“Eu a beijo como quem sangra — cada toque é a minha ruína, e ainda assim, não consigo parar.” 🖤 Eu recuei dois passos, tentando criar distância, mas era inútil. A presença dela se grudava em mim como sombra. Luna não precisava de olhos para me prender — a simples calma dela era a corda no meu pescoço. Passei a mão pelos cabelos, respirando fundo, como se o oxigênio tivesse se tornado veneno. Eu precisava me afastar. Precisava recuperar o controle que ela arrancava de mim com um toque, com uma palavra. Mas minhas pernas não obedeciam. Voltei. Sempre voltava. A ponta dos meus dedos roçou o queixo dela. Bastava isso para que o corpo dela respondesse, leve inclinação da cabeça, respiração curta, uma rendição silenciosa. Isso me desarmava. Eu, o homem que fazia inimigos se ajoelharem com um olhar, estava de joelhos por dentro diante de uma mulher que não podia sequer ver a cor dos meus olhos. Aproximei minha boca da dela, tão perto que sentia o calor do sopro. Mas não a beijei. Não

“Ele foge dos meus olhos fechados, mas não consegue escapar do que já sinto dentro dele.” 🖤 Os estilhaços ainda rangiam sob os sapatos dele quando deu alguns passos. Eu ouvi. Cada movimento denunciava a batalha que ele travava dentro de si. Um predador ferido, tentando esconder o sangue. Eu respirei fundo e estendi a mão, devagar, sem pressa. Não para tocá-lo, mas para ocupar o espaço entre nós. O ar tinha peso. O silêncio era mais barulhento que um trovão. — Não tente me decifrar, Luna — ele disse, a voz baixa, mas carregada como pólvora. — Você não sabe o que está cutucando. Inclinei o rosto em sua direção. Eu não precisava vê-lo para saber que ele estava a poucos passos, que sua respiração acelerava, que o maxilar dele se contraía em fúria e em medo. — Eu não tento te decifrar — respondi, com calma. — Eu apenas te escuto. Você é quem fala demais sem palavras. Senti o ar se mover. Ele se aproximou. Seus dedos roçaram de leve o meu braço, como se quisesse me afastar… ou se ap

"Ele pode se esconder no silêncio… mas eu aprendi a ouvir até o que o silêncio grita." — Luna Castilho 🖤 O silêncio dele pesa. Porque não é um silêncio vazio, desses que se enchem com o som do vento ou o bater de uma porta distante, é um silêncio vivo, pulsante, que carrega dentro dele um exército inteiro de batalhas não vencidas. Fernando Torrenegro é um homem que fala pouco, mas o corpo dele grita. Eu aprendi a ouvir esses gritos — não com os ouvidos, mas com a pele. Cada movimento, cada respiração contida e cada tremor contido na ponta dos dedos que por um instante roçaram os meus. Ele me afasta com palavras. Mas me chama em gestos. Ele tenta me convencer de que sou apenas parte de um plano, uma peça em seu tabuleiro. Mas eu sinto… sinto o quanto ele está preso em mim. E isso me assusta. Porque se eu for a única fissura no muro que ele ergueu, então também posso ser a ruína que ele teme. Respiro fundo. Meu peito dói de tanta coragem que preciso reunir para não tremer diante d

“Ele tenta ser pedra, mas até as pedras se quebram — e eu escuto cada rachadura.” — Luna Castilho 🖤 A madrugada sempre foi minha aliada. No escuro, todos se igualam. E para mim, que já vivo na escuridão, as horas da noite são onde escuto mais, sinto mais, compreendo mais. Quando Fernando deixou o quarto, eu soube. Não precisei ouvir a porta fechar para entender. O silêncio que ele deixou era diferente, pesado, denso como uma ausência que grita. Deitada, mantive os olhos fechados, como se isso fizesse alguma diferença. Respirei fundo. E a cama ao meu lado parecia maior, fria. Ele tinha o hábito de esconder tudo. Palavras, sentimentos e intenções. Mas o corpo não mente. O ritmo da respiração dele, os passos e a tensão no maxilar quando o silêncio o incomoda. Eu conheço cada fragmento. E naquela noite, Fernando fugia de mim. Levantei devagar, guiando-me pelos móveis. Meus dedos roçaram a madeira da cômoda, o tecido da cortina e o metal frio da maçaneta. Cada toque era um mapa, e c

“Ele me beija como quem luta contra si mesmo, mas cada recuo só prova que já está rendido.” — Luna Castilho 🖤 O som de passos pesados ecoava pelo corredor, como trovões contidos dentro da mansão. Eu estava sentada na beira da cama, as mãos pousadas sobre o lençol, sentindo a vibração no ar. Ele estava furioso. Não precisava enxergar para saber. A raiva de Fernando não é apenas barulho, é uma presença densa, como fumaça que sufoca. Mas, naquela noite, havia algo mais. O clique da porta se abriu. Ele entrou. O ar mudou imediatamente, ficando carregado e tenso. Não falei nada. A espera sempre me trouxe respostas. E eu sabia que, se permanecesse em silêncio, ele revelaria mais do que gostaria. Ouvi o som metálico do gelo caindo em um copo. O líquido servindo. Um trago rápido. Outro mais demorado. — Está acordada. — sua voz não perguntou. Apenas constatou. — Sempre estou quando você chega. — respondi, firme. Silêncio. Ele se moveu pelo quarto como uma fera enjaulada, incapaz de