Seu rosto estava tenso, carregando uma expressão determinada.— Arielle — ele respondeu, com a voz firme, mas urgente. — Passei os últimos seis meses viajando entre os principais congressos médicos do mundo. Procurando uma resposta.Suas palavras vinham cheias de desespero contido, como se ele quisesse me arrastar naquele exato momento para a Alemanha.Meus olhos se arregalaram, cheia de expectativa. — E...? — perguntei quase num sussurro. Parte de mim queria ouvir, a outra tinha medo.— E eu encontrei — ele afirmou com orgulho, enquanto deixava cair a bomba. — A última esperança está na Alemanha. Em breve ocorrerá um simpósio de tecnologia de organoides. Estão desenvolvendo um novo tratamento com radiação que pode restaurar seu paladar e olfato.As palavras dele ficaram suspensas no ar, carregadas de promessa e possibilidade.Meu coração deu um salto ao processar aquilo. Poderia ser verdade? Será que realmente havia uma maneira de recuperar meus sentidos?— Eles precisam que você este
PONTO DE VISTA DO DWAYNEPor alguns momentos depois que Arielle falou, permaneci em silêncio, cerrando e abrindo os punhos em fúria. Eu rangei os dentes com tanta força que poderiam ter se transformado em pó sob a pressão. Nada fazia sentido.Jared abriu a boca para falar e a fechou. Arielle permaneceu em silêncio também, com os olhos suaves de preocupação.— É para o melhor, Dwayne — Jared finalmente falou.— Cala a boca, seu maldito, ou vou garantir que você nunca mais fale novamente — cuspi com hostilidade.Eu estava com raiva. Consumido por raiva. Não aquele tipo de raiva que cresce como um vulcão e explode instantaneamente na cara de todos. Eu estava tomado por uma raiva que fervia lentamente, mas quente, profunda e não resolvida. O tipo que ficava no ar como uma grande interrogação, rebelde e se recusando a ser ignorada.Claro que eu não queria que Arielle fosse embora. Pelo menos, não ainda. Eu esperava dar-lhe razões para que ela não quisesse ir eventualmente. Eu tinha me esfor
Passei por cada poste, troquei um breve olhar com pessoas que trabalhavam secretamente para mim. Eram psicólogos treinados, os melhores em sua profissão, todos na minha folha de pagamento. O objetivo era criar a simulação de uma vida normal para Arielle, até os menores detalhes, para que ela não percebesse. Eu os havia contratado para serem meus olhos e monitorar secretamente as interações de Arielle com as pessoas, rastreando seu progresso mental e emocional. Havia facilmente mais de cem deles, misturados com o restante das pessoas comuns nesta pequena cidade, todos fazendo o que lhes fora instruído nas descrições de trabalho. Para manter o anonimato, eu os havia contratado individualmente para que nenhum psicólogo soubesse do outro, garantindo que seus resultados fossem imparciais e originais. Eles foram informados apenas de que poderiam não estar sozinhos no trabalho para evitar mal-entendidos em caso de encontro.Isso ia além da necessidade de espionar Arielle — que utilidade teria
ARIELLE POVSenti Jared congelar por um momento, e então relaxar, aceitando o abraço. Ficamos assim por alguns segundos, sem dizer uma palavra, apenas em uma comunicação silenciosa. Pouco depois, me afastei devagar, me sentindo muito melhor. Foi como um bálsamo que eu nem sabia que precisava.Sem dizer nada, peguei minha bolsa e caminhei à frente, com Jared logo atrás de mim. Assim que saímos do jato, o ar frio da manhã alemã me atingiu em cheio, fazendo um arrepio percorrer meu corpo. Estávamos aqui, e não havia mais volta.Olhei ao redor, absorvendo aquele ambiente estranho, e meus olhos se estreitaram quando o avistei. Ele era a última pessoa que eu esperava ver logo na chegada. Micheal.Ele estava ao lado do jato, obviamente nos esperando, os olhos fixos na entrada com expectativa.Franzi a testa e me virei brevemente para Jared.— O que ele está fazendo aqui? — perguntei, sem me preocupar em abaixar o tom de voz.Jared explicou rapidamente que Micheal tinha insistido em vir assim
