POV Heitor
O relógio digital na minha mesa piscava discretamente: 18h45. Todos os outros escritórios já estavam mergulhados no silêncio do fim do expediente, mas o meu ainda tinha pilhas de pastas abertas, contratos inacabados e relatórios esperando uma assinatura.
Voltar para a empresa depois de alguns meses parecia surreal. As paredes envidraçadas refletiam uma imagem que eu mesmo estranhava: cabelos aparados, barba controlada, terno alinhado. Eu era a versão que minha mãe sempre quis ver, mas, por dentro, ainda era o mesmo homem dividido entre rancor e vazio.
Peguei o copo de uísque que descansava sobre a mesa e girei o líquido âmbar, sem beber. Estava tão absorto que demorei a perceber o celular vibrando. O nome na tela fez meu maxilar se contrair: Mãe.
Respirei fundo antes de atender. — O que foi, mãe?
A voz de Célia veio do outro lado, carregada de satisfação, como se tivesse esperado esse momento a tarde inteira.
— Tenho boas notícias, meu filho.
— Boas notícias? — ergui a sobr