Algumas semanas já se passaram desde a primeira prova da prótese provisória de Maurício, e ele vinha evoluindo gradativamente. Já conseguia ficar quatro horas com a prótese. A evolução precisava ser lenta, para que fosse constante. Ele também já estava completamente adaptado aos novos comandos de seu carro, o que lhe dava maior autonomia. Em um final de semana, Alexandre convidou Maurício e Henrique para irem até um estúdio de tatuagem, pois queria retocar uma antiga e fazer uma nova. Maurício topou na hora, e Henrique, surpreendentemente também, mesmo não tendo nenhuma tatuagem. Clara aproveitou para convidar suas amigas para irem ao parque, onde Antônio queria andar de bicicleta. Enquanto esperava o horário para sair, Maurício jogava videogame com Antônio, e Clara terminava de se arrumar. Ele aproveitou o momento para conversar com o menino: — Toninho, queria conversar uma coisa com você, mas sua mãe ainda não pode saber. — Minha mãe disse que não posso ter segredos que ela

Houve uma grande preparação por parte de Maurício na última semana para propor casamento a Clara. Ele era capaz de planejar muitas coisas lógicas, mas definitivamente não era alguém romântico. Não queria falar com ninguém a respeito, na verdade, o motivo era não ter certeza da resposta que receberia. Não tinha por que duvidar dos sentimentos dela; afinal, juntos já haviam passado por muita coisa, mais até do que casais de longa data, e Clara sempre fora parceira, sua aliada e porto seguro. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que ela poderia considerar cedo demais, ter receios quanto ao futuro com alguém que agora tinha uma deficiência física ou simplesmente, não querer se casar. Ainda assim, ele tinha certeza do que queria. Teve essa certeza desde o momento em que acordou naquele hospital e o cheiro do cabelo dela o fez se sentir em casa. Comprou um par de alianças pela internet que chegaram alguns dias antes. Pensou em fazer um jantar especial, mas, com seu talento culinário, havia

Algumas semanas depois, Tatiane e Alexandre também ficaram noivos e, para celebrar, fizeram uma comemoração na casa dos pais de Alexandre. Escolheram uma tarde de domingo muito agradável. O clima estava ameno, às vezes com um ventinho frio, mas ainda ensolarado. Antônio e Vivian rapidamente se enturmaram com os sobrinhos e primos de Alexandre, que tinha uma família linda e acolhedora. Além deles, os amigos também compareceram, e ele convidou até Henrique, que assumiu a churrasqueira sozinho. Bastante crítico, não deixou ninguém ajudá-lo. Fez um mise em place perfeccionista, como só ele seria capaz, e entregou o churrasco mais chique e saboroso que conseguiu preparar. Sua “colega de trabalho”, a doutora Yasmin, ficou bastante impressionada. Enquanto isso, Clara e Tatiane conversavam na cozinha: — E como você tá se sentindo, amiga? — perguntou Clara. — Confesso que agora eu tô um pouco assustada. Antes, conversar a respeito era tranquilo e me deixava numa expectativa divertida,

Antes do horário de sua consulta, Clara levou o teste para o banheiro e pediu para Tatiane esperar por ela. Estava muito nervosa e precisava de apoio. Finalmente fez o teste. O tempo de espera parecia uma eternidade, e suas mãos suavam mesmo com o ar-condicionado gelado. Quando saiu do banheiro, estava mais em choque do que quando entrou. Tati, aflita, quase deu um pulo ao vê-la: — O que deu? — ... Inválido. — O quê? — Deu inválido. Ela mostrou o teste borrado, sem resultado algum. — Menina, que aflição! Mas de qualquer forma, você vai ao médico e pede um exame, pra ter certeza. — Você pode ir comigo? — Sim, eu vou com você. Não vou te deixar sozinha. As amigas foram juntas no horário do almoço até o hospital onde a consulta estava marcada. Apesar de estar lá para apoiar, Tatiane estava tão nervosa quanto Clara — apenas disfarçava melhor. --- A tensão durante a leitura do testamento era tão palpável que quase podia ser cortada com uma faca. Dr. Guti

Ainda era meio da tarde quando Clara chegou à casa de Maurício. Eles estavam noivos, ele sempre lhe dava provas de amor e compromisso, mas, mesmo assim, ela estava nervosa. Não sabia bem o motivo: talvez temesse a reação dele, ou mesmo a sua própria. Entrou e o encontrou na cozinha preparando café. Ele estava de costas, sem a prótese, apoiado nas muletas. Quando ouviu a porta, ainda de costas, começou a falar: — Gata, tô doido pra te contar o que aconteceu lá na empresa. Cara, foi mais esperado que o final de Game of Thrones, só que sem o final zuado. Senta aí que eu vou servir o café. — Não quero café, obrigada. Maurício parou o que estava fazendo e se virou, estranhando. — Você não quer café? Você tá bem? Por que saiu mais cedo? Ele veio caminhando apenas com a própria xícara na mão. — Eu tô bem, só não quero agora. Cheguei cedo porque fui ao médico. — Aconteceu alguma coisa? Você tá meio pálida. Já almoçou? Clara olhou para baixo, mexendo nas mãos. Mauríc