O estalo da porta ecoou pelo hall antes mesmo de Hendrick entrar completamente. Cassie estava arrumando a sala, recolhendo algumas roupas que haviam ficado espalhadas após a manhã agitada, quando sentiu braços fortes envolvê-la por trás. O perfume dele, misturado ao calor do corpo, fez-a suspirar automaticamente.— Hendrick… — murmurou, surpresa, mas sem se esquivar.— Finalmente em casa — ele disse, a voz grave e carregada de alívio. — E você… sempre parece tão irresistível mesmo quando está apenas respirando.Ele a virou lentamente em seus braços, prendendo-a contra o peito. A força de Hendrick era impressionante, mas havia delicadeza na maneira como a segurava, como se cada toque fosse cuidadosamente medido para não machucá-la. Seus lábios roçaram a têmpora dela num beijo rápido, seguido de um sorriso travesso.— Você está diferente hoje — Cassie comentou, sentindo a mão dele percorrer sua cintura. — Mais… físico.Hendrick riu, um som baixo que ressoou na sala, e encostou a testa n

Cassie já estava cansada do clima sufocante que se espalhava como uma névoa pela casa. O almoço tinha gosto de segredo, e o segredo, por sua vez, tinha peso de ferro.Sentada entre Hendrick e Matt, ela sentia cada respiração contida, cada olhar evitado. A mesa estava farta como sempre — pães frescos, sopas, carne assada que ainda soltava fumaça, vinho aquecido para espantar o frio —, mas alguns não pareciam realmente saborear a comida.Kallias, em especial, parecia feito de pedra. Seus ombros largos estavam rígidos, as mãos apoiadas sobre os joelhos, quase não tocando nos talheres. Ele mal ergueu os olhos durante toda a refeição. Quando o fez, apenas cruzou os dela por um instante e desviou rápido, como se fosse perigoso demais sustentar aquele contato.Bart, ao contrário, parecia cheio de energia nervosa. O filho trocava olhares constantes entre o pai e Cassie, como se tivesse milhares de perguntas presas na garganta, mas a boca trancada por correntes invisíveis. Cassie conseguia sen

O sol daquela manhã parecia uma benção. Depois de dias de neve e ventania, finalmente a luz dourada se infiltrava entre as copas das árvores, criando fachos quentes sobre a trilha úmida. Cassie caminhava devagar, sentindo os pulmões se expandirem de prazer.A trilha que levava até a cachoeira era a única que conhecia de cor. Hendrick e os outros sempre insistiam para que ela não se aventurasse sozinha, para não se perder por ali ou trombar com algum animal selvagem, mas Cassie se sentia sufocada dentro de casa. Precisava respirar. Precisava de espaço para organizar o que se passava em sua mente — e em seu coração.Enquanto avançava, o som do rio ao longe misturava-se ao estalo de galhos sob seus pés. Foi quando um vulto marrom surgiu entre as árvores. Cassie parou, o coração acelerando, até reconhecer os olhos verdes brilhando no rosto lupino.— Uriel… — murmurou, relaxando.O grande lobo marrom diminuiu o passo e, diante dela, mudou de forma. O corpo humano substituiu o animal num pi

O som da porta se abrindo fez Cassie erguer o rosto.Hendrick entrou, o casaco ainda úmido pela neve fina que começava a cair lá fora. Ele parou ao ver Matt sentado à mesa com ela — o olhar do médico parecia mais grave do que de costume.Matt foi direto, mas a voz veio calma, ponderada:— Fizemos o teste e já estou com o resultado, Hendrick.O alfa franziu o cenho, os olhos passando de um para o outro. — E então?Matt respirou fundo, desviando o olhar para Cassie antes de responder:— O teste deu negativo. Ela não está grávida.O silêncio que se seguiu pareceu comprimir o ar da sala. Cassie baixou os olhos, sentindo o nó subir à garganta.Por um instante, ela não soube o que sentir. Alívio, talvez. Tristeza, também. Como se algo que ela nem sabia que queria tivesse sido arrancado antes mesmo de existir.— Cassie — Matt começou, em tom gentil — não significa que não possa acontecer. Pode ter sido cedo demais.Ela apenas assentiu, sem conseguir falar.Hendrick se aproximou, parando atrá

O primeiro sol do ano nasceu com timidez.Não trazia o calor do verão, mas uma claridade suave, dourada, que parecia acariciar as folhas ainda úmidas da chuva da noite anterior. A vila, pela primeira vez em muitos dias, não acordou sob o peso do frio. Cassie abriu a janela e deixou o ar entrar — leve, fresco e cheirando a terra viva.O sol aparecia tímido entre as nuvens, como se quisesse espiar o novo ciclo que começava. Depois de semanas, aquele brilho suave parecia um presente da Dama da Lua — um pequeno milagre de calor e luz.Cassie aproveitou. Decidiu que aquele dia merecia ser celebrado.Na cozinha, cortou pedaços de torta de frutas, arrumou pães ainda mornos e algumas maçãs numa cesta de vime.Enrolou uma manta, e adicionou um punhado de morangos frescos que Nick havia guardado do estoque, ela chamou os gêmeos para um piquenique próximo à cachoeira.Tyler e Taylor não pensaram duas vezes; qualquer desculpa para escapar das tarefas da patrulha matinal era boa o suficiente — esp