Cassie voltou para a casa de Hendrick acompanhada pelo próprio alfa e por Kallias. O silêncio que reinava entre os três era quase palpável; apenas o som da terra sendo esmagada sob as botas marcava o ritmo da caminhada. Hendrick não se apressava. O olhar dele permanecia sério, pesado de perguntas que ele ainda não havia feito.Assim que entraram, Cassie sorriu com delicadeza.— Vou tomar um banho quente. — disse, antes de desaparecer pelo corredor.Hendrick ficou de braços cruzados, a testa levemente franzida. Ele virou-se para Kallias, o tom grave e contido.— Onde passaram a manhã?Kallias inspirou fundo, como se tivesse de reorganizar os próprios pensamentos antes de responder.— Na cachoeira. — murmurou, a voz seca. — Ela… foi nadar com os outros.Hendrick ficou imóvel por alguns segundos. O maxilar dele se contraiu, mas não havia acusação na postura, apenas aquela necessidade de entender. Kallias desviou os olhos, como se ainda estivesse processando o que havia visto.Aquela garo

Cassie estava mesmo magoada, era claro pelo tom de Mason e a escolha de palavras, até em seu olhar que ele a odiava, sem disfarces. Estava a chamando de vadia de uma maneira velada na frente de todo, como se ela fosse uma mulher fácil. Não era assim. Foi ele que a sequestrou, que a seguiu por meses e a buscou no trabalho, que nocauteou Peter e a jogou nos ombros como se não pesasse nada. Às vezes ela ainda lembrava daquela noite e como seu olhar era profundo quando disse que ela pertencia a eles, e se incluía nisso. Porém desde que chegaram, Mason somente se afastava. O beta parecia se incomodar em simplesmente dividir o mesmo cômodo. Foi por isso que Cassie passou a acordar cedo e buscar alguma tarefa para estar longe, ocupada. A noite em que foi buscar um copo de leite quente ainda estava fresca, Mason não a corrigiu quando ela sugeriu que sim, ele não gostava Ana sua presença. Até mesmo Uriel, que a olhava com desconfiança, nunca a tratou mal diretamente, apenas se mantinha mais

O caminho de volta até a casa dos Kent foi silencioso no início. O vento frio descia da montanha, atravessando a floresta e balançando os galhos das árvores. Cassie caminhava ao lado de Uriel, que carregava sem esforço a mochila de pano onde ela colocaria suas coisas. O barulho das folhas úmidas da chuva sob os pés era o único som que os acompanhava.Cassie mordia o lábio, querendo dizer algo. O silêncio a incomodava, mas também havia um peso no coração que precisava aliviar. Enfim, respirou fundo e falou:— Obrigada, Uriel. — Sua voz saiu baixa, mas firme. — Por ter me defendido hoje no almoço.O shifter a olhou de relance, a expressão séria como sempre.— Não fiz mais que o necessário — respondeu. — Mason passou dos limites.— Ainda assim... — Cassie insistiu, os olhos marejando sem que percebesse. — Foi importante pra mim. Eu sei que você desconfiava de mim quando cheguei. E eu também não sabia o que esperar de você. Mas hoje senti que… que nós nos entendemos de verdade.Uriel não

Cassie saiu da casa dos Lamart ainda com os dedos manchados de grafite depois de passar a manhã planejando com Amos e Kallias. O frio do início da tarde queimava as bochechas, mas ela se sentia aquecida por dentro. Gostava de ter algo para fazer, de se sentir útil dentro da matilha. O show e a festa de fim de ano estavam crescendo na mente dela como algo que poderia unir todos aqueles homens tão diferentes, e, de certo modo, quebrar o peso de um passado que ainda rondava cada um deles.Enquanto caminhava pelo caminho coberto de folhas úmidas, ouviu o som metálico de martelos e serras. A oficina dos White estava aberta, e a fumaça de ferro aquecido escapava pela chaminé. Cassie diminuiu o passo, curiosa. Lá dentro, Nick, Taylor e Tyler trabalhavam lado a lado, suados apesar do frio, as luvas grossas cobrindo as mãos calejadas. O cheiro de óleo e ferro a envolveu assim que entrou.— Oi! — ela chamou, batendo duas vezes na moldura da porta. — Posso interromper?Os três levantaram a cabe

A viagem fora longa. O dia inteiro anterior e a noite tinham sido consumidos na corrida pela floresta, Cassie agarrada ao dorso quente do lobo negro, sentindo o vento cortar sua pele e a respiração dela se ajustar ao ritmo das passadas firmes de Hendrick. Agora, quando a mata começou a rarear e as primeiras casas apareceram entre árvores baixas, seu coração acelerou. Era a primeira vez que saía da vila desde que chegara, meses atrás, e ainda que fosse apenas uma cidade pequena do interior do Oregon, a visão das ruas, das placas, da fumaça de padarias abertas lhe pareceu fascinante.Os lobos recuaram, voltando à forma humana em um ponto discreto. Cassie desviou os olhos, mesmo já estando acostumada com aquela nudez breve, antes de vestirem as roupas presas nas bolsas. Hendrick ajeitou a camisa preta no corpo, Bart passou a mão nos cabelos loiros rebeldes e Nick, como sempre, sorriu para ela como se não fosse nada demais estar de repente cercada por três homens impossivelmente bonitos.