Durante o período em que permaneci no centro de tratamento, contratei um curandeiro mais experiente para cuidar de mim.
Enquanto isso, Ryan continuava passeando pelo território com Clare.
Clare fazia questão de me enviar, todos os dias, as fotos e mensagens sobre as "viagens românticas" dos dois. Eles foram até a margem do Lago da Lua, mergulharam na Fonte de Prata e, à noite, sentaram-se no Penhasco das Estrelas para observar as constelações. Cada lugar que visitavam parecia ser marcado por beijos e carícias, como se quisessem que o mundo inteiro soubesse o quão intensa era a conexão entre eles.
Eu olhava aquelas mensagens, mas meu coração permanecia indiferente.
Nos últimos tempos, eu estava ocupada ajudando minha amiga Emily a montar uma pequena estação de produção de medicamentos naturais. Durante esses nove anos, sempre que tinha uma brecha, eu a ajudava a ajustar fórmulas e melhorar os tratamentos com ervas.
Emily havia me convidado inúmeras vezes para abrir um espaço de terapia natural juntas, mas, por causa desse relacionamento de conveniência, eu adiava o projeto.
Muitos amigos lamentavam por mim, dizendo que eu tinha desperdiçado nove anos da minha vida com um Alfa frio e sem sentimentos.
Mas eu nunca me arrependi. Naquela época, tudo o que eu tinha em mente era salvar a vida do meu avô. Ele era mais importante do que qualquer coisa no mundo.
Agora, com o final do contrato de companheiro se aproximando, eu finalmente podia sentir o sabor da liberdade.
No dia em que recebi alta, Ryan, surpreendentemente, enviou-me uma mensagem:
[Quando você volta? A casa está uma bagunça, parece um campo de batalha.]
Antes mesmo de eu responder, ele mandou outra:
[Ainda não saiu do centro de tratamento?]
Dei uma risada seca e, com um tom cheio de sarcasmo, respondi:
[Os empregados fugiram ou estão em greve? Como um Alfa consegue ser tão incompetente a ponto de nem organizar sua própria casa?]
Ryan, claramente impaciente, respondeu:
[Você sabe que eu não gosto que mexam nas minhas coisas.]
E acrescentou:
[Além disso, tem uma pilha de documentos esperando por você para serem organizados.]
Olhei para o relógio, prestes a dizer que não tinha tempo, quando um dos curandeiros bateu na porta para me lembrar de pagar as despesas médicas.
Ryan ouviu e imediatamente começou a me apressar para voltar.
Ignorei suas mensagens, paguei as contas e saí do centro de tratamento acompanhada por Emily.
Ela estava no carro comigo e, com um sorriso travesso, piscou:
— Finalmente livre?
Olhei para as árvores à distância e sorri de leve:
— Finalmente acabou. Assim que eu assinar os papéis de rescisão do contrato de companheira, vou embora daqui.
Emily bateu palmas, empolgada e disse:
— Isso é maravilhoso! Vamos, assine logo e depois vamos comemorar com um cordeiro grelhado bem fresquinho!
Concordei com a cabeça e sorri.
Enquanto discutíamos os planos para o nosso pequeno negócio, o celular tocou novamente. Era Ryan. Nem olhei a tela e apenas bloqueei o aparelho e continuei ouvindo Emily.
Ela me observou de canto de olho, levantando uma sobrancelha:
— Então é isso? Acabou mesmo qualquer sentimento entre vocês?
Só ela sabia que, em algum momento, eu já havia me apaixonado por Ryan.
Mas todos aqueles sentimentos haviam sido destruídos, esmagados pela indiferença e frieza dele ao longo dos anos.
Meu tom saiu frio, quase indiferente:
— Nós somos pessoas completamente diferentes. Era só uma questão de tempo até nos separarmos.
Emily assentiu, compreensiva.
Depois de acertarmos os últimos detalhes do nosso projeto, fomos a um restaurante francês que costumávamos frequentar. Quando a primeira mordida do cordeiro grelhado derreteu na minha boca, senti meus olhos se encherem de lágrimas.
Emily riu e provocou:
— Sério? Está chorando por causa da comida?
Sorri, sem responder. Desde que me casei com Ryan, nunca mais comi carne de cordeiro. Ele dizia que odiava o cheiro.
Na verdade, não era só sobre comida. Tantas coisas simples haviam sido tiradas de mim, porque, para ele, não eram "adequadas" ou "dignas". Eu não podia rir alto, não podia falar com emoção em público...
Nesses nove anos, me tornei uma casca vazia, sem emoções, presa a amarras invisíveis.
Mas, naquele momento, enquanto sentia o aroma do cordeiro, parecia que eu finalmente podia respirar o ar fresco da liberdade.
Quando voltei para a casa, já era noite.
Ao abrir a porta, vi Ryan sentado na sala de estar. Sua expressão era tão sombria quanto o céu do lado de fora.
Ele havia me enviado mais de dez mensagens e feito inúmeras ligações durante o dia, mas eu não respondi nenhuma delas.
— Onde você estava? — Ele perguntou, sem esconder a irritação.
Tirei os sapatos, lavei as mãos e só então respondi friamente:
— Fui jantar com uma amiga.
Ryan se aproximou, franzindo o nariz enquanto me cheirava. Sua expressão ficou ainda pior:
— Não disse para você não comer carne de cordeiro? O cheiro me dá dor de cabeça.
Eu sorri para ele, com um tom propositalmente inocente:
— Mas Clare come, não é? Por que com ela o cheiro não incomoda?
O rosto de Ryan escureceu completamente:
— Você não pode se comparar com Clare. Ela não é minha companheira.
Fiquei em silêncio. Ela não era sua companheira agora, mas isso não significava que nunca seria.
Todos na alcateia podiam ver o quanto Ryan mimava Clare. Eu, por outro lado, não era nada. Nem mesmo podia ser chamada de Luna.