a organizar o café da manhã para as crianças. A governanta a observava atentamente, franzindo a testa como se algo a incomodasse. Finalmente, Maria quebrou o silêncio.— Laura, preciso te perguntar uma coisa...Laura levantou os olhos do pão que estava c
O restaurante estava em festa, os convidados animados com o casamento surpresa que Vanessa tinha arquitetado. Ela aproveitava cada segundo do momento, radiante em seu vestido e cercada por olhares de admiração. A certa altura, pediu a atenção de todos, pegando uma taça de champanhe.— Quero dizer algumas palavras, por favor. — Vanessa começou, sua voz doce e carregada de emoção calculada.Os murmúrios cessaram, e todos se voltaram para ela. Vanessa deu um passo à frente, ficando ao lado de Lucas, que tinha uma expressão rígida, mas tentava manter as aparências.— Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. — Vanessa começou, lançando um olhar "carinhoso" para Lucas. — Lucas, desde o momento em que nos conhecemos, você trouxe luz para os meus dias. Você é um homem incrível, um pai amoroso e, agora, meu marido.A palavra "marido" saiu de seus lábios com um tom de posse, e Lucas engoliu em seco, desviando os olhos.Vanessa continuou:— Eu prometo ser sua parceira em tudo. Vamos constr
O som do motor do ônibus soava como um zumbido interminável enquanto Laura olhava pela janela, apertando a alça de sua bolsa surrada. Seus pensamentos dançavam entre o nervosismo e a esperança. Era a última chance. Se não conseguisse esse emprego, a luz no fim do túnel ficaria mais distante.A cidade passava em flashes ao seu lado: prédios altos, ruas movimentadas e, finalmente, as áreas mais calmas e arborizadas. Quando o ônibus parou, ela desceu rapidamente, ajeitando o cabelo preso de maneira prática. A mansão era ainda mais imponente do que parecia na foto do anúncio. Portões altos de ferro e um jardim perfeitamente aparado anunciavam o status da família para quem ela esperava trabalhar."É agora ou nunca", murmurou para si mesma, endireitando a postura antes de tocar a campainha.A porta foi aberta por uma mulher de uniforme, de meia-idade, que parecia estar na casa há mais tempo do que qualquer móvel.— Você é a Laura?— Sim, sou eu — respondeu, com um sorriso tímido.— Entre. O
— Theo, cuidado! — Laura correu instintivamente para aparar o pequeno garoto de três anos, que quase derrubou um vaso enquanto brincava.Shofia, sentada no tapete da sala com uma boneca em mãos, riu alto.— Ele é desajeitado assim o tempo todo.Laura sorriu, pegando Theo no colo. Ele retribuiu com um olhar tímido, mas ela percebeu que ele já começava a relaxar na sua presença. Era seu segundo dia na mansão, e ela já estava se acostumando às personalidades contrastantes das crianças.Lucas entrou na sala naquele momento, interrompendo a calmaria. Ele parecia cansado, o terno ligeiramente desarrumado, mas seus olhos imediatamente se suavizaram ao ver os filhos.— Como eles se comportaram hoje? — perguntou, enquanto tirava o relógio de pulso.— Muito bem. Shofia é uma ajudante nata e Theo... bem, ele é um explorador — respondeu Laura com um sorriso.Lucas riu, um som raro e baixo.— Isso soa como ele.Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. Vanessa apareceu na po
— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente a
O estalo da porta foi como um eco cortante que reverberou pelos corredores da mansão. Laura congelou. O barulho não parecia ter vindo da parte de cima da casa, onde ela estava com as crianças, mas do andar de baixo. Uma sensação de alerta percorreu sua espinha.Ela olhou para o corredor vazio e, sem hesitar, saiu do quarto das crianças. Seus passos eram silenciosos, mas a tensão estava clara em cada movimento. O que estava acontecendo ali? Desde que chegara, algo parecia estranho na casa. A noite, que sempre trazia uma calmaria ilusória, agora parecia sombria e ameaçadora. E aquele som... Ele não era normal.Enquanto descia as escadas, um flash de memória a atingiu — a discussão entre Lucas e Vanessa mais cedo. Os gritos. As palavras cortantes. Algo não estava certo entre eles, e ela estava começando a perceber que havia muito mais por trás daquela fachada perfeita de uma família feliz.Chegando ao final da escada, ela se escondeu nas sombras do corredor, perto do escritório. De onde
— Volte para o quarto e fique com as crianças, Laura. Eu cuido disso. — A voz de Lucas era cortante, deixando claro que aquilo não era um pedido, mas uma ordem.Laura hesitou, mas assentiu lentamente. Não era o momento de discutir. Ele desapareceu rapidamente pelas escadas, a tensão estampada em cada movimento. Ela tentou se convencer de que deveria obedecer e voltar para as crianças, mas a curiosidade era mais forte. Algo estava acontecendo naquela casa, algo maior do que ela podia entender, e ela precisava saber o que era.Movendo-se silenciosamente, Laura desceu atrás de Lucas, mantendo distância suficiente para não ser notada. Quando chegou perto do escritório, viu a porta entreaberta e o som abafado de vozes exaltadas.— O que está fazendo com isso? — Lucas perguntava, a voz grave e carregada de frustração.— Isso? — Vanessa respondeu, com um tom de ironia cortante. — Estou tentando entender como você deixou isso aqui, tão à vista. — A palavra "isso" foi acompanhada de um som de
O amanhecer trouxe uma mistura de alívio e peso ao coração de Laura. Ela havia passado a noite inteira acordada, revendo sua decisão. Era o melhor a ser feito. A tensão naquela casa não era mais sustentável, e sua família precisava dela.Ela respirou fundo ao descer as escadas. O silêncio ainda pairava pela mansão, mas ela sabia que, em breve, todos estariam acordados. O café seria servido, as crianças correriam pela casa, e, naquele momento, ela precisaria se despedir.Ao entrar na cozinha, encontrou Maria já ocupada preparando o café. A governanta ergueu os olhos e sorriu de leve, mas sua expressão logo mudou ao perceber a bolsa pequena ao lado de Laura.— Você vai embora? — perguntou Maria, baixando o tom de voz.Laura assentiu, tentando sorrir.— Sim. Chegou a hora.Maria suspirou, enxugando as mãos no avental.— Vou sentir sua falta, Laura. Mas você sabe o que é melhor para você.Laura queria responder, mas foi interrompida por passos apressados no corredor. Shofia entrou na cozi