(ARIELLE POV)Acordei horas depois, sentindo-me muito melhor. O jet lag tinha passado e eu me sentia renovada. Sentei na cama, espreguicei os braços acima da cabeça e olhei para o relógio no criado-mudo. Era quase meio-dia, e lembrei que Jared havia mencionado o brunch.Balancei as pernas para fora da cama e fui até minha bolsa. Tirei um vestido confortável, fluido, num tom bege suave, e o vesti. Era perfeito para o clima quente da Alemanha. Peguei o celular e a bolsa, e saí do quarto.Assim que pisei no corredor, a porta do quarto de Jared se abriu. Ele estava lá, sorrindo, com a expressão leve e descansada também.— Oi — disse ele, animado. — Eu estava indo te chamar. Hora do brunch.— Que timing perfeito, hein? — respondi, sorrindo de volta. — Eu também ia te chamar agora.— Então vamos? — disse ele, fazendo um gesto com a mão.— Claro.Fomos conversando enquanto nos dirigíamos ao elevador.— Como você está se sentindo? — ele perguntou, observando meu rosto. — Conseguiu descansar be
(ARIELLE POV)O resto do dia passou como um borrão indistinto de emoções. Jared voltou da ligação e passamos um tempo conversando, colocando o papo em dia sobre tudo, menos a cúpula que se aproximava. Liguei para minha mãe e para Maverick quando fui para o meu quarto, e o som da voz alegre do meu filho me encheu de tanto calor e amor.A felicidade dele era contagiante, e eu desejei mais do que tudo que a cúpula fosse um sucesso para que eu pudesse me recuperar e voltar a ser a mãe que eu queria ser para ele.Depois que Maverick foi dispensado, minha mãe tentou me dissuadir, sua voz cheia de preocupação.— Arielle, você tem certeza disso? Ainda não é tarde demais para mudar de ideia — implorou ela.— Mãe, minha decisão está tomada — insisti, com a voz firme, mas gentil. — Isso é algo que eu preciso fazer.— Mas os riscos… — ela começou, a voz sumindo.— Eu conheço os riscos — interrompi —, mas também conheço os possíveis resultados. Por favor, só confia em mim nisso. — E quando ela come
(PONTO DE VISTA DE ARIELLE)O salão permaneceu em silêncio sepulcral, e cada olhar se fixava no casal cuja expressão irradiava gratidão solene. Senti-me tomada por um silêncio que me impedia de articular palavras, e as lágrimas escorriam quentes pelas minhas bochechas, carregadas de emoção e da esperança de que aquele procedimento deles me garantisse a cura que tanto ansiava.Talvez por ter concebido salvar o garoto apenas como um pensamento intrusivo, um gesto que pratiquei sem refletir profundamente ou cogitar qualquer benefício pessoal, tudo o que se apresentava diante de mim me envolvia numa sensação de profunda humildade.— Eu… não sei o que dizer. — Finalmente encontrei coragens para falar.Ellen sorriu com a expressão de quem conhecia a angústia de quase perder um filho. — Você não precisa dizer nada, Arielle. Só precisamos, é claro, do seu consentimento. Basta pronunciar as palavras. — A voz dela encerrou-se num sussurro de incerteza, como se ponderasse a hipótese de eu recusa
(PONTO DE VISTA DE ARIELLE)Algumas doses depois, o ambiente ao nosso redor se tornara mais leve. Ríamos de uma piada boba que ele fizera e, embora eu mal recordasse as palavras exatas, ri tanto que minhas entranhas latejavam de dor.— Acho que meus intestinos acabaram de explodir por dentro. — Brinquei. E nós caímos em outra rodada de risadas.Olhei ao redor com um fio de lucidez, a fim de confirmar que não incomodávamos os demais clientes.— Será que estamos muito barulhentos? — Sussurrei para Jared.— Hein? Você acha? — Ele replicou em voz alta, como se conversasse com quem estivesse na porta do bar.Então compreendi a situação.— Você está bêbado e muito engraçado. — Balanceei a cabeça, sorrindo.— Mas você também está bêbada. — Jared apontou, e nós gargalhamos de novo.Enquanto nossas risadas ecoavam, ele recuperou um resquício de sobriedade e se preparou para mais uma piada.— Sabe… quando estávamos lá na cúpula, né? Eu disse algo… Mas o que foi mesmo? Poxa, não consigo me lembra