Lorenzo Velardi
Observei-a sair da cozinha em silêncio, com o suco ainda pela metade no copo. Ela não correu, não gritou, não bateu porta. Mas aquele silêncio… era quase um grito. Era o tipo de ausência que ficava impregnada no ar como um perfume que a gente nunca mais esquece.
A roupa simples dela, uma blusa clara que escorregava de um ombro, revelando um pedaço delicado da sua pele. O coque frouxo, feito às pressas, com alguns fios soltos caindo pela nuca. Os pés descalços, os olhos baixos. Cada detalhe, por menor que fosse, carregava a presença dela como um raio silencioso de alguma tempestade prestes a acontecer.
Ela não olhou para trás. Não esperou que eu dissesse nada. Apenas… saiu.
E eu fiquei ali parado, fingindo que aquele copo de café quente entre minhas mãos era tudo o que eu precisava para não desmoronar.
Mas minha mãe me olhava. Eu podia sentir o olhar dela cravado em mim, como se soubesse exatamente o que se passava por dentro do meu peito. E, claro, ela sabia.
— Lorenzo