A biblioteca estava parcialmente escura, iluminada apenas pelas chamas das lamparinas que pendiam nas paredes. Hérus estava sentado diante de uma mesa larga de madeira maciça, revisando alguns papéis administrativos enviados pelo conselho e da cidade. Mas o som dos passos de Lian ecoando pelo chão o fez levantar o olhar. — Você veio mesmo — disse ele, quase como um alívio. Lian parou a alguns passos da mesa, com as mãos nos bolsos e o semblante mais sereno do que nas últimas vezes em que estivera ali. — Eu precisava vir. E falar. Sem fugir dessa vez. Hérus se endireitou, atento. O silêncio entre os dois era espesso, mas diferente. Pela primeira vez em muito tempo, não havia espinhos. — Eu passei séculos te odiando — Lian começou. — Acreditando que o que você fez foi egoísmo. Que me transformou porque não suportava me perder. Que tirou minha escolha. Hérus não respondeu. Apenas escutava. — Mas a verdade é que eu nunca tentei entender. Só culpei. Joguei em você tudo que me destr

A carruagem deslizava suavemente pela estrada escura de volta à mansão, embalada pelo início da noite. O céu ainda conservava vestígios de azul profundo no horizonte, enquanto a névoa se adensava sobre os campos, engolindo aos poucos os contornos de Heradhor. No interior do veículo, os passageiros permaneciam em silêncio. Lisanne estava sentada junto à janela, observando a cidade se dissolver na distância como se cada traço estivesse sendo apagado da memória. Ao seu lado, Josy parecia distante, talvez vagando em pensamentos. Day fitava o escuro da estrada pela janela oposta, os olhos atentos, mesmo relaxada. Cléo mantinha os braços cruzados, com um sorriso leve no rosto, como se pensasse em algo que ainda não podia dizer em voz alta. A carruagem freou suavemente diante da mansão. Alguns empregados vieram ao encontro deles, recolhendo com precisão os pacotes e vestidos cuidadosamente organizados. Os degraus de pedra estavam úmidos pelo sereno, refletindo a luz das tochas acesas. Jo

A noite já se acomodava nos corredores da mansão como um véu espesso e silencioso. As velas em suportes de pedra ardiam baixo, lançando sombras delicadas pelos azulejos da cozinha. Lisanne empurrou a porta com o ombro, os pés descalços tocando o chão frio. A brisa leve que entrava pela janela semiaberta carregava o aroma de terra úmida e flores noturnas. O silêncio era quase confortável. Quase. Ao dar dois passos, ela o viu. Lian estava junto à janela, apoiado com o antebraço no parapeito, segurando um cálice de vidro onde o sangue deixava marcas discretas no interior. A luz banhava seu perfil com suavidade, tornando-o quase etéreo — os olhos voltados para algum ponto distante lá fora, como se a noite o escutasse. Ela hesitou, mas não recuou. Pigarreou baixo, o suficiente para que ele a notasse. — Outra vez nos encontramos aqui. — disse ela, com um sorriso contido nos lábios. Ele se virou, lentamente, o olhar encontrando o dela com uma calma diferente. — Parece que sim. — A vo

 ⚠️ AVISO DE GATILHO – CONTEÚDO SENSÍVEL ⚠️ 🚩Este capítulo contém cenas explícitas de tentativa de estupro, abuso sexual, violência física extrema, linguagem abusiva e trauma psicológico.🚩 A leitura pode ser perturbadora para pessoas sensíveis a esses temas. Se necessário, considere pular a cena ou o capítulo. Sua saúde mental importa. Cuide de você. 💙 .... O baile seguia vibrante. O salão repleto, os convidados dançavam, conversavam, brindavam. Mas Lisanne acabou ficando sozinha por alguns minutos, com a promessa de Lian de não demorar para voltar.  Ele foi chamado por Nick para tratar de um assunto urgente, deixando-a próxima das colunas centrais. Foi quando uma jovem vampira, de traços delicados e postura amistosa, aproximou-se com um sorriso gentil. — Oi, você é Lisanne, certo? — ela perguntou. Lisanne assentiu com leve desconfiança. — Não se preocupe, eu sou Thea, uma conhecida do Nick. Ele pediu para avisar que Lian está te esperando no corredor sul. Disse que era im

O amanhecer rompia pela janela trazendo mais claridade ao quarto, embora o silêncio permanecia dentro de toda a mansão. Haviam almofadas no chão, o colar de Lisanne sobre a cômoda, e o vestido que ela usava, rasgado, já não estava mais ali. Apenas o peso da lembrança recente que ainda pairava no ar. Ela permanecia sentada na beira da cama, os cabelos agora soltos, molhados pelo recente banho que sentiu necessidade logo que acordou. Lara, que havia levado um café reforçado para ela, ia saindo em direção a porta quando Lisanne falou algo em voz baixa, quase como um sussurro. — Pode chamar o Lian... se ele ainda estiver aí… Lara afirmou suavemente e saiu. Alguns segundos depois, a porta se abriu devagar. Quando Lian entrou, havia algo diferente nele. As roupas estavam amassadas, os olhos vermelhos em um tom mais escuro. Se aproximava aos poucos, com cautela, como se temesse ser expulso a qualquer momento. — Eu vim... antes de mais nada, se não quiser mais me ver ou se afastar, eu