Depois que finalizei os detalhes da parceria com Emily, ela pegou um avião para Kwanza Norte. O objetivo era cuidar de todos os preparativos para a abertura do nosso espaço de ervas medicinais.
Eu, por outro lado, procurei um consultor jurídico experiente da alcateia para tratar da rescisão do meu contrato de companheiro.
Como eu e Ryan nunca havíamos nos marcado como verdadeiros companheiros, bastava um simples documento de quebra de contrato para oficializar tudo.
Quando vi a cláusula que dizia: [renúncia voluntária a todos os direitos de herança de território e bens], não hesitei em colocar minha digital no contrato.
No exato momento em que assinei, recebi uma mensagem de Clare. Era um vídeo.
O vídeo mostrava um salão de cerimônias decorado de forma extravagante, com flores frescas e penas prateadas. No centro do local, havia uma placa chamativa, escrita com tinta prata:
[Bem-vindos à cerimônia de companheiros de Ryan e Clare.]
Em seguida, a câmera se moveu, e Clare filmou Ryan enquanto ele conversava com alguém sobre os detalhes do evento.
A voz dela ecoou no final do vídeo:
— Eu só mencionei que gostaria de oficializar nossa cerimônia, e ele imediatamente começou a organizar tudo sem pensar duas vezes. A cerimônia será depois de amanhã. Espero que você venha, Daisy!
A data do evento era exatamente o dia do meu aniversário de 29 anos. Coincidentemente, também era o dia em que eu já havia planejado minha partida.
Olhei para a mensagem dela por alguns segundos antes de bloquear o número de Clare no celular. Não havia mais nada para dizer.
Depois disso, comecei a arrumar minhas coisas.
Durante os nove anos que morei naquela casa, nunca comprei nada para mim. Nem um único objeto pessoal.
Entrei naquela mansão com uma velha mochila como bagagem, e agora, ao terminar de arrumar minhas coisas, ainda era a mesma mochila desgastada que eu levava comigo.
Quando coloquei a mochila perto da porta, Ryan entrou sem bater, como sempre fazia:
— Vai lá preparar um mingau de caranguejo para mim.
Ele continuava com o mesmo tom autoritário de sempre, como se eu fosse uma serva que ele pudesse mandar e desmandar. Pensei que aquela seria a última vez que eu obedeceria a uma ordem dele, então não discuti. Apenas fiz o que ele pediu.
Quando levei o mingau quente até a mesa de pedra no jardim, Ryan me olhou por um longo tempo antes de perguntar:
— Por que você tem estado tão calada esses dias?
No passado, eu costumava tentar me aproximar dele. Sempre encontrava assuntos para conversar, contava histórias engraçadas, falava sobre lugares distantes... mesmo que, na maior parte do tempo, ele só me respondesse com frieza ou indiferença.
Respondi em um tom neutro:
— Minha garganta tem incomodado. Não tenho vontade de falar.
Ryan fez um som de desdém, como se estivesse incomodado, e não disse mais nada.
Nos dois dias seguintes, ele não apareceu em casa.
No dia da cerimônia entre ele e Clare, acordei cedo, peguei o contrato de companheira que havíamos assinado há nove anos e o coloquei sobre a mesa de pedra na sala. Ao lado do contrato antigo, deixei o documento de rescisão da companheiros.
Com minha velha mochila nas costas, dei uma última olhada naquele lugar que havia me aprisionado por tanto tempo.
Sem hesitar, saí da casa que me manteve presa por nove anos e segui em direção ao futuro que finalmente seria só meu.
Quando cheguei ao portão de embarque no aeroporto, meu celular tocou. Era Ryan.
Sem pensar duas vezes, recusei a ligação. Em seguida, retirei o chip do celular e o joguei no lixo.