Recuperando a compostura, troquei um olhar preocupado com dona Meyers e subimos atrás dele.O encontramos no quarto da Arielle, seus bracinhos envolvidos com força no corpo rígido dela. Mas Arielle não reagiu, não respondeu ao abraço do filho. Apenas permaneceu ali, em silêncio, com lágrimas escorrendo pelo rosto. E meu coração se quebrou em mais mil pedaços.Era exatamente isso que eu tentava evitar, mas parecia estar falhando terrivelmente. Fiquei ali parado, sentindo-me quase inútil, enquanto Maverick se agarrava à mãe. Eu não conseguia afastá-lo sem causar ainda mais sofrimento.Ainda estava tentando pensar no que fazer a seguir quando o som de um helicóptero se aproximando encheu o ar, e meu olhar se voltou, surpreso, para a janela. O que um helicóptero fazia por ali, tão longe de qualquer aeroporto?Troquei um olhar confuso com dona Meyers, e ela correu até a janela, abrindo as cortinas. Fui atrás dela e assistimos o helicóptero pousar bem em frente à casa, a vista pela janela se
POV DE ARIELLEEm Vila Flôr, uma pequena cidade do interior do Brasil, vivi o outono e o início do inverno mais tranquilos da minha vida. Quando cheguei com o Davi, o país vestia-se das cores do outono — o ar fresco, folhas douradas e um silêncio sereno que suavizava o peso da minha alma.Três meses se passaram. E quando o inverno finalmente chegou, a paisagem se transformou: a neve cobria o chão, e o ar trazia o perfume cortante da geada.Quanto ao Davi, ele não ficava o tempo todo ao meu lado. Na verdade, nossos momentos de verdadeira convivência podiam ser contados nos dedos de uma mão. Ele só aparecia nos finais de semana, sempre trazendo o Maverick com ele.— Tô meio que feliz que você tá melhorando, mamãe — Maverick sempre dizia, com o rostinho iluminado de alegria enquanto a gente construía um boneco de neve no quintal.— Eu também, meu amor — respondia com um sorriso, sentindo uma alegria que não experimentava há meses. — Estou muito feliz de estar aqui com você.Nos outros dia
Seu rosto estava tenso, carregando uma expressão determinada.— Arielle — ele respondeu, com a voz firme, mas urgente. — Passei os últimos seis meses viajando entre os principais congressos médicos do mundo. Procurando uma resposta.Suas palavras vinham cheias de desespero contido, como se ele quisesse me arrastar naquele exato momento para a Alemanha.Meus olhos se arregalaram, cheia de expectativa. — E...? — perguntei quase num sussurro. Parte de mim queria ouvir, a outra tinha medo.— E eu encontrei — ele afirmou com orgulho, enquanto deixava cair a bomba. — A última esperança está na Alemanha. Em breve ocorrerá um simpósio de tecnologia de organoides. Estão desenvolvendo um novo tratamento com radiação que pode restaurar seu paladar e olfato.As palavras dele ficaram suspensas no ar, carregadas de promessa e possibilidade.Meu coração deu um salto ao processar aquilo. Poderia ser verdade? Será que realmente havia uma maneira de recuperar meus sentidos?— Eles precisam que você este
PONTO DE VISTA DO DWAYNEPor alguns momentos depois que Arielle falou, permaneci em silêncio, cerrando e abrindo os punhos em fúria. Eu rangei os dentes com tanta força que poderiam ter se transformado em pó sob a pressão. Nada fazia sentido.Jared abriu a boca para falar e a fechou. Arielle permaneceu em silêncio também, com os olhos suaves de preocupação.— É para o melhor, Dwayne — Jared finalmente falou.— Cala a boca, seu maldito, ou vou garantir que você nunca mais fale novamente — cuspi com hostilidade.Eu estava com raiva. Consumido por raiva. Não aquele tipo de raiva que cresce como um vulcão e explode instantaneamente na cara de todos. Eu estava tomado por uma raiva que fervia lentamente, mas quente, profunda e não resolvida. O tipo que ficava no ar como uma grande interrogação, rebelde e se recusando a ser ignorada.Claro que eu não queria que Arielle fosse embora. Pelo menos, não ainda. Eu esperava dar-lhe razões para que ela não quisesse ir eventualmente. Eu tinha me esfor
