Eu recusei o pedido dele sem o menor remorso. Ryan ficou atordoado por um instante. Em nove anos juntos, aquela foi a primeira vez que eu tive coragem de dizer "não" para ele. Ele me analisou de cima a baixo por alguns segundos, franzindo levemente as sobrancelhas:
— Daisy, você perdeu o juízo? Ou sua loba neurótica está surtando de novo?
Eu mantive meu rosto impassível e continuei olhando diretamente para ele. Depois de um bom tempo em silêncio, ele pareceu desconfortável com o meu olhar fixo e, com um gesto impaciente, disse:
— Tudo bem, então. Se não quer fazer, não faça nunca mais. E não espere que eu tenha o prazer de comer o café da manhã que você prepara!
Depois de dizer isso, ele acenou para um dos empregados que estava próximo e ordenou:
— Traga o café da manhã.
Nesse momento, a Ômega que ele havia trazido na noite anterior soltou uma risada baixa e provocadora. Ela se aproximou de mim com um sorriso atrevido e disse:
— Daisy, aprendeu os movimentos intensos de ontem à noite?
Antes que ela terminasse a frase, Ryan a puxou pelo braço, interrompendo-a:
— Fale menos e vá logo se arrumar para o café.
Ela olhou para trás e lançou para mim um sorriso brilhante, formando com a boca as palavras: "inútil".
Durante o café da manhã, Ryan e ela estavam sentados lado a lado, trocando risadas baixas e sussurros. Minha mente, no entanto, estava distante, como se um buraco tivesse sido aberto dentro de mim. Eu repassava mentalmente, várias e várias vezes, os passos que deveria seguir para deixar aquele lugar.
De repente, senti um leve toque no meu braço. Levantei os olhos e vi Ryan parado ao meu lado, com a expressão séria e fria de sempre.
— O que foi? — Perguntei em um tom baixo.
Ele me encarou com um olhar difícil de decifrar e disse:
— Em que você estava pensando? Chamei você e nem me ouviu.
Eu me virei para ele e respondi com calma:
— Estava pensando no que vou fazer a seguir.
Ele apertou os lábios, e um sorriso frio surgiu em seu rosto:
— O que você pode fazer? Lavar o chão? Servir mesas?
As palavras dele saíram com naturalidade, como se fossem simplesmente verdadeiras, mas eu não me senti ferida. Talvez fosse porque eu já estivesse anestesiada. Depois de nove anos de casamento, eu havia perdido completamente quem eu era. Meu mundo girava em torno dele, servindo-o, obedecendo-o.
Eu já nem me lembrava quem eu costumava ser: uma pessoa cheia de vida e de sonhos.
Nove anos atrás, quando meu avô, que me criou, caiu em uma emboscada nas minas de prata, eu não tinha para onde correr. Foi então que Ryan apareceu.
Ele me ofereceu dez milhões de reais, mas com uma condição: que eu assinasse um contrato de companheiro com ele, ajudando-o a resolver os conflitos com a Alcateia Bell.
Por causa do meu avô, eu aceitei, mesmo sabendo que aquilo significava abrir mão da minha liberdade.
Durante esses nove anos, Ryan trouxe mulher após mulher para casa. Uma vez, quando estava bêbado, ele me disse, olhando fixamente para mim:
— Daisy, nós somos completamente diferentes. Não crie ilusões sobre mim.
Eu sempre pensei que ele não sabia o que era amor. Mas no ano passado, descobri que ele tinha um amor de infância que havia morrido. Ela era o amor da vida dele. Todas essas mulheres que ele traz para casa são apenas sombras dela, lembranças que ele não consegue superar.
Por isso, quando ele trouxe mais uma Ômega que se parecia com ela, eu não fiquei surpresa. Na verdade, comecei a planejar o momento certo para ir embora.
Ryan pareceu irritado com o meu silêncio e chamou o meu nome com impaciência:
— Daisy!
Eu voltei à realidade e me levantei, encarando-o diretamente nos olhos.
— Eu quero procurar um trabalho fora daqui. — Disse eu em um tom firme.
Ele soltou um riso sarcástico, carregado de desdém:
— Você? A única coisa que você conseguiria seria um emprego como faxineira na Alcateia Bell. Até mesmo uma Ômega como a Clare é mais qualificada do que você para um trabalho decente.
Antes que ele terminasse de falar, Clare saiu do quarto, vestindo um dos vestidos que Ryan oferecia todos os anos para sua amor de infância.
Uma vez, eu toquei acidentalmente na barra de um desses vestidos e levei um tapa dele. Agora, no entanto, ele olhava para Clare com uma expressão suave, quase carinhosa. Ele sorriu e assentiu:
— Ficou legal em você. Escolha os que quiser.
Clare, com uma expressão orgulhosa, virou-se para mim. Seus olhos brilhavam de malícia quando ela perguntou:
— Daisy, você não acha que este vestido ficou lindo em mim?
Eu mantive a calma, sorri levemente e respondi:
— Ficou lindo. É o seu estilo.
Ela pareceu surpresa por um momento, mas eu não disse mais nada.
Faltavam apenas três dias para o contrato terminar.
Já era hora de começar a arrumar minhas coisas e me preparar para finalmente recuperar minha liberdade.