Acordei tarde da manhã. A claridade atravessava as cortinas claras, invadindo o quarto sem pedir permissão. O calor da luz me queimava a pele, forçando meu corpo a despertar. Respirei fundo. O peso daquela noite ainda latejava em mim - uma dor baixa, abaixo da cintura, que fez minha memória trazer de volta o que eu preferia esquecer.Levantei devagar, puxando os lençóis para o lado. A mancha estava lá. O sinal que deixaria a todos satisfeitos, menos a mim. Meus ombros se enrijeceram, minha respiração acelerou. Passei a mão no rosto, tentando me recompor, quando a porta se abriu de repente.Minha mãe entrou sem bater. Meu corpo reagiu sozinho, encolhendo-se no canto mais escuro do quarto, como se ainda pudesse me esconder dela. Bastou um olhar para que ela visse a prova no lençol.— Deuses... — murmurou, a voz trêmula. - Ele... ele te forçou?— Não. - engoli em seco. — Fazia... fazia parte da tradição deles.Ela fechou os olhos, suspirando fundo. — Ah, isso. É verdade,

Elara* O ar naquele instante parecia denso. Pesado como um iceberg prestes a rachar.Castor observava em silêncio, o incômodo estampado em seu rosto, enquanto eu mesma me sentia desconfortável com a cena. A moça, no entanto, não demonstrava nenhum pudor: agarrava-se a Cassian como uma pulga grudada na pele, sorrindo e murmurando coisas no ouvido dele.— Não tem noção de como senti sua falta… — ela sussurrou, quase manhosa.Cassian não respondeu de imediato, apenas manteve aquele olhar frio, impassível, que parecia não se abalar com nada.— Você sumiu por duas semanas. O que aconteceu? — ela insistiu, a voz oscilando entre preocupação e ciúme.— Calie, já chega. — ele finalmente disse, num tom seco.Ela franziu o cenho, como se não acreditasse que aquelas palavras fossem dirigidas a ela.— Chega. — repetiu ele, e sem aviso, segurou-a pela cintura, retirando-a do colo e colocando-a no chão.A expressão de Calie escureceu, a recusa do alfa parecia doer mais do que qualquer golpe.— Fala

Naquela noite, Cassian decidiu que dormiríamos no acampamento. A tempestade ainda rugia lá fora, e não havia escolha a não ser esperar.Quando o dia nasceu, despertei sozinha na tenda. Ele já não estava mais ali. Apenas o espaço vazio ao meu lado, frio, me lembrava da ausência constante dele. O cansaço me dominava — não só pela noite mal dormida, cheia de receio de que Calie viesse me atacar, mas pelo peso de tudo o que eu vinha carregando.Não consegui ficar parada. Levantei-me e fui à sua procura.Havia uma tenda maior mais à frente, onde alguns machos estavam reunidos, comendo e conversando. Foi ali que o encontrei. Cassian estava sentado, tomando o que parecia ser chá. Ao seu lado, Calie. Sorrindo para ele como se fosse a dona do lugar. Como se nada tivesse acontecido.Uma chama subiu em meu peito, queimando. A cada passo que dei em direção a eles, o fogo se espalhava mais.Cassian ergueu os olhos quando me aproximei.— Bom dia a todos. — cumprimentei, e os lupinos responderam, a

Após aquele momento intenso com Cassian, ele não voltou para o quarto. De certa forma, foi um alívio. Eu não sabia se conseguiria dividir o mesmo espaço com ele, muito menos a mesma cama.Levantei-me antes que as serviçais chegassem. Vesti-me rápido, tentando afastar qualquer lembrança da noite anterior. Estava saindo do closet quando vi Astrid de costas, vasculhando minhas coisas na gaveta do armário.— Posso ajudá-la, Astrid? — minha voz cortou o silêncio.Ela se virou num sobressalto, o rosto vermelho de vergonha.— Pensei que estivesse tomando banho.— Já acabei. — caminhei devagar em sua direção. — Tem algo interessante aí dentro?— Eu... só estava olhando. — murmurou, baixando os olhos.Ergui uma sobrancelha, me aproximando até quase encostar.— O que você quer?— Cassian mandou que eu avisasse para você se aprontar. Vocês terão um jantar importante com um aliado distante.— Aqui?— Sim. Ele vai chegar logo.Assenti, passando por ela, mas quando me virei, ainda estava ali, plant

Minha cabeça girava, mas não era vertigem. Era fogo. Cada parte do meu corpo ardia, pulsava. O calor entre minhas pernas me consumia como uma maldição. Cassian me fitava confuso, a mandíbula cerrada, tentando manter o controle.— Ele fez uma pergunta, Elara. — sua voz grave soou distante, mas cada sílaba ressoou dentro de mim, fazendo meu ventre contrair.Cruzei as pernas sob a mesa, apertando-as como se isso pudesse conter a onda que me invadia. Mas o latejar só aumentava, latejava como se pedisse por ele. E então sua mão tocou meu pescoço. Um toque simples, mas eu quase gritei. A mão dele era quente, grande, possessiva.— Ela está bem? Está vermelha como um morango. — ouvi Lucian perguntar.— Eu estou... bem. — sussurrei, sorrindo sem perceber. Era mentira. Eu não estava bem. Eu estava à beira de perder a razão.Cassian afastou a taça da minha mão, mas eu tentei pegá-la de volta, cega pela ânsia. Minha dignidade se desfazia diante deles, e eu sabia disso. Mas era inútil resistir.In