Passei por cada poste, troquei um breve olhar com pessoas que trabalhavam secretamente para mim. Eram psicólogos treinados, os melhores em sua profissão, todos na minha folha de pagamento. O objetivo era criar a simulação de uma vida normal para Arielle, até os menores detalhes, para que ela não percebesse. Eu os havia contratado para serem meus olhos e monitorar secretamente as interações de Arielle com as pessoas, rastreando seu progresso mental e emocional. Havia facilmente mais de cem deles, misturados com o restante das pessoas comuns nesta pequena cidade, todos fazendo o que lhes fora instruído nas descrições de trabalho. Para manter o anonimato, eu os havia contratado individualmente para que nenhum psicólogo soubesse do outro, garantindo que seus resultados fossem imparciais e originais. Eles foram informados apenas de que poderiam não estar sozinhos no trabalho para evitar mal-entendidos em caso de encontro.Isso ia além da necessidade de espionar Arielle — que utilidade teria
ARIELLE POVSenti Jared congelar por um momento, e então relaxar, aceitando o abraço. Ficamos assim por alguns segundos, sem dizer uma palavra, apenas em uma comunicação silenciosa. Pouco depois, me afastei devagar, me sentindo muito melhor. Foi como um bálsamo que eu nem sabia que precisava.Sem dizer nada, peguei minha bolsa e caminhei à frente, com Jared logo atrás de mim. Assim que saímos do jato, o ar frio da manhã alemã me atingiu em cheio, fazendo um arrepio percorrer meu corpo. Estávamos aqui, e não havia mais volta.Olhei ao redor, absorvendo aquele ambiente estranho, e meus olhos se estreitaram quando o avistei. Ele era a última pessoa que eu esperava ver logo na chegada. Micheal.Ele estava ao lado do jato, obviamente nos esperando, os olhos fixos na entrada com expectativa.Franzi a testa e me virei brevemente para Jared.— O que ele está fazendo aqui? — perguntei, sem me preocupar em abaixar o tom de voz.Jared explicou rapidamente que Micheal tinha insistido em vir assim
(ARIELLE POV)Acordei horas depois, sentindo-me muito melhor. O jet lag tinha passado e eu me sentia renovada. Sentei na cama, espreguicei os braços acima da cabeça e olhei para o relógio no criado-mudo. Era quase meio-dia, e lembrei que Jared havia mencionado o brunch.Balancei as pernas para fora da cama e fui até minha bolsa. Tirei um vestido confortável, fluido, num tom bege suave, e o vesti. Era perfeito para o clima quente da Alemanha. Peguei o celular e a bolsa, e saí do quarto.Assim que pisei no corredor, a porta do quarto de Jared se abriu. Ele estava lá, sorrindo, com a expressão leve e descansada também.— Oi — disse ele, animado. — Eu estava indo te chamar. Hora do brunch.— Que timing perfeito, hein? — respondi, sorrindo de volta. — Eu também ia te chamar agora.— Então vamos? — disse ele, fazendo um gesto com a mão.— Claro.Fomos conversando enquanto nos dirigíamos ao elevador.— Como você está se sentindo? — ele perguntou, observando meu rosto. — Conseguiu descansar be
(ARIELLE POV)O resto do dia passou como um borrão indistinto de emoções. Jared voltou da ligação e passamos um tempo conversando, colocando o papo em dia sobre tudo, menos a cúpula que se aproximava. Liguei para minha mãe e para Maverick quando fui para o meu quarto, e o som da voz alegre do meu filho me encheu de tanto calor e amor.A felicidade dele era contagiante, e eu desejei mais do que tudo que a cúpula fosse um sucesso para que eu pudesse me recuperar e voltar a ser a mãe que eu queria ser para ele.Depois que Maverick foi dispensado, minha mãe tentou me dissuadir, sua voz cheia de preocupação.— Arielle, você tem certeza disso? Ainda não é tarde demais para mudar de ideia — implorou ela.— Mãe, minha decisão está tomada — insisti, com a voz firme, mas gentil. — Isso é algo que eu preciso fazer.— Mas os riscos… — ela começou, a voz sumindo.— Eu conheço os riscos — interrompi —, mas também conheço os possíveis resultados. Por favor, só confia em mim nisso. — E quando ela come