Vereda Catani
As teclas do piano pareciam conversar comigo. Eram notas familiares, elegantes, densas. A sala estava mergulhada numa penumbra suave, o sol ainda filtrado pelas cortinas pesadas de linho. A música que eu tocava não era por acaso. Nada em mim era. Escolhi cada nota como se estivesse tecendo um feitiço. Uma rede, um convite disfarçado de harmonia.
E então, eu a senti.
Não precisei virar o rosto. O silêncio mudou, ficou mais denso, como se tivesse engolido o ar. A pele arrepiou antes mesmo de ouvir o som dos passos dela. Baixos, leves, quase hesitantes. Como de uma criança que entra onde não foi chamada. Eu sorri, sozinha, com os dedos ainda sobre as teclas.
Estava na hora.
Terminei a peça com uma calma estudada, arrastando os últimos acordes como quem encerra uma cerimônia. Só então girei o rosto em direção à porta. E lá estava ela, Isabella.
A babá de olhar doce e alma indecifrável. Usando um vestido florido ridículo, esse visual de pureza desconcertante. Os cabelos